Robert McElroy, a “vingança infantil” do Papa contra Trump

Diocese de San Diego

O cardeal Robert McElroy

Papa Francisco nomeia crítico de Trump para dirigir Igreja católica nos EUA. Cardeal defende aproximação a migrantes e inclusão de LGBTQIA+.

O Vaticano nomeou esta segunda feira como representante da Igreja católica nos EUA o cardeal Robert McElroy, de San Diego, conhecido por uma abordagem pastoral aos migrantes e pela “inclusão radical” da comunidade LGBTQIA+, como alguns classificam a sua doutrina, conta o The Washington Post.

O cardeal defende também que a Igreja deve repensar o enfoque que dá à ideia de que quem tem relações sexuais fora de um casamento heterossexual está a pecar gravemente.

“O efeito da tradição de que todos os atos sexuais fora do casamento constituem objetivamente pecado grave tem sido o de centrar a vida moral cristã desproporcionalmente na atividade sexual“, escreveu na revista America. “Isto deve mudar”.

McElroy tem 70 anos e dirigiu, durante uma década, uma diocese na Califórnia, junto da fronteira com o México. Agora, vai substituir Wilton Gregory, o primeiro cardeal afro-americano nessa posição.

Num discurso de agradecimento ao Papa Francisco (que tem apoiado, contra a vertente mais conservadora da Igreja) pela nomeação, dirigiu-se à comunidade hispânica em espanhol e disse ainda que a comunidade afro-americana era “fundamental” para os EUA.

Referiu, ainda, um provável “contraste” que se avizinha entre o seu trabalho e a nova administração de Trump no que toca à imigração.

“A Igreja Católica ensina que uma nação tem o direito de controlar as suas fronteiras e o desejo da nossa nação de o fazer é um esforço legítimo”, disse.

“Ao mesmo tempo, somos sempre chamados a ter um sentido da dignidade de cada pessoa humana. Assim, os planos de que se tem falado a alguns níveis, no sentido de uma deportação maciça, indiscriminada e alargada a todo o país, seriam incompatíveis com a doutrina católica“, concluiu.

“Vingança infantil”

McElroy tem tecido críticas ao recém-eleito Donald Trump. Quando, na sua primeira tomada de posse, em 2017, o próximo presidente dos EUA se referira a refugiados como inimigos e anunciara promessas de deportação em massa, o cardeal tinha feito um apelo: “todos nós devemos tornar-nos disruptores” dessas ideias.

Mas as críticas não tardaram a chegar. O blogger Luigi Casalini, da Messa in Latino, classificou a escolha do Papa Francisco como “uma vingança infantil” por Trump ter recentemente nomeado Brian Burch para embaixador dos EUA no Vaticano – Brian Burch é ativista conservador e crítico do Papa Francisco.

“A nomeação de McElroy é uma mensagem muito clara”, avalia Massimo Faggioli, teólogo católico da Universidade de Villanova. É “uma resposta de alto nível à situação política atual na América, não há como negá-lo”.

Ainda assim, aponta outro pensador, Alejandro Bermudez, antigo diretor da conservadora Catholic News Agency, “o resultado final é que, apesar da declaração emblemática significativa da nomeação, a influência prática real de McElroy sobre as políticas de Trump será mínima“.

“Não consigo pensar num candidato melhor para o cargo na capital do país”, defende em contrapartida Tom Reese, analista do Religion News Service. “Ele é brilhante, articulado e claramente um grande apoiante de Francisco e apoia as suas preocupações de que a igreja deve estar do lado dos pobres e dos marginalizados.”

ZAP //

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