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Revelado o segredo de um pergaminho bíblico antigo (e foi um milagre digital)

Seales et al. Sci. Adv. 2016; 2: e1601247

O pergaminho bíblico En-Gedi após a conclusão do processo de “desempacotamento virtual”.

Um pergaminho antigo queimado num incêndio parecia impossível de ler, por se encontrar enrolado e chamuscado, mas uma técnica digital “milagrosa” permitiu revelar o seu conteúdo e deixou os cientistas “absolutamente jubilantes” perante a “importante descoberta” bíblica.

O chamado “pergaminho En-Gedi”, como é conhecido o manuscrito encontrado em 1970, está enrolado e chamuscado. Terá sido queimado num fogo que destruiu uma sinagoga no ano de 600 d.C. e parecia impossível aceder ao seu conteúdo – nem sequer havia como o tentar sem estragar por completo o artefacto.

Image courtesy of the Leon Levy Dead Sea Scrolls Digital Library, IAA. Photo: S. Halevi.

O pergaminho bíblico En-Gedi tal como ele existe realmente, enrolado e chamuscado.

O pergaminho bíblico En-Gedi tal como ele existe realmente, enrolado e chamuscado.

Contudo, uma equipa de investigadores dos EUA e de Israel conseguiu “ler” o texto guardado no pergaminho graças a uma técnica digital inovadora e desenvolvida recentemente, conhecida por “desempacotamento virtual” ou “desembrulhar virtual” – “virtual unwrapping” na designação em inglês.

Tão impressionante como o processo em si é a “importante descoberta” que ele revelou, conforme evidenciam os cientistas envolvidos no processo.

É que este pergaminho contém versos do Livro de Levítico, o terceiro livro da Bíblia, integrando assim, o chamado Pentateuco – ou a Tora como dizem os judeus – que constitui os primeiros cinco livros do Texto Sagrado, cuja autoria é atribuída a Moisés.

Estamos assim, a falar do “mais velho pergaminho Pentateucal em hebraico depois dos Manuscritos do Mar Morto”, sublinham os investigadores no artigo publicado na Science Advances.

Os Manuscritos do Mar Morto são uma colecção de textos bíblicos judaicos, descobertos entre 1940 e 1950 nas cavernas de Qumran, considerados o texto bíblico mais antigo, datando de antes do nascimento de Jesus.

O professor Michael Segal, da Universidade Hebraica de Jerusalém e co-autor da investigação, salienta à FoxNews que se pode dizer “de forma segura, que desde a conclusão da publicação do corpo de Manuscritos do Mar Morto, há cerca de uma década, o pergaminho do Levítico En-Gedi é o texto bíblico da antiguidade mais extensivo e significativo que já apareceu”.

Ainda não foi possível datar com precisão o pergaminho e o professor Brent Seales, do Departamento de Ciências Computadorizadas da Universidade de Kentucky, nos EUA, refere à FoxNews que é “complicado” definir a sua idade exacta.

Os dados da análise pelo método de rádio-carbono apontam para que será, “com alta probabilidade” do ano 300 d.C., mas a escrita dá a ideia de que pode ser ainda mais antigo.

Seales, que liderou a pesquisa, confessa à FoxNews que após a digitalização do frágil pergaminho, em Israel, ficaram “eufóricos” quando perceberam que tinha algo escrito.

E depois do processo de “desembrulhamento virtual” do manuscrito, que ocorreu nos EUA e que permitiu “ler” o conteúdo em hebraico com a ajuda de especialistas israelitas, os cientistas ficaram “absolutamente jubilantes”, refere o professor norte-americano.

No artigo publicado na Science Advances, os investigadores fazem referência ao desafio de “capturar a escrita trancada em documentos antigos deteriorados” e evidenciam que a técnica digital inovadora “permite que artefactos textuais sejam lidos completamente e não invasivamente”.

SV, ZAP

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