“Pânico”. Biden foi um desastre no debate contra Trump (e pode não ser candidato)

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MICHAEL REYNOLDS/EPA

Debate tira-teimas: aos 81 anos, o presidente dos EUA mostrou-se frágil, desorientado e incapaz, para muitos, de ocupar o cargo. Democratas “não sabem se há algo a fazer para salvar isto” — e já preparam novo candidato.

Acabaram as dúvidas para muitos na madrugada desta quinta-feira: aos 81 anos, o Presidente dos EUA, o mais velho da história norte-americana, não está apto para liderar a nação.

Desorientado, pálido, de voz rouca e fragilizada e com um discurso hesitante e, muitas vezes, sem fazer qualquer sentido, Joe Biden mostrou que não está apto para ser candidato, naquele que está ser considerado um dos piores — se não o pior — momento da sua carreira política.

Foram 90 minutos de massacre, com Biden a perder constantemente a sua linha de pensamento.

Um dos vários momentos quase duros de assistir foi quando o presidente ficou claramente baralhado enquanto falava da Saúde. Discutia-se a pandemia quando, quase do nada, Biden deixa de falar, cabisbaixo, e termina a resposta com “finalmente vencemos o Medicare” — uma referência, desposicionada ao programa de cuidados de saúde para idosos.

Enquanto Biden descarrilava, a sua campanha dizia aos jornalistas que o presidente estava constipado. Sem respostas à altura de Trump, o presidente divagava muitas vezes, sem se fazer entender. O desastre atingiu tal ponto que Trump chegou a dizer: “Não sei mesmo o que é que ele disse no fim da frase, e acho que ele também não sabe”.

Nem as mentiras de Trump Biden visou

Trump, como esperado, trouxe a sua arrogância para o palco, mas pareceu mais focado e mais ágil, talvez graças ao estado claramente frágil em que se encontrava Joe Biden.

As mentiras, também as levou com ele — segundo a CNN, Trump fez cerca de 30 falsas afirmações, contra nove de Biden — mas nem com elas Biden foi capaz de o confrontar.

Uma das mentiras diferidas pelo antigo presidente foi no tema do aborto. Trump afirmou incorretamente que os democratas apoiam o aborto depois de os bebés nascerem — e Biden nem por aí pegou para “picar” o adversário. Acusou, sim, o rival de querer assinar uma proibição nacional do aborto.

Trump também não foi capaz de garantir se aceitaria o resultado das próximas eleições — uma vez que não o fez nas últimas, o que resultou na invasão do Capitólio. Esquivou-se repetidamente da pergunta.

Joe Biden chamou o rival de “choramingas” e acusou-o de querer perdoar os assaltantes condenados pela invasão. “Agora ele diz que se perder outra vez, como choramingas que é, vai haver um banho de sangue”, afirmou Biden.

Entretanto, vinham ao de cima momentos, no mínimo, caricatos.

Hunter, insultos, golfe e estrelas porno

Trump atacou as capacidades físicas e as habilidades de golfista de Joe Biden, que respondeu a Trump: “Se carregar o seu próprio saco, terei todo o gosto em jogar golfe consigo”.

Biden, o “amigo da China”, também atacou o facto de Trump ser um criminoso condenado, referindo-se à condenação do ex-presidente por uma alegada relação sexual com a estrela de filmes para adultos Stormy Daniels.

“Você tem a moral de um gato de rua”, atirou o presidente, que rapidamente recebeu a resposta mais óbvia: “o seu filho também é um condenado”, rematou Trump, referindo-se a Hunter Biden, condenado no mês passado por comprar armas de fogo numa altura em que consumia drogas.

Trump — a quem Biden ripostou com o título de “falhado e perdedor” em resposta a alegada afirmação de Trump sobre o filho de Biden, Beau, que serviu no Iraque antes de morrer de cancro no cérebro — fez ainda questão de sublinhar que “não teve relações sexuais com uma estrela porno”.

Economia e imigração aquecem debate

Os primeiros temas lançados pelos moderadores favoreceram claramente Trump. Olhando para as sondagens, é na economia e imigração, os tópicos discutidos no arranque do debate, que se sobrepõe a Biden, e abrir assim o debate foi fatal para o presidente atual, que foi ao longo da noite tentando diferir golpes duros, a maioria das vezes sem sucesso.

Biden disse que herdou uma economia “em queda livre” quando chegou à Casa Branca e que passou os últimos anos a consertar os problemas deixados pelo antecessor.

“A economia colapsou, não havia empregos, o desemprego subiu para 15%, foi terrível”, afirmou Biden. “Estamos a trabalhar arduamente para lidar com este caos” disse.

“Os únicos empregos que ele criou foram para imigrantes ilegais”, argumentou Trump, que caracterizou o seu mandato como tendo “a melhor economia na história do país”: “toda a gente estava maravilhada”.

Trump disse que, se for eleito em novembro, vai impor tarifas de 10% a todos os bens importados e permitir responder aos países que têm estado a “ludibriar” os EUA, especificamente a China. Pelo seu lado, Joe Biden argumentou que herdou 9% de inflação e que a economia durante Trump destruiu mais empregos que os que criou.

A imigração protagonizou um dos momentos mais quentes da noite.

“Ele permitiu que milhões de pessoas viessem aqui desde prisões, cadeias e instituições psiquiátricas – para entrarem no nosso país e destruírem o nosso país”, acusou o ex-presidente, sem sustentar o que disse: “Basta dar uma olhada onde eles (imigrantes) estão a morar. Eles estão a morar em hotéis luxuosos na cidade de Nova Iorque e em outros lugares”, acrescentou.

