Regresso a casa no Líbano é só para quem a tem: “foi-se tudo” e caminha-se sobre destroços

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Wael Hamzeh / EPA

Mulheres libanesas veem prédios destruídos em Beirute

Ao sul do Líbano, que faz fronteira com Israel, regressam muitos deslocados da guerra que dura há 14 meses, mas tem agora oito semanas de cessar-fogo. No entanto, ao voltar a casa, houve que só encontrasse memórias. E destroços.

Milhares de pessoas perderam as suas casas no Líbano, e não foi apenas junto à fronteira com Israel: ainda que a maioria dos ataques tenha atingido o sul do Líbano, onde viviam cerca de um milhão de pessoas antes da escalada do conflito, há mais de um ano, em Beirute também se veem escombros por toda a parte.

No coração do subúrbio sul de Beirute, fortemente bombardeado, Rayane Salman, entrevistada pela BBC, olha para uma pilha de destroços que foram um dia a sua casa.

A minha família passou a vida a construir isto. Vivemos aqui durante 25 anos e agora desapareceu tudo“, diz a jovem de 25 anos.

Não foi a única. A Dahieh, começam a chegar outras famílias que querem inspecionar o que resta das suas casas, ainda que o governo israelita tenha alertado para que não o fizessem.

Num post no X, o porta-voz árabe do exército israelita (as IDF), Avichay Adraee, disse aos residentes libaneses esta madrugada que estão “proibidos de se dirigirem para as aldeias que as IDF ordenaram que fossem evacuadas ou para as forças das IDF na área”, por uma questão de “segurança”, acrescentando que as IDF informarão “quando for seguro regressar a casa”.

Neste bairro, de onde a BBC reporta as consequências do cessar-fogo, pelo menos oito edifícios foram destruídos, todos de vários andares, que costumavam ser casa de dezenas de famílias como a de Rayane, que perderam tudo.

Do outro lado, Hezbollah também deixou lembranças

Da aldeia israelita de Menara, o som de tiros vindos do outro lado da fronteira marcou o primeiro dia de cessar-fogo: tiros de metralhadora israelitas, claros e regulares, ecoavam no kibutz (aldeia israelita) vazio.

As forças israelitas estavam a responder a suspeitas de infiltrações do Hezbollah, disseram os residentes. O grupo libanês deixou a sua marca nos israelitas.

A aldeia de Menara fica frente a frente com outra aldeia, libanesa, Meiss el-Jabal. E sofreu tantos danos como o Líbano: do lado judeu, três quartos dos edifícios foram destruídos, assim como as redes de eletricidades, esgotos e gás.

O telhado da cozinha comunitária, que foi abatido, é agora um monte de betão e metal. Casa após casa, os estilhaços e os buracos dos mísseis anti-tanque deixaram as casas queimadas e inabitáveis.

De acordo com os repórteres da BBC, a reparação deste kibutz levará meses. Mas a reconstrução da confiança pode levar ainda mais tempo.

 De onde se devem retirar as tropas?

Um total de 10 mil soldados do exército libanês devem ser enviados para o sul para iniciar o trabalho de desmantelamento, à medida em que Israel retira as suas forças de uma “forma faseada” num período não superior a 60 dias. É o que diz o documento do cessar-fogo.

Aponta-se também que “as forças militares e de segurança oficiais do Líbano serão os únicos grupos armados, armas e material conexo destacados na zona sul do rio Litani”.

Nessa região, ainda que não se mencione o nome do Hezbollah no documento, este assinala que o governo libanês deve por termo à entrada não autorizada de armas no Líbano, desmantelar as instalações de produção de armas não autorizadas, “todas as infra-estruturas e posições militares e confiscar todas as armas não permitidas”.

A força de manutenção da paz da ONU (Unifil) que já se encontra destacada na zona, e atua principalmente a norte do Litani, em torno da aldeia de Yohmor, e a leste da cidade de Hasbaya.

ZAP //

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