As origens e significado cultural do ato de beijar têm permanecido envoltas em mistério. Agora, graças à meticulosa investigação de Sophie Lund Rasmussen e de Troels Pank Arboll, a história antiga do beijo foi iluminada.
A sua viagem não começou nos anais do mundo académico, mas num encontro casual durante os seus tempos de universidade. Sophie e Troles mal sabiam que o interesse mútuo pela Assiriologia e a paixão partilhada pelas línguas antigas os levaria a desvendar um dos mais antigos mistérios da humanidade: a origem do beijo.
Durante um jantar em 2022, o casal debruçou-se sobre um estudo genético que associava as variantes modernas do herpes ao beijo boca-a-boca na Idade do Bronze, despertando a sua curiosidade sobre a história deste gesto íntimo.
Embora a investigação existente apontasse o Sul da Ásia como o local de nascimento do beijo, o Arboll e Rasmussen acreditavam que a história não se ficava por aqui, conta o The New York Times.
O casal embarcou então numa viagem através de textos e artefactos milenares da Mesopotâmia e do Egito. Isto culminou num comentário inovador publicado recentemente na revista Science, desafiando as narrativas estabelecidas e fazendo recuar em mil anos a documentação mais antiga sobre o beijo.
As suas descobertas revelaram que o beijo não era um costume confinado a uma região ou cultura específica, mas sim uma prática generalizada e bem estabelecida em várias civilizações antigas.
O Cilindro de Barton, uma tábua de argila datada de cerca de 2.400 a.C., forneceu o mais antigo relato conhecido de beijos, retratando um abraço divino entre divindades masculinas e femininas no mito da criação sumério.
Apesar das suas raízes antigas, a prática do beijo evoluiu ao longo do tempo, assumindo diferentes significados e interpretações culturais. Na Mesopotâmia, o beijo era representado em relação a atos eróticos, com os lábios como ponto focal de afeto e desejo.
As referências ao beijo nos textos acádios revelaram categorias distintas. O beijo “amigável-parental”, que simboliza o afeto e o respeito familiar, e o beijo “romântico-sexual”, que exprime o amor e a intimidade.
A investigação de Arboll e Rasmussen esclareceu não só o significado histórico do beijo, mas também as suas implicações culturais e sociais. Desde a antiga Mesopotâmia até à Roma imperial, o beijo estava sujeito a normas e tabus sociais, refletindo a mudança de atitudes em relação à intimidade e às demonstrações públicas de afeto.
Além do seu contexto cultural, o beijo tem também um significado biológico, servindo como meio de avaliação de potenciais parceiros através de sinais químicos. A experiência de Rasmussen em ecologia estabeleceu paralelos entre o comportamento humano e animal, destacando o papel do cheiro na seleção do parceiro.