A ideia de que imigrantes ilegais são bem-vindos nos Estados Unidos “simplesmente não é verdade”, respondeu Biden: “Não há dados que sustentem o que ele disse. Mais uma vez, ele está a exagerar. Ele está a mentir”.

Guerra na Ucrânia e mais mentiras

O ex-presidente acusou Biden de ter “encorajado” a Rússia a invadir o país vizinho (outra mentira comprovada) e prometeu “resolver” a guerra da Rússia na Ucrânia antes de assumir o cargo; o atual chefe de Estado voltou a alertar que Putin não ficará só por Kiev.

“Esta é uma guerra que nunca deveria ter começado. Se tivéssemos um líder nesta guerra (…) Ele deu 200 mil milhões de dólares ou mais agora à Ucrânia. É muito dinheiro. Acho que nunca houve algo parecido“, disse Trump.

“O facto é que Putin é um criminoso de guerra”, disse o democrata. “Ele quer toda a Ucrânia. E então acha que ele vai parar por aí, se tomar a Ucrânia? O que acha que acontecerá com a Polónia, Bielorrússia? O que acha que acontecerá com países da NATO?”, questionou.

“Biden tinha uma tarefa: não a cumpriu”

Biden, no final, reconheceu: “não foi o arranque ideal”. A ex-diretora de comunicação do presidente Kate Bedingfield também confessou na CNN que “este não foi um bom debate para Joe Biden”.

Joe Biden tinha uma tarefa: mostrar que tinha capacidades para ser presidente, com a sua idade: não a cumpriu. Falhou.”, disse muito diretamente a analista e ex-senadora Claire McCaskill na MSNBC.

“Se significa que Biden não será o candidato democrata? Ainda não sabemos. Ainda não sabemos se há algo a fazer para salvar isto”, confessou.

“Muita gente viu este debate e sentiu-se muito mal pelo Joe Biden”, disse: “As pessoas sentem que estamos perante uma crise”.

“O mais importante nestas eleições é a preocupação dos eleitores — tanto dos eleitores indecisos como dos eleitores de base — com a sua idade, e essa preocupação foi agravada esta noite”, afirmou David Plouffe antigo responsável pela campanha de Obama.

Democratas em pânico. Biden pode ser substituído?

Apesar de ser “muito improvável”, poderá haver uma convenção democrata contestada para substituir um presidente em exercício que concorre à reeleição depois ser nomeado líder democrata.

No entanto, vale lembrar que Biden só se torna oficialmente candidato do partido à presidência quando for apoiado na Convenção Nacional Democrata de 2024 em Chicago, que se realiza de 19 a 22 de agosto.

Biden ainda tem dois meses de campanha para acalmar as coisas e fazer esquecer o desastre que foi esta madrugada. Não há nenhum mecanismo formal para o substituir como candidato, explica o The Guardian — Biden teria de optar por afastar-se numa jogada inédita na história dos EUA.

Por enquanto, ninguém abriu guerra contra a sua liderança, mas o debate levantou sérias dúvidas — e colocou a vice-presidente Kamala Harris na frente da corrida para subsituir o presidente.

Kamala Harris ganha terreno

A vice-presidente emergiu como figura crítica na campanha democrata após o desempenho considerado desastroso de Joe Biden no primeiro debate presidencial com o rival Trump.

“Ela apela aos segmentos onde a coligação de Biden está com maior dificuldade”, disse o analista político John King na emissão da CNN. “É um ativo que devia ter sido alavancado desde o primeiro dia”.

“As pessoas podem debater sobre o estilo mas esta eleição tem de ser sobre substância”, afirmou Kamala Harris, em entrevista à CNN em que foi pressionada sobre o desempenho de Biden.

“Foi um começo lento mas um final forte”, disse: “marcou um contraste com Trump em todos os tópicos que interessam aos eleitores norte-americanos”.

Kamala tornou-se muito mais importante para a campanha esta noite”, disse o comentador Lawrence O’Donnell na MSNBC.

“Este foi um debate que mudou o jogo”, disse John King na CNN. “Neste momento, há pânico no partido democrata, que envolve operacionais, oficiais eleitos, doadores”.

“As respostas de Biden não foram coerentes. É profundamente problemático que ele não tivesse conseguido responder de forma direta”, afirmou a analista Abby Phillip. “Houve aqui um dano real”.

Biden e Trump voltarão a enfrentar-se em 10 de setembro, num segundo debate organizado pela rede ABC News. As eleições vão acontecer a 5 de novembro.

Tomás Guimarães, ZAP //

8 Comments

  1. Biden está senil, Kamala não tem estaleca, Trump é o desastre que se sabe. Avizinham-se tempos (ainda mais) conturbados, para os EUA e para o Mundo.

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  2. O debate nada trouxe de novo quanto à mais que óbvia incapacidade de Biden, embora tenha a grande virtude de pôr agora claramente o “rei a nu”, tornando mais evidente que Trump terá outro rival Democrático. Por outro lado, será interessante ver até que ponto Robert Kennedy poderá beneficiar do possível colapso dos democratas… a ver vamos!

  3. O debate nada trouxe de novo quanto à mais que óbvia incapacidade de Biden, embora tenha a grande virtude de pôr agora claramente o “rei a nu”, tornando mais evidente que Trump terá outro rival Democrático. Interessante será ver ainda até que ponto Robert Kennedy poderá beneficiar do possível colapso dos democratas… a ver vamos!

  4. Uma grande falta de escrúpulos , usar um idoso descapacitado para fins políticos… dá dó, simplesmente horroroso. Deveriam ter vergonha, mas, todos os meios servem para atingir um objectivo.

  5. Este Trampa vai agravar as coisas e muito, se for eleito.
    O Biden já deveria ir gozar os dias que lhe restam em paz.
    Os americanos merecem muito melhor. E o mundo também!

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