A imprensa holandesa ressalva os esforços de Mark Rutte, mas critica a falta de resultados concretos. A reeleição do primeiro-ministro holandês pode estar em risco.
O Conselho Europeu aprovou esta terça-feira um acordo para retoma da economia comunitária pós-crise da covid-19. Após cinco dias e quatro noites, os líderes europeus encontraram uma fórmula para distribuir pelas economias europeias 1,84 biliões de euros.
Muitos apontam que a demora nas negociações teve um nome: Mark Rutte. O primeiro-ministro holandês deixou evidentes as visões distintas do projeto europeu que os vários Estados membros têm.
Rutte liderou um bloco dos países ‘frugais’ – Holanda, Áustria, Suécia e Dinamarca -, que rejeitava a mutualização da dívida europeia e às transferências diretas entre países. A sua oposição não invabilizou a solução desenhada para garantir um financiamento “rápido e robusto”, capaz de responder às necessidades urgentes dos Governos e agentes económicos.
Embora seja visto como o líder das nações ‘frugais’, no seu país natal muitos acreditam que o chefe do Executivo não foi ‘frugal’ o suficiente. Rutte conseguiu alterar o saldo de subvenções e empréstimos no fundo de recuperação da UE, um desconto na contribuição anual da Holanda para o orçamento europeu e rendimento extra de direitos alfandegários.
No entanto, os holandeses consideram que esta foi uma vitória magra. “Rutte ganhou algumas batalhas, mas perdeu a guerra para o imperialista francês Macron”, escreveu o correspondente em Bruxelas da revista semanal EW. A publicação elogia, todavia, os esforços feitos por Rutte.
“O primeiro-ministro vendeu cara a pele, conseguiu alguma vantagem financeira para o nosso país e também adquiriu o apelido de ‘O Senhor Não’“, escreveu, por sua vez, o De Telegraaf, citado pela revista Sábado. “Os países do Sul foram capazes de obter benefícios financeiros significativos” num acordo que, segundo o jornal de maior circulação na Holanda, “é historicamente mau”.
O diário de centro-esquerda Volksrant comenta a boa prestação de Rutte nas negociações, mas realça que “para manter a União unida política e economicamente era necessário mostrar uma forma tangível de solidariedade com o duro golpe no sul europeu”.
“Os países do Norte da Europa queriam, com razão, tornar as subvenções dependentes de reformas, especialmente porque esses mesmos países fizeram cortes dolorosos após a crise financeira de 2008”, lê-se no diário holandês.
O POLITICO escreve que uma sondagem recente constatou que 61% dos eleitores holandeses não apoiavam o plano de recuperação da UE proposta pela Comissão Europeia (antes de ser alterado). Apenas 4% disseram estar totalmente satisfeitos.
O líder da extrema direita do Partido pela Liberdade, Geert Wilders, disse que o acordo de terça-feira foi um “resultado horrivelmente mau”. Outro partido de extrema-direita, o Fórum para a Democracia, disse que demasiado dinheiro era destinado aos países sulistas e denunciou o excesso de gastos no orçamento.
Em declarações ao diário holandês NRC, a deputada Anne Mulder disse que o primeiro-ministro “prefere não interferir nas pensões da Itália, mas os italianos estão a forçar-nos a fazê-lo. Como a Comissão Europeia não está a fazer o seu trabalho, Mark Rutte precisa de ser o bicho-papão para fazer cumprir essas reformas”.
O resultado das negociações pode ter um efeito devastador no futuro de Mark Rutte. O atual primeiro-ministro disse que só vai decidir em dezembro, a três meses das eleições, se vai continuar como líder do partido e, consequentemente, recandidatar-se ao cargo.
Rutte mais moderado e menos forreta que a população holandesa. Na altura que a Holanda (Paises Baixos) se enchem com agua do Mar do Norte e eles precisarão da solidariedade dos países secos, vamos ver.
A Holanda, embora maior beneficiário líquido da UE, mesmo assim conseguiu exprimir mais uns trocos para um país tão rico que até precisam de esconder os fundos de pensões acumulados, para não haver inflação da moeda Euro. Corsários por natureza (Piet Heijn) e vivendo como pulga da artéria económica Alemã, tiveram ainda a sorte de viver em cima de uma bolha de Gás Natural, não se percebe o que eles querem com tanta riqueza, sendo eles frugais.
Em contrapartida e olhando só para Portugal, tenho também as minhas dúvidas acerca do saco que vai albergar o bolo enorme deste Plano Marshall. Até parece que há sempre alguns elementos no poder apenas a espera do aparecimento de algum evento como este, para ‘aproveitar’ as arrestes que caiem enquanto se lima a execução dos gastos.
Só acho que as minhas razões e medos são os mais realistas.
Ainda acerca da ‘re-industrialização’ da Europa e com o clima neo-liberal que manda na UE em mente, será impossível isto pegar sem proteccionismo do mercado interno.
Então, Portugal poderia voltar a produzir tachos de alumínio e aguidares, etcetera 🙂
Pouco a pouco começa a aparecer um linha opositora ao Sul da Europa…
Estes hipócritas holandeses, mamam à fartasana os impostos de empresas do sul da Europa que estacionam nesse pais. O equilíbrio fiscal na Europa é mandatário e nos os prejudicadas devemos começar a dar os murros na mesa.