Olhar só para os partidos populistas é “perder o foco”. Análise chega da Alemanha, onde se avisa: o verdadeiro problema é outro.
Donald Trump está na corrida à presidência dos Estados Unidos da América. E provavelmente vai mesmo regressar à Casa Branca, já que é o favorito para vencer as eleições em Novembro.
Jordan Bardella, candidato do partido de Marine Le Pen, ganhou a primeira volta das eleições em França, e deve ser o próximo primeiro-ministro francês.
Trump e Bardella/Le Pen são três dos rostos mais mediáticos de uma direita radical, populista. Há outros exemplos de extrema-direita que vão crescendo, como em Portugal, Alemanha, Áustria ou Países Baixos.
Até se fala numa união improvável entre Olaf Scholz, chanceler da Alemanha, e Emmanuel Macron, presidente de França. Discordam em quase tudo, mas poderiam juntar-se para enfrentar a extrema-direita.
Mas dirigir o discurso só em direcção à extrema-direita é “perder o foco”, lê-se no Handelsblatt.
Sven Prange, especialista em ciência política e comunicação, avisa que o que está (mesmo) a correr mal nas democracias liberais do Ocidente – e que está a alimentar os movimentos populistas de direita – não são os eleitores que se desviaram ou os políticos sem escrúpulos destes partidos.
O verdadeiro problema no Ocidente é este: os políticos do centro liberal “exageram-se a si próprios e à sua importância e, ao fazê-lo, ignoram o facto de terem perdido o poder de persuasão e a capacidade de mobilização no seio da sociedade”.
Os problemas não são Trump, Le Pen ou Meloni. São Biden, Macron e Scholz.
O real problema, continua o artigo, acaba por ser o “fracasso da classe média, ao longo dos anos, em produzir representantes políticos de topo nos quais as pessoas confiam para mudar e moldar as coisas”.
Exemplos: ainda antes de ser eleito, Joe Biden era visto como um mal menor em relação a Donald Trump; Emmanuel Macron só terá vencido porque avisou que, se não fosse ele, o Governo de França seria perigoso; Olaf Scholz nunca foi propriamente o político mais popular na Alemanha, mas a alternativa era pior.
O voto de protesto repete-se em muitos países porque os actuais líderes políticos nunca convenceram realmente a maioria dos eleitores e apresentam más políticas. Os eleitores olham para o voto de protesto como um meio eficaz.
O especialista alemão defende mudanças nas políticas, na comunicação, mas ainda no recrutamento dos seus dirigentes; e mais empenho. Isto numa “maioria liberal-burguesa” que continua a reinar em tantos países.
“O que não ajuda é insultar os eleitores, continuar como sempre e esperar que isso melhore as coisas”, avisa.
Isto é o que os “conspiracionistas” se têm fartado de dizer
Obrigado, disse tudo.