Júpiter encolheu para metade (mas ainda teve espaço para comer asteroides)

NASA / ESA / CSA / Jupiter ERS Team

Júpiter era 2 a 2,5 vezes maior do que é hoje — e já teve um campo magnético 50 vezes mais poderoso. O que muda com esta descoberta?

O planeta Júpiter tem desempenhado um papel vital na evolução do Sistema Solar, de acordo com os nossos modelos atuais. Por um lado, pensa-se que a sua formação (há cerca de 4,6 mil milhões de anos) e a sua poderosa gravidade desempenharam um papel crítico na definição das trajetórias orbitais dos outros planetas solares, esculpindo o disco de gás e poeira a partir do qual se formaram, e influenciando a distribuição dos planetesimais e a formação da Cintura Principal de Asteróides.

Júpiter também desempenhou um papel importante no aparecimento da vida, ao absorver asteróides que poderiam ter tido impacto na Terra. Compreender a história da formação de Júpiter é, por isso, vital para perceber como evoluiu o Sistema Solar primitivo.

Os astrónomos Konstantin Batygin e Fred C. Adams, publicaram na Nature recentemente, a 20 de maio de 2025, um estudo detalhado do estado primordial de Júpiter. Os seus resultados indicam que 3,8 mil milhões de anos depois do Sistema Solar, após a formação dos primeiros sólidos na nebulosa protoplanetária do Sistema Solar, Júpiter era 2 a 2,5 vezes maior do que é hoje. Determinaram também que possuía um campo magnético 50 vezes mais poderoso do que o atual.

Na mecânica celeste, o paradigma tradicional em que a evolução do Sistema Solar era atribuída apenas à influência de Júpiter e do Sol está profundamente enraizado. No entanto, as observações têm vindo a realçar cada vez mais a importância de Júpiter na escultura da arquitetura do Sistema Solar.

Como tal, a história completa das origens e da evolução estrutural de Júpiter é vista como um marco fundamental na evolução inicial do Sistema Solar. No entanto, os pormenores e o momento da formação de Júpiter permanecem indefinidos, em grande parte devido às incertezas inerentes aos modelos acrecionários.

Para o seu estudo, Batygin e Adams examinaram Amalthea e Thebe, dois dos satélites interiores de Júpiter. Esta família de satélites é de baixa massa e orbita ainda mais perto de Júpiter do que Io, a mais pequena e de órbita mais próxima das luas galileanas de Júpiter.

Ambos os satélites têm órbitas ligeiramente inclinadas e pequenas discrepâncias orbitais, o que permitiu a Batygin e Adams calcular o tamanho original de Júpiter. De acordo com os seus resultados, Júpiter teve em tempos um volume de mais de 2.000 Terras, cerca do dobro do seu volume atual de 1.321 Terras.

“O nosso objetivo final é compreender de onde viemos, e determinar as fases iniciais da formação dos planetas é essencial para resolver o quebra-cabeças. Isto aproxima-nos da compreensão de como não só Júpiter mas todo o Sistema Solar tomou forma. O que estabelecemos aqui é um valioso ponto de referência. Um ponto a partir do qual podemos reconstruir com mais confiança a evolução do nosso sistema solar”, disse Batygin no Caltech.

Estes conhecimentos ultrapassam as incertezas tradicionais dos modelos de formação planetária. Estes baseiam-se frequentemente em suposições sobre a capacidade de um gás absorver ou dispersar radiação electromagnética, taxas de acreção e a massa do núcleo de Júpiter (composto por rocha e metal). Em vez disso, a equipa concentrou-se em quantidades diretamente mensuráveis, incluindo a conservação do momento angular de Júpiter e a dinâmica orbital das suas luas.

A análise de Batygin e Adams fornece uma imagem crucial de uma das fases críticas do desenvolvimento de Júpiter, que tem estado sujeita a incertezas no passado. “É espantoso que, mesmo após 4,5 mil milhões de anos, subsistam pistas suficientes para nos permitir reconstruir o estado físico de Júpiter no início da sua existência”, disse Adams.

Estes resultados podem também acrescentar novas perspetivas às teorias sobre a formação de planetas, o que pode ter implicações no estudo de exoplanetas. Estas teorias sugerem que Júpiter e os gigantes gasosos se formaram à medida que o material rochoso e gelado (que formou o núcleo destes planetas) rapidamente acretava gás da nebulosa solar.

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