Uma equipa de investigadores zarpou rumo ao continente afundado da Zelândia e reuniu evidências que podem ajudar a explicar o seu violento nascimento.
Há três anos, a identificação da Zelândia como o sétimo continente valeu manchetes por todo o mundo.
Agora, os resultados de uma expedição científica de perfuração, publicados recentemente na revista científica Geology, revelam que o continente da Zelândia, amplamente submerso, que se estende por cinco milhões de quilómetros quadrados abaixo do sudoeste do Oceano Pacífico, foi moldado por dois eventos tectónicos.
Primeiro, foi arrancada da Austrália e da Antártida, e depois foi esculpida por forças que deram início ao Anel de Fogo do Pacífico.
A Zelândia tem uma geografia incomum para um continente. Mais de metade da superfície dos outros seis continentes da Terra é composta de terras baixas e mares rasos, e possui cadeias de montanhas relativamente estreitas e encostas continentais íngremes no oceano profundo.
Por outro lado, a Zelândia está oculta principalmente sob mais de um quilómetro de água e pode ser classificada como mais de 90% da inclinação continental. Isto faz com que seja um desafio explorá-la.
A primeira expedição de perfuração científica a ser realizada na região em que agora conhecemos a Zelândia foi realizada em 1972 entre a Austrália, Nova Zelândia e Nova Caledónia. Os resultados sugeriram que as forças tectónicas se esticaram e afinaram a crosta da Zelândia até que ela fosse arrancada do antigo supercontinente Gondwana há cerca de 85 milhões de anos, na era dos dinossauros. Isto criou um oceano profundo: o mar da Tasmânia.
As evidências continuam convincentes de que esta é, pelo menos, parte da resposta de como a geografia da Zelândia se formou. Porém, investigações detalhadas durante as décadas de 1990 e 2000 sugerem outros fatores.
Anel de Fogo do Pacífico moldou a Zelândia
Em 2017, uma expedição de nove semanas no sudoeste do Pacífico, com 32 cientistas a bordo do navio de pesquisa JOIDES Resolution, tinha como objetivo desvendar a razão pela qual a Zelândia é tão diferente dos outros continentes.
Os resultados publicados foram extraídos desta expedição 371, onde se recolheram novas amostras e se procurou testar a hipótese de que a formação do Anel de Fogo do Pacífico desempenhou um papel fundamental na formação da Zelândia.
Para tal, foram recolhidos núcleos de sedimentos de até 864 metros abaixo do fundo do mar em seis locais distantes da terra ou águas rasas. Foram usados fósseis de três dos locais para mostrar que o norte da Zelândia se tornou muito mais raso e provavelmente tinha áreas de terra entre 50 e 35 milhões de anos atrás. Naquela época, outros dois locais ficaram submersos em águas mais profundas e, de seguida, toda a região diminuiu um quilómetro adicional à sua profundidade atual.
O Anel de Fogo do Pacífico é uma zona de vulcões e terramotos que correm ao longo das costas oeste da América do Norte e do Sul, além do Alasca e do Japão, e depois pelo Pacífico ocidental até à Nova Zelândia. A violenta atividade geológica nesta zona reflete uma inquietação mais profunda nos limites das placas tectónicas, causada por “processos de subducção” — onde uma placa tectónica converge para outra e afunda de volta na terra.
Sabe-se que o Anel de Fogo do Pacífico formou-se há cerca de 50 milhões de anos, mas o processo permanece um mistério. Os especialistas propõe um “evento de rutura por subducção” — um processo semelhante a um grande terramoto de movimento lento — espalhado por todo o Pacífico ocidental naquela época.
Além disso, sugerem que este processo ressuscitou falhas antigas de subducção, que permaneceram adormecidas por muitos milhões de anos, mas foram preparadas para começar a mover-se novamente.
Este conceito é uma ideia nova e pode ajudar a explicar uma série de observações geológicas diferentes. O evento de rutura da subducção incluiu fenómenos geológicos únicos sem comparação nos dias de hoje, e pode ter havido menos de 100 eventos maciços desde a formação da Terra. A nova evidência sobre a Zelândia mostra que estes eventos podem alterar drasticamente a geografia dos continentes.
ZAP // The Conversation