As diferenças sociais no acesso à da cultura continuam a ser acentuadas, especialmente quando se trata de visitas a galerias de arte ou no consumo de música erudita.
Os resultados do Inquérito às Práticas Culturais dos Portugueses realizado pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) realizado em 2020 foram finalmente conhecidos.
É a primeira análise que se debruça sobre estes fenómenos a nível nacional e pinta um retrato de que são os mais ricos, os mais educados e os mais novos quem mais desfruta da oferta cultural em Portugal.
O inquérito abrangeu 2000 pessoas com 15 ou mais anos, com as respostas recolhidas através de entrevistas na residência dos inquiridos entre 12 de Setembro e 28 de Dezembro de 2020.
As diferenças de classe social continuam a ser muito notórias, com os mais ricos a terem hábitos culturais mais enraizados. 51% dos operários e 42% dos trabalhadores de serviços afirmam que não têm conhecimentos para desfrutarem da oferta cultural, mas só 7% dos profissionais liberais e dos grandes empresários dizem o mesmo.
No escalão mais baixo de rendimentos, apenas 6% e 10% dos inquiridos foram a um museu ou ao cinema, respetivamente, no período estudado, contra 60% e 78% dos do escalão mais alto.
Uma situação que ajuda a contrariar esta tendência é o aumento do consumo cultural entre os jovens cujos pais não ultrapassaram o terceiro ciclo de escolaridade, mas que ganham estes hábitos depois de concluírem o ensino superior.
Destes, 14% já assistiram a concertos de música erudita, enquanto que a média nacional é 6%. 33% também já foram ao teatro, 49% a feiras do livro, 54% a museus, 64% ao cinema, 44% a festivais e festas locais, 41% a concertos ao vivo e 37% assistiram a espetáculos online. Já 70% leram pelo menos um livro.
Cerca de 71% dos inquiridos utilizam a internet, um valor abaixo da média europeia (87%). Neste exemplo, a infoexclusão também aumenta quanto mais baixo for o nível de rendimento e de instrução.
A pandemia levou a um aumento do uso da internet para o consumo cultural, sobretudo entre os jovens dos 15 aos 24 anos, com 40% a verem mais filmes e séries, 21% a lerem mais livros ou jornais e 16% a verem mais espetáculos de música.
A leitura continua a ser um calcanhar de Aquiles de muitos portugueses, com 61% dos inquiridos a afirmar que não leu um único livro impresso no último ano. Por comparação, em Espanha o valor é de apenas 38% e em 2007, quando foi feito o último inquérito à leitura em Portugal, o número era de 45%.
Uma razão para isto é a falta de estímulos à leitura no contexto familiar durante a infância, com 71% a revelar que os pais nunca os acompanharam a uma livraria. As escolhas dos livros são geralmente influenciadas pelas recomendações de outras pessoas, com 43% a serem determinadas pela família, amigos ou colegas de trabalho
Relativamente às visitas a monumentos e museus, 31% dos inquiridos foram a monumentos nos 12 meses anteriores ao início da pandemia, 28% foram a museus, 13% visitaram sítios arqueológicos e 11% visitaram galerias de arte.
A escolaridade é um factor diferenciador, com 70% dos inquiridos com estudos superiores a frequentar estes espaços contra apenas 11% dos que estudaram apenas até ao 3º ciclo. As razões para não se visitarem mais vezes estes espaços são a falta de tempo (39%), a falta de interesse ou preferência por outras atividades (38%) e o preço elevado (21%).
No ano anterior ao começo da pandemia, 41% dos inquiridos foram ao cinema, sendo que o valor entre os jovens entre os 15 e 24 anos chega aos 82%. Em relação aos espetáculos ao vivo, os festivais e as festas locais foram os preferidos (38%), seguindo-se os concertos de música ao vivo (24%), o teatro (13%), o circo (7%), a música clássica (6%), o ballet e dança clássica (5%) e a ópera (2%).