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Inédito em Espanha: racismo dá pena de prisão a adeptos que insultaram Vinícius Júnior

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Peter Powell / EPA

O extremo brasileiro Vinícius Júnior.

É a primeira condenação por insultos racistas num estádio de futebol em Espanha. “Não sou vítima de racismo: sou carrasco de racistas. Que os outros tenham medo”, avisou o segundo jogador de futebol mais valioso do mundo.

Três adeptos do Valência foram esta segunda-feira condenados a 8 meses de prisão, numa pena acrescida de 2 anos de proibição de entrada em estádios de futebol, por insultos racistas dirigidos ao extremo do Real Madrid, Vinicius Júnior.

É uma condenação histórica: a primeira por insultos racistas num estádio de futebol em Espanha.

Toda a situação decorreu em 21 de maio de 2023, num jogo entre Valência e Real Madrid, no Estádio Mestalla, durante o qual o jogador foi insultado, levando a que o encontro fosse interrompido, tendo Vinícius, nessa mesma noite, identificado os responsáveis através das imagens das câmaras de vigilância.

Mas Vini não estava sozinho. O ocorrido gerou uma enorme onda de apoio nas redes sociais e uma série de campanhas. Até a FIFA criou um comité antirracismo composto por jogadores.

“A sentença hoje proferida, que transita em julgado, dá como provado que os três arguidos insultaram Vinicius com gritos, gestos e cânticos alusivos à cor da sua pele”, declarou agora o Tribunal de Valência em comunicado. Esses gritos e gestos consistiram na “repetição de sons e na imitação de movimentos de macacos“, e “provocaram no futebolista sentimentos de frustração, vergonha e humilhação”, lê-se na sentença.

“Sou carrasco de racistas”

Numa mensagem emotiva, o jogador felicitou a conquista nas redes sociais: “Muitos pediram para que eu ignorasse, outros tantos disseram que a minha luta era em vão e que eu deveria limitar-me a ‘jogar futebol'”, começou por escrever.

“Mas, como sempre disse, não sou vítima de racismo. Sou carrasco de racistas. Essa primeira condenação penal da história da Espanha não é por mim. É por todos os pretos”, lê-se na publicação no X do segundo jogador de futebol mais valioso da atualidade.

“Que os outros racistas tenham medo, vergonha e se escondam nas sombras. Caso contrário, estarei aqui para cobrar. Obrigado à La Liga e ao Real Madrid por ajudarem nessa condenação histórica. Vem mais por aí”, avisou.

“Ação firme”

No seguimento da condenação, a Liga espanhola congratulou-se com o desfecho.

“Esta sentença é uma excelente notícia na luta contra o racismo em Espanha, na medida em que repara os danos sofridos por Vinicius Jr. e envia uma mensagem clara às pessoas que se deslocam aos estádios para insultar os jogadores, que a Liga vai detetá-los, denunciá-los e vão existir consequências criminais para quem o fizer”, disse o presidente da Liga, Javier Tebas.

O presidente da FIFA também elogiou a “ação firme”.

“Estou satisfeito por ver a ação firme e a sentença tomada pelas autoridades espanholas em relação ao abuso racista dirigido a Vinicius Jr num jogo da La Liga espanhola em maio de 2023”, disse Gianni Infantino, numa declaração no Instagram.

“Este é um passo positivo. A nossa mensagem para as pessoas em qualquer parte do mundo que ainda se comportam de forma racista quando estão a lidar com o futebol é clara: não vos queremos“.

A sentença

As partes chegaram a um acordo, com o mesmo a contemplar a condenação por crime contra integridade moral e com agravante de ódio, num acordo com a circunstância atenuante de arrependimento e desculpas ao jogador.

Essa situação atenuou a pena num terço, de 12 para oito meses de prisão, e de três anos de proibição nos estádios para dois, em todos os recintos com organização da Liga e da Federação espanhola de futebol.

A defesa pediu também que a pena de prisão seja suspensa, pedido que se enquadra no acordo alcançado entre o Ministério Público, a Liga, a Federação, o Real Madrid e Vinicius Júnior, e que o juiz agora deve confirmar.

ZAP // Lusa

5 Comments

  1. Bravo! Esperemos que esta condenação faça jurisprudência e sirva de exemplo. Malta das cavernas não deve ir aos estádios, deve cingir-se à sua caverna – e aproveitar o tempo para estudar: História, Antropologia, Biologia, Sociologia, etc.

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  2. Enquanto adolescente, joguei muitos anos futsal sem ganhar um tusto e também ouvi muita coisa que não gostei. Nada racista, mas ao mesmo nível. E o que é que eu fiz? Ignorei, porque sei que aqueles comentários eram só para me provocar, porque eu estava lá para jogar e não para falar para a bancada, Não havia nada melhor que chegar ao fim do jogo com os 3 pontos na mão e ver a cachola de azia de quem me insultou. Era a melhor resposta que podia dar.
    Por isso a mim, faz-me muita confusão ver estes jogadores, pagos a peso de ouro, a queixarem-se constantemente por serem insultados. E o mais caricato, é que é sempre o mesmo. Não oiço o Rudiger, o Alaba, o Camavinga, o Tchouameni, o Rodrygo a queixarem-se (isto para mencionar apenas colegas de equipa).
    Sou completamente contra o racismo, seja qual for a circunstância, mas para isso há organismos responsáveis por lidar com essas situações.
    Quando é que os jogadores vão perceber que estão lá para jogar à bola? Quando é que os jogadores vão perceber que as pessoas que os insultam têm um défice mental ou é apenas para provocar? Queria ver-te a jogar nas distritais ou no INATEL.

  3. Insultos não são expressão são agressão. A sua liberdade de expressão acaba quando insulta os outros. Tenho vergonha por si!

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