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Red Bull e a regra “50+1”. A fórmula do sucesso do clube mais odiado da Alemanha

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O RB Leipzig detém o título de clube mais odiado da Alemanha, devido ao corporativismo com que é regido. Todavia, o clube tem sido um verdadeiro exemplo de sucesso.

“Red Bull dá-te asas” é um slogan bastante familiar a todos nós. Criação do bilionário Dietrich Mateschitz, a bebida energética nasceu na Áustria, em 1987. Inicialmente, a Red Bull foi banida na Alemanha, o que elevou bastante a sua popularidade. Jovens germânicos atravessavam a fronteira só para provar a “bebida proibida”.

Hoje, a Red Bull é mais do que uma bebida energética. A marca apoia e investe em vários tipos de desportos. No futebol, a Red Bull possui seis equipas: Red Bull Salzburgo, New York Red Bulls, Red Bull Ghana, Red Bull Brasil, Red Bull Bragantino e, finalmente, RB Leipzig.

O RB Leipzig tornou-se um verdadeiro exemplo de sucesso no futebol europeu. O clube foi fundado em 2009 com o nome RasenBallsport Leipzig, fugindo subtilmente ao nome da marca. No estatuto da Federação Alemã de Futebol (DFL), é proibido que uma equipa tenha o nome de uma marca, bem como um emblema que remeta diretamente para o logótipo da empresa.

Em pouco mais de dez anos, a equipa escalou da 5.ª divisão alemã até à Bundesliga. E mais: depois de terminar o campeonato em segundo lugar em 2016/17, o clube foi pela primeira vez à Liga dos Campeões. Acabou por não passar da fase de grupos, seguindo para a Liga Europa, onde se ficou pelos ‘quartos’.

Na fase de grupos, os germânicos apanharam o Benfica, com quem empataram um e venceram o outro encontro.

Muito mudou num par de anos. Nesta época que passou, o Leipzig quebrou a barreira do impensável e atingiu as meias-finais da Liga dos Campeões. O jovem emblema acabaria por cair da competição, derrotado pelo Paris Saint-Germain.

Mas como conseguiu o RB Leipzig crescer tanto em tão pouco tempo? Para além do óbvio investimento da marca de bebidas energéticas, o clube rege-se por uma rígida filosofia, apostando maioritariamente num plantel recheado de juventude e talento. Basta olhar para o seu treinador.

Julian Nagelsmann, também conhecido por ‘Baby Mourinho’, tem apenas 33 anos, mas já mostrou todo o seu valor no futebol europeu. Nagelsmann foi a mente responsável pelo sucesso do Hoffenheim nos anos recentes. Em 2017/18, terminou no terceiro lugar da Bundesliga, garantindo a qualificação para a Liga dos Campeões.

Em Leipzig, o técnico germânico sentiu-se velho ao lado dos seus jogadores. Com uma média de idades de 22,7 anos, o ‘Die Bullen’ tem um dos planteis mais jovens da Europa.

Da defesa ao ataque, o Leipzig reforçou-se com um conjunto de atletas novos e com muito talento bruto. Muitos deles custaram uma ‘ninharia’ e continuam ao serviço do clube, à medida que este vai crescendo a olhos vistos.

O Leipzig também contou com a colaboração do outro emblema mais notável da Red Bull, o Salzburgo.

Joshua Kimmich, Naby Keïta e Timo Werner são três exemplos de jogadores que passaram pelo emblema da Red Bull, mas que devido à sua qualidade acabaram por se aventurar noutras andanças. O último, o avançado internacional alemão Timo Werner, rumou ao Chelsea este verão, mediante o pagamento de uma verba de 53 milhões de euros.

O clube mais odiado da Alemanha

Desde cedo, o RB Leipzig enfrentou uma enorme onda de protestos na Alemanha. Muitos consideram que os valores do futebol germânico ficaram em xeque em virtude do oportunismo comercial. Em alguns casos, os adeptos rivais recusaram frequentar os jogos no estádio do Leipzig, a Red Bull Arena, com capacidade para cerca de 43 mil pessoas.

Num caso mais extremo, os adeptos do Dynamo Dresden até atiraram uma cabeça decapitada de um touro para o relvado.

A origem deste ódio pelo “corporativismo” do clube está enraizada na história do futebol alemão. Até 1998, o investimento privado era estritamente proibido, com todos os clubes a não terem fins lucrativos. Desde esse ano, os clubes que tenham investimento privado devem obedecer àquela que é conhecida como a regra “50+1”.

A regra determina que para um clube competir na Bundesliga tem de deter a maioria do capital do clube (ou seja, 51%). Idealmente, isto impede que investidores estrangeiros injetem dinheiro e assumam as rédeas do clube.

Há exceções: o Bayer Leverkusen (da farmacêutica Bayer) e o Wolfsburgo (da fabricante automóvel Volkswagen). Também o Hoffenheim, cujo dono já investe há muitos anos no clube, usou uma brecha permitida pela liga para comandar o ‘Hoffe’.

Enquanto, por exemplo, o Bayern Munique tem mais de 290 mil sócios, o RB Leipzig tem apenas 750. Os sócios do emblema da Baviera pagam, sensivelmente, entre 30 e 60 euros por ano. Por sua vez, os sócios do Leipzig têm de pagar uma ‘joia’ de 100 euros de entrada, mais 800 euros por ano.

Embora a regra “50+1” seja cumprida pelo Leipzig, a maioria dos sócios do clube são empregados da Red Bull. Foi esta a maneira encontrada pela direção do clube para se esquivar à regulamentação da federação alemã.

DC, ZAP //

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