São os nossos “termómetros” e estão sob ameaça. Há grandes mudanças a acontecer nos rios

Cros2519 / Wikimedia

Rio Bombuscaro, no Equador

A construção de barragens tem impactado fortemente o funcionamento dos rios e dos ecossistemas que deles dependem, visto que os sedimentos já não estão a correr livremente até aos oceanos.

A forma e quantidade de sedimentos que as correntes dos rios arrastam têm um impacto significativo nos habitats aquáticos e também para os humanos, já que afetam os nutrientes dados aos solos agrícolas e colmatam os efeitos da subida do nível do mar causada pelas alterações climáticas.

Um novo estudo publicado na Science revelou que estes processos estão em risco e que a atividade humana causou mudanças sem precedentes no transporte de sedimentos pelos rios nos últimos 40 anos.

Os cientistas examinaram as mudanças a este transporte de sedimentos em 414 dos maiores rios do mundo entre 1984 e 2020 usando e imagens de satélite da NASA e arquivos digitais de dados hidrológicos, relata o SciTech Daily.

“Os nossos resultados contam uma história de dois hemisférios. O norte viu as maiores reduções no transporte de sedimentos nos últimos 40 anos, enquanto que o sul viu grandes aumentos durante o mesmo período”, revela Evan Dethier, autor principal do estudo.

A pesquisa revela que a construção de enormes barragens no século XX, maioritariamente no hemisfério Norte, reduziu o transporte global de sedimentos em 49%. No entanto, apesar desta redução a nível global, na América do Sul, em África e na Oceânia, o transporte aumentou 36% devido às mudanças na exploração da terra.

Estas mudanças estão maioritariamente relacionadas com a desflorestação para a criação de gado, para a exploração de óleo de palma ou para a construção de minas.

Os rios são os responsáveis pela criação de deltas, estuários ou planícies aluviais, mas a construção de barragens impede o transporte de sedimentos que os criam. Isto vai agravar ainda mais os problemas com a subida das águas nos países que vivem perto ou até abaixo do nível das águas do mar e o cenário dantesco agrava-se ainda mais já que há cada vez mais países do hemisfério Sul a seguir o exemplo do Norte a construir mais barragens.

“Os rios são indicadores muito sensíveis daquilo que estamos a fazer à superfície da Terra — são como um termómetro da mudança no uso do solo. Para os rios no hemisfério Norte, as barragens estão a bloquear o sinal dos sedimentos que chegam aos oceanos. Está bem estabelecido que há uma crise de perda de solo nos Estados Unidos, mas não a vemos no registo de exportação de sedimentos porque estão todos presos dentro das barragens, mas podemos ver os sinais nos rios do sul global”, explica o co-autor Carl Renshaw.

Dethier acrescenta que em muitos locais, “criamos o nosso ambiente em torno dos rios para o uso agrícola, industrial, de recriação, turismo ou transportes” e que as disrupções nos seus funcionamentos normais podem dificultar a nossa adaptação.

ZAP //

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