Romualda Fernandes é agora a única negra na AR. Culpa é da dinâmica interna dos partidos

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Mário Cruz / Lusa

A pequena representação parlamentar de pessoas negras em Portugal deve-se à dinâmica dos partidos, que não os colocam em lugares elegíveis nas listas.

Com a saída de Joacine Katar Moreira do Livre e a perda de deputados do Bloco de Esquerda nas legislativas, que levou à saída de Beatriz Gomes Dias do Parlamento, a Assembleia da República tem agora apenas uma das três mulheres negras que fizeram história ao serem eleitas em 2019 — Romualda Fernandes, deputada do PS.

De origem africana, há ainda Gabriel Mithá Ribeiro, deputado do Chega que nasceu em Moçambique, lembra o Público.

Para a deputada socialista, a presença de três mulheres negras “fez diferença na representação da pluralidade da população portuguesa”. Beatriz Gomes Dias aponta como exemplos a apresentação de propostas sobre a restruturação do SEF, a criação da Agência para as Migrações e Asilo e a revisão da lei da nacionalidade.

Romualda Fernandes explica que a pequena representação de negros na política se deve à “dinâmica dos partidos” e à “participação e envolvimento de pessoas dessas comunidades nesses partidos”.

Luzia Monis, socióloga e presidente da Plataforma para o Desenvolvimento da Mulher Africana (PADEMA), a razão deve-se à organização das listas pelos partidos, já que não colocam candidatos negros em lugares elegíveis, e também à falta de exposição mediática para este grupo. “Entre barões e baronesas, não há negros”, aponta.

A escolha de Joacine Katar Moreira como cabeça de lista pelo Livre em Lisboa também colocou alguma pressão sobre os outros partidos que se assumem como aliados na luta contra o racismo, mas que não têm militantes negros em lugares de destaque, considera Luzia Monis.

O politólogo André Freire, a eleição destas deputadas teve um grande peso simbólico por pertencerem a grupo historicamente afastado do poder. Mas será que, na prática, a atenção dada à representação de minorias faz alguma diferença?

Em Portugal ainda não há estudos específicos, mas um estudo de 2020 de André Freire, Ana Espírito-Santo e Sofia Serra-Silva notou que a diferença entre ter deputados homens ou mulheres apenas se reflecte no debate das questões de género ou de temas sobre os quais os partidos ainda não têm uma posição clara. Nos restantes assuntos, a orientação partidária é que define as votações, e o mesmo acontece com outras minorias.

Tanto Beatriz Gomes Dias como Romualda Fernandes acreditam que é importante a recolha de dados demográficos que tenham em conta a etnia para que se possam criar “políticas certeiras”.

ZAP //

14 Comments

  1. As pessoas devem ser eleitas pelo seu mérito e não por serem da minoria A ou B!
    devemos ser representados pelos melhores e não pelos mais coloridos e diversos.
    Mas… fico espantadíssimo em que “Tanto Beatriz Gomes Dias como Romualda Fernandes acreditam que é importante a recolha de dados demográficos que tenham em conta a etnia…” pois vindo de qualquer outras pessoas seria visto como uma grave ofensa e materialização de discriminação! Foram abolidos registos desses para evitar discriminações! Lembremos ainda que discriminação positiva, continua a ser discriminação!
    Uma ou nenhuma deputada negra, não é o importante, o importante é que estejam os competentes e eleitos… ou melhor… o importante seria os mais competendes de entre os eleitos!

  2. O LIVRE não põe lá de novo a tal Joacine que gagueja quando quer e que deu vários espetáculos de racismo na anterior legislatura? O Mamadou, patriota como é, também seria uma escolha acertada entre os partidos com ideologias de esquerda! Mas se mesmo assim faz tanta diferença faltarem lá gentes de cor negra, nada como procurar voluntários entre os adeptos e pintá-los de negro, sempre disfarçaria um pouco a falta destes! Para mim não me incomoda a cor, mas sim a falta de competência de muitos que por lá se passeiam!

  3. “Beatriz Gomes Dias aponta como exemplos a apresentação de propostas sobre a restruturação do SEF, a criação da Agência para as Migrações e Asilo e a revisão da lei da nacionalidade”

    É quase como se os negros tivessem interesses distintos da maioria da população e puxassem a brasa à sua sardinha. Deveras estranho, uma vez que se diz por aí que a raça não existe e somos todos iguais.

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