As redes sociais podem afetar severamente a maneira como se conduzem experiências médicas. A comparação de resultados entre voluntários, por exemplo, pode influenciar os resultados obtidos.
Testar novos tratamentos farmacêuticos é um processo complicado. Muitas vezes, os participantes têm preferências ou esperanças, seja sobre o que o teste deve medir ou sobre qual deve ser o resultado.
Os pacientes frequentemente inscrevem-se no estudo em busca de acesso a medicamentos experimentais, enquanto os médicos geralmente têm estimativas sobre qual tratamento funcionará melhor. O patrocinador só irá recuperar milhões de investimentos no desenvolvimento de medicamentos se o teste for bem sucedido.
Certificar-se de que estas preferências não influenciam o resultado da experiência é crucial para a sua credibilidade. Por esta razão, os tratamentos são frequentemente mascarados de modo a que nem os médicos nem os pacientes do estudo saibam quem está a receber quais tratamentos.
No entanto, na era da Internet e das redes sociais, os participantes do estudo podem facilmente encontrarem-se uns aos outros — através de grupos de pacientes, por exemplo — para discutir e comparar tratamentos e resultados, potencialmente revelando a experiência. Um estudo publicado em janeiro deste ano na revista Nature expõe este ponte de vista.
Desde a década de 1960, o ensaio clínico aleatorizado (RCT) tem sido o modelo experimental padronizado para avaliar a segurança e a eficácia de novos medicamentos. A experiência compara os resultados de um grupo de pacientes que recebem a nova droga, com os de um grupo de pacientes semelhantes que não recebem. Este é usado para neutralizar ou até eliminar efeitos que poderiam influenciar os resultados.
Se o estudo comparar um novo medicamento e um placebo, por exemplo, os dois tratamentos devem idealmente ser idênticos. Desta forma, os participantes não têm maneira de saber se estão realmente a receber um tratamento real ou não.
Se esta transparência falhar e houver correlação sistemática entre as preferências do paciente ou do médico e o resultado do estudo, a experiência será considerada tendenciosa. Embora normalmente não haja provas, é muito provável que a atribuição de de tratamentos não tenha sido neutra: os pacientes podem ter trocado tratamentos ou os médicos podem ter atribuído o seu medicamento favorito a um determinado grupo de pacientes.
Se os pacientes pudessem comparar as suas próprias experiências e dados de saúde, seria muito mais fácil adivinhar o próprio tratamento: se eles estivessem a receber tratamentos diferentes, os efeitos provavelmente também seriam diferentes.
As redes sociais podem agora transformar a exceção na regra. As comunidades de pacientes cresceram muito na Internet, variando de simples listas de discussão ou grupos de Facebook a sites dedicados, como o PatientsLikeMe.
Alguns podem olhar para isto como uma vitória dos pacientes sobre os interesses farmacêuticos, permitindo que todos os voluntários tenham acesso ao medicamento verdadeiro e não ao placebo. Mas o problema com médicos ou pacientes a terem preferências sobre tratamentos ainda permanecerá.
ZAP // The Conversation