No ano passado, a onda de incidentes de ódio e os tiroteios na Geórgia tornaram o racismo anti-asiático muito mais difícil de ignorar. A temática, que parecia esquecida, veio à tona abrir um debate necessário nos Estados Unidos.
No ano passado, os ásio-americanos fizeram soar os alarmes sobre a crescente discriminação de que eram alvo, alimentada, em parte, pela linguagem racista e falsas alegações sobre a origem do novo coronavírus do ex-Presidente Donald Trump.
Em declarações ao The New York Times, Angela Hsu, advogada de Atlanta, explicou que há “uma tendência para não acreditar que a violência contra ásio-americanos seja real”. “É quase como se precisássemos de algo muito chocante para fazer com que as pessoas acreditem que existe este tipo de descriminação.”
Apesar de o racismo anti-asiático poder ter sido evidenciado durante a pandemia de covid-19, não é uma novidade. Acontece há já vários anos e é alimentado pela ideia de que os asiático-americanos são como “estrangeiros perpétuos” ou pessoas que não são percebidas como totalmente americanas.
Esta discriminação assumiu a forma de pequenas agressões, como perguntar às pessoas “de onde elas realmente são” ou fazer piadas racistas sobre o sotaque e o formato dos olhos.
Estes atos tornaram-se tão normalizados que o próprio comediante Jay Leno pediu publicamente desculpas por décadas de piadas racistas, feitas contra a comunidade asiática nos Estados Unidos.
De acordo com a Blitz, o pedido de desculpas surge após uma batalha de 15 anos da organização Media Action Network for Asian Americans (MANAA), que lutou para que Leno parasse com as piadas e se desculpasse pelas mesmas.
O comediante afirmou ter pensado, “genuinamente”, que as suas piadas eram “inofensivas” e disse que o seu pedido de desculpas nada tem a ver com a chamada “cancel culture”: “Não creio que seja exemplo disso. Foi um erro legítimo da minha parte.”
A Vox escreve que a discriminação anti-asiática não é reconhecida, em parte, por causa do privilégio que alguns asiáticos têm em comparação com outros grupos minoritários – como negros e latino-americanos – e pela diferença do grau de racismo que enfrentam.
Este enquadramento enganoso obscurece o racismo que várias pessoas enfrentam dentro das comunidades asiático-americanas.
No entanto, os eventos do ano passado – incluindo os recentes ataques a idosos e o tiroteio que matou oito pessoas em Atlanta – foram um ponto de rutura para muitos ásio-americanos.
“A nossa comunidade sentiu-se invisível durante muito tempo”, revelou Cynthia Choi, co-fundadora da Stop AAPI Hate, uma organização que investiga e denuncia incidentes de ódio. “Essa é a razão pela qual começamos a Stop AAPI Hate. Não queríamos que isso fosse minimizado, queríamos ter os números. Não queríamos que houvesse negação.”
Desde março do ano passado, forma relatados 3.795 incidentes anti-asiáticos à Stop AAPI Hate, desde abuso verbal e rejeição a agressão física e danos materiais.