Dia Mundial do Médico da Família originou celebração do progresso por parte do bastonário. António Branco tem outros progressos para contar, no Alentejo.
19 de Maio é o Dia Mundial do Médico de Família e o bastonário da Ordem dos Médicos aproveitou a data para sublinhar “o papel central dos médicos de família na prestação de cuidados de saúde para toda a população”
Miguel Guimarães quis “celebrar o progresso” verificado na medicina geral e familiar e elogiou a capacidade dos médicos de “resiliência, humanismo e solidariedade”, mesmo “nos momentos mais difíceis que têm atravessado nos últimos anos de pandemia”.
Na mesma mensagem, o bastonário lembrou que 1.3 milhões de portugueses não têm médico de família. “Um número que tem vindo a crescer sistematicamente, em rumo contrário às promessas políticas”, avisou.
João Semana no Alentejo
Quem tem um médico de família são as pessoas de três aldeias perto de Portel no Alentejo: António Branco é do Porto mas anda entre Monte do Trigo, Oriola e Vera Cruz.
A rádio TSF cruzou-se com António, profissional há 17 anos, que faz lembrar João Semana: “Trabalhar aqui é muito giro. Sempre quis ser médico na aldeia. A personagem João Semana tinha a sua piada, pelo tipo de medicina que fazia: estava sempre de serviço, era sempre chamado a todo o lado e a qualquer hora. Isso comigo não acontece, mas eu não vivo em Portel”.
Ser médico de família, sobretudo neste contexto, é ser especialista em diversas especialidades: “Um médico de família numa aldeola como Vera Cruz tem de ser obstetra, ginecologista, ortopedista, cardiologista…”
As tecnologias apareceram e ajudaram: “Há utentes, mesmo idosos, a enviarem-me fotografias de gargantas e a pedirem para eu ver os pontos brancos que tem na garganta, para ver o que se passa”.
As tradições não desapareceram e uma delas é oferecer prendas (como ovos) ao médico, mesmo que a lei proíba essas ofertas.
Rejeitar é complicado: “Dizer que não a uma pessoa de 84 anos que andou às seis horas da manhã a apanhar os ovos das galinhas todas, para ter dúzia e meia de ovos para dar ao senhor doutor, alguém que vai com um saco na mão apesar de lhe dizerem para não ir e que quer dar e não consegue… Dizer-lhe que não é muito mau“.
“Aliás, já me aconteceu uma senhora dizer “ó doutor, olhe que os ovos são bons, foram apanhados hoje!”, relatou.
António Branco contou ainda que a falta de locais para realização de alguns exames específicos é um problema: “Para um velhote de 87 anos que nem gosta de sair de casa para ir à consulta, sair e ir para Évora, para o meio da confusão, fazer três exames… É um caos”.