O “roubo do século” foi desvendado graças a uma queixa sobre lixo num terreno

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Edgar Soto / Unsplash

Uma queixa de um dono de um terreno sobre lixo que não lhe pertencia levou a que a polícia desvendasse o gangue por trás de um enorme assalto no distrito dos diamantes de Antuérpia.

O roubo de uma caixa-forte em Antuérpia, na Bélgica, em 2003, é considerado um dos crimes mais ousados da história. O caso foi resolvido por uma reviravolta do destino quando uma reclamação sobre lixo atirado a um terreno levou a polícia até aos autores do crime.

A caixa-forte estava localizada no Diamond Center, no Distrito dos Diamantes de Antuérpia, uma área altamente vigiada e conhecida como a “capital dos diamantes” do mundo. Na manhã de 17 de fevereiro de 2003, a caixa-forte amanheceu aberta e saqueada, com mais de 100 dos 189 cofres individuais violados. Joias e diamantes no valor de 100 milhões de dólares foram roubados, e os ladrões desativaram todos os alarmes e levaram as fitas de vídeo das câmeras de segurança, deixando a polícia sem pistas, escreve a BBC.

Dias depois, um telefonema de August Van Camp, um dono de mercearia reformado, mudou o rumo da investigação. Van Camp reclamou de lixo atirado ao seu terreno, próximo de uma autoestrada. Entre os resíduos, a polícia encontrou documentos, papéis rasgados, títulos, pedaços de dinheiro e envelopes com a inscrição “Centro de Diamantes, Antuérpia”, contendo pequenos diamantes verdes.

Entre os papéis, havia um recibo de compra de um sistema de videovigilância no nome de Leonardo Notarbartolo, um comerciante de diamantes italiano com um escritório no Diamond Center e um cofre na caixa-forte. Notarbartolo, com cadastro criminal na Itália, foi detido mas não cooperou com a polícia. Outras evidências encontradas no lixo e nas gravações das câmeras de segurança levaram à identificação de Ferdinando Finotto, outro italiano com antecedentes criminais.

A investigação revelou que os autores do crime eram membros de um gangue chamado “Escola de Turim“, cada um com uma especialidade e um nome de código: o Génio (Elio D’Onorio), especialista em eletrónica e alarmes; o Monstro (Ferdinando Finotto), expert em abrir fechaduras; Ligeirinho (Pietro Tavano), cuja função exata no gangue era incerta; e o Rei das Chaves, nunca identificado, que recriou a chave de 30 cm necessária para abrir a porta da caixa-forte.

Os ladrões usaram métodos engenhosos para desativar os sistemas de segurança. Uma pequena câmera escondida gravava os guardas a digitar o código de segurança, transmitindo a imagem para um receptor dentro de um extintor de incêndio. O Génio usou uma placa de alumínio para manter as travas magnéticas unidas, impedindo que o alarme disparasse. Notarbartolo borrifou spray de cabelo nos sensores térmicos, temporariamente isolando-os.

Acredita-se que o gangue tenha construído uma réplica da caixa-forte para praticar o roubo. Quando a porta foi aberta, o Monstro contou os passos no escuro e desativou os sensores de segurança. Os cofres individuais foram abertos com uma ferramenta que puxava a fechadura para fora.

O ato que levou à descoberta dos autores do crime foi o descarte do lixo, que incluiu um recibo de uma mercearia italiana no Distrito dos Diamantes. As gravações das câmeras dessa mercearia levaram à identificação de Finotto. A polícia reuniu provas suficientes para acusar os quatro membros conhecidos do gangue, que foram julgados em 2005. Notarbartolo foi condenado a 10 anos de prisão, enquanto os outros três receberam penas de cinco anos. As joias e os diamantes nunca foram recuperados.

Leonardo Notarbartolo foi libertado condicionalmente em 2009, mas violou os termos ao viajar para a Califórnia, sendo preso novamente em Paris. Esta história, que poderia ser um guião de filme, permanece como um dos crimes mais intrigantes e engenhosos da história recente.

ZAP //

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