O frente-a-frente entre Paulo Raimundo do PCP (Partido Comunista Português) e Rui Rocha da IL (Iniciativa Liberal) – com posições ideológicas completamente opostas – foi um debate calmo, “silencioso” e com respeito pelo oponente.
Salários, produtividade, privatizar, nacionalizar… – tudo conceitos sobre os quais Paulo Raimundo e Rui Rocha concordam em discordar.
Com ideias completamente opostas sobre a visão sócio-económica do país, os líderes da CDU (Coligação Democrática Unitária, que junta o PCP e “Os Verdes) e da Iniciativa Liberal estiveram frente-a-frente, esta quarta-feira, na RTP3, num debate calmo, sem gritos e sempre com respeito pelo adversário.
Na verdade, não foi apenas na discórdia que Paulo Raimundo e Rui Rocha estiveram em concordância: ainda que não necessariamente pelos menos motivos, os líderes dos dois partidos convergiram no fim das “taxas e taxinhas”.
Também da justiça, o comunista e o liberal se aproximaram, sobretudo, na ideia de que é preciso desburocratizar os processos judiciais, tornando-os mais rápidos.
Aqui, Paulo Raimundo começou logo por apontar que o problema central está na falta de meios e trabalhadores satisfeitos. O líder do PCP sublinhou que, para isso, é necessário aumentar “já” os salários “que agora é que fazem falta”.
Na resposta, Rui Rocha admitiu que a subida dos salários é importante, mas reforçou que primeiro é preciso criar condições para isso, e fazer acelerar a economia.
O candidato liberal criticou, então, a visão comunista que considera estar a contribuir para atrasar o país.
Rui Rocha lamenta que, por causa da influência que o PCP tem tido nas soluções sócio-económicas do país, a esse nível, Portugal tem sido ultrapassado por países que saíram da União Soviética.
Enquanto, a CDU apresenta a proposta de um aumento geral dos salários em 15% durante 2024, a IL pretende fazer subir em 5,5% de aumento salarial bruto por ano.
Privatizar vs. Nacionalizar
A CDU e a IL entendem os conceitos de “privatizar e nacionalizar” de forma muito diferente.
De um lado, os comunista continuam queixar-se das privatizações. Por seu turno, os liberais queixam-se que “têm é havido nacionalizações a mais”.
Rui Rocha deu como exemplo o estado atual de degradação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que, segundo o liberal, chegou a este ponto com a ajuda da “cegueira ideológica” do PCP.
O líder da IL defendeu o regresso das parcerias público-privadas (PPPs) que mostraram dar frutos em certas regiões do país: “Foi assim em Braga, no Beatriz Ângelo, em Loures, em Vila Franca de Xira (…) A cegueira ideológica do PCP neste caso levou ao prejuízo dos utentes, dos contribuintes e dos profissionais de saúde“.
Mas Paulo Raimundo saiu logo em defesa da sua visão, voltando aqui a referir que o que é preciso é criar condições para fixar e atrair os médicos para o SNS. E como? Com mais incentivos e melhores condições salariais: “Propomos uma majoração salarial de 50% para os médicos que decidirem exclusividade no SNS”.
O secretário-geral do PCP recusou a ideia de o Estado ser um “passador de cheques para o setor privado”, defendendo que o importante é salvar o SNS e não desistir dele em detrimento dos serviços privados.
Quanto às privatizações, Rui Rocha defendeu ainda a privatização da RTP e da Caixa Geral de Depósitos (CGD). Já Paulo Raimundo defendeu que todos os bancos para os quais entrou dinheiro dos contribuintes deviam ser nacionalizados.