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Escravos judeus ou trabalhadores com benefícios? O mistério sobre os construtores das pirâmides egípcias

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Existem muitas teorias sobre quem construiu as pirâmides do Egito. Uma delas aponta para equipas de judeus, porém, a suposição não apresenta nenhuma evidência.

Segundo escreve o Live Science, as pirâmides não poderiam ter sido construídas por escravos judeus, já que não existe nenhum vestígio arqueológico diretamente ligado a este povo no Egito, sobretudo na altura em que as pirâmides de Gizé foram construídas.

Por outro lado, a mesma fonte indica que são muitas as evidências que mostram que foram os antigos egípcios quem realmente construiu as pirâmides. Contudo, a forma como os trabalhadores viveram e como foram recompensados pela sua mão de obra ainda levanta algumas questões.

As pirâmides e os seus construtores

Nas últimas décadas, os arqueólogos encontraram novas evidências que fornecem pistas sobre quem foram os construtores das pirâmides e de que forma viviam.

Os registos escritos encontrados, que incluem papiros descobertos em 2013 em Wadi al-Jarf, na costa do Mar Vermelho do Egito, indicam que grandes grupos de trabalhadores ajudaram a trazer material para a construção da Pirâmide de Gizé.

Os papiros encontrados em Wadi al-Jarf mencionam um grupo de 200 homens chefiados por um líder chamado Merer. O grupo de trabalhadores transportou calcário de barco ao longo do Rio Nilo até à Grande Pirâmide, onde, posteriormente, a pedra foi usada para construir o revestimento externo do monumento.

No passado, os egiptólogos teorizaram que os grupos de construtores das pirâmides eram em grande parte compostos por trabalhadores agrícolas sazonais, mas resta saber se a teoria tem fundamento.

Os papiros ainda estão em processo de decifração, mas os resultados indicam que o grupo liderado por Merer fez muito mais do que ajudar na construção da pirâmide.

Ao que tudo indica, esses trabalhadores viajaram por grande parte do Egito, possivelmente até ao deserto do Sinai, onde realizaram vários projetos de construção e tarefas que lhes foram atribuídas.

Mas não se sabe se estes faziam parte de uma força profissional mais permanente, ou se pertenciam a um grupo de trabalhadores agrícolas sazonais que, no fim da época, voltaria para os seus campos.

Análise começa a desvendar mistérios

De acordo com os documentos encontrados, os trabalhadores eram alimentados por uma dieta bastante equilibrada, que incluía tâmaras, vegetais, aves e carne, refere Pierre Tallet, professor de egiptologia da Universidade Paris-Sorbonne.

Além da dieta saudável, o papiro descreve que os membros da equipa de trabalho recebiam regularmente tecidos que “provavelmente eram considerados uma espécie de dinheiro”, explica Tallet ao Live Science.

Já os funcionários de cargos de alto escalão envolvidos na construção de pirâmides “podem ter recebido concessões de terras”, afirma Mark Lehner, diretor da Ancient Egypt Research Associates (AERA), um instituto de pesquisa com sede em Massachusetts.

Os registos históricos também mostram que, na história do Egito, era habitual conceder concessões de terras a funcionários públicos. Porém, não se sabe se as concessões de terras também foram dadas a trabalhadores envolvidos na construção de pirâmides.

Atualmente, a equipa de Lehner está a escavar uma cidade em Gizé que era habitada e frequentada por alguns dos trabalhadores que estavam a construir a pirâmide de Menkaure.

Com base nos ossos de animais encontrados no local, e considerando as necessidades nutricionais dos trabalhadores, os arqueólogos estimam que cerca de 1.800 quilos de animais eram abatidos todos os dias, em média, para alimentar os trabalhadores.

Também os restos mortais de trabalhadores enterrados em sepulturas perto das pirâmides mostram que estes tinham ossos curados que foram colocados corretamente – sugerindo que os trabalhadores tiveram acesso a cuidados médicos.

A rica dieta dos construtores das pirâmides, combinada com a evidência de cuidados médicos e o pagamento em produtos têxteis, levou os egiptólogos a concordar que os trabalhadores não eram escravos.

Ainda assim, as conclusões não provam que todos os trabalhadores tinham acomodações iguais.

Lehner suspeita de que os trabalhadores de escalão inferior dormiam em casas simples ou em “alpendres” nas próprias pirâmides.

Ana Isabel Moura, ZAP //

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