Agressões à ex-mulher e vídeos embaraçosos. A queda em desgraça do ex-presidente “feminista”

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midianinja / Flickr

O Presidente da Argentina, Alberto Fernández

O ex-Presidente da Argentina Alberto Fernández, de 65 anos, foi acusado de violência doméstica pela ex-mulher – como se já não bastasse estar a ser investigado por corrupção. E estão a surgir dados embaraçosos que envolvem outras mulheres quando era casado.

A ex-mulher de Alberto Fernández, Fabiola Yañez, de 43 anos, concretizou a denúncia por violência doméstica contra o ex-marido na justiça argentina, através de uma comunicação por vídeo-conferência, uma vez que vive em Madrid, Espanha.

No seu primeiro testemunho no processo judicial referiu que os “maus-tratos, assédio, desprezo, ataques e espancamentos eram constantes“, conforme cita o jornal online Infobae.

Mas a ex-primeira-dama falou ainda de “terrorismo psicológico” e de “violência reprodutiva”, garantindo que o ex-Presidente a obrigou a abortar um filho de ambos, além de a ter agredido na barriga enquanto estava grávida.

Yáñez entregou também no consulado argentino em Madrid, um documento de 20 páginas onde denuncia “lesões graves, abuso de poder e de autoridade” por parte de Fernández desde 2016, ou seja, três anos antes de ter chegado à Presidência da Argentina.

“Nunca bati numa mulher”

O ex-chefe de Estado que saiu do poder há apenas cerca de oito meses, depois de ter perdido as eleições presidenciais para Javier Milei, já negou as acusações numa entrevista a uma Rádio argentina. “Estou a ser acusado de algo que não fiz”, disse, assegurando que nunca houve violência física.

Fernández assumiu que as discussões com Yáñez eram frequentes e que pode ter havido “violência verbal”, mas assegura que foi “mútua”.

“Nunca bati numa mulher”, reforçou, notando que nenhuma das suas outras duas ex-mulheres alguma vez o acusou de violência doméstica.

Num comunicado no Instagram, o ex-Presidente da Argentina salientou que levará à justiça “as provas e testemunhos que deixarão em evidência o que realmente aconteceu”.

Fernández também afirmou na mesma entrevista que alguém “incentivou” a ex-mulher a acusá-lo “com outros fins”.

“Durante quatro anos fui presidente deste país e promovi políticas de género e sei que em casos como este, o ónus da prova é invertido e o homem é presumido culpado e tem de provar a sua inocência. Vou prová-la”, salientou ainda o ex-chefe de Estado que chegou a ser conhecido como o “Presidente feminista” por algumas das medidas que implementou.

@alferdezok / Instagram

Alberto Fernández com a ex-mulher Fabiola Yañez e o filho de ambos em Dezembro de 2022.

Alberto Fernández com a ex-mulher Fabiola Yañez e o filho de ambos em Dezembro de 2022. O casal tem 22 anos de diferença de idades.

Tramado pelo telemóvel da secretária privada

O ex-Presidente argentino já estava a ser investigado por corrupção, suspeitando-se que embolsou fortunas com a ordem de que todas as empresas do Estado contratassem apólices de seguro da mesma seguradora.

Essa ordem determinava que as negociações passassem pelo agente de seguros Héctor Martínez Sosa, amigo de Fernández e marido daquela que é a sua secretária privada há cerca de 30 anos, María Cantero.

A apreensão do telemóvel de María Cantero no âmbito dessa investigação está a revelar às autoridades mais do que o ex-Presidente desejaria, e levou à abertura de uma segunda investigação a Fernández por alegada violência doméstica.

No telefone da secretária, terão sido encontradas mensagens e imagens com sinais de agressões no rosto e nos braços, que confirmarão as acusações de violência de Fabiola Yañez e que terão sido enviadas por esta a María Cantero.

“Estás a bater-me há 3 dias seguidos”

Algumas das mensagens serão capturas de imagem das conversas que a ex-primeira-dama tinha com o então marido.

“Isto não funciona assim, estás sempre a bater-me”, terá escrito numa delas, conforme é transcrito pela comunicação social argentina. “Tudo o que tento fazer com a mente focada é defender-te e tu bates-me fisicamente”; “Estás a bater-me há 3 dias seguidos” são outras mensagens divulgadas.

Nas respostas enviadas a Fabiola Yañez, Fernández dizia que se sentia “muito mal” e que tinha “dificuldade em respirar”, pedindo-lhe para parar e para voltar.

Numa das mensagens, a ex-primeira-dama enviou ao então Presidente da Argentina uma foto em que aparece com um olho completamente negro, escrevendo, de forma irónica, o seguinte: “Foi quando me bateste sem querer”.

Reprodução/Infobae

Imagens das alegadas agressões de Alberto Fernández, ex-Presidente da Argentina, a Fabiola Yañez quando eram casados.

Imagens das alegadas agressões de Alberto Fernández, ex-Presidente da Argentina, a Fabiola Yañez quando eram casados.

Fernández disse numa entrevista que o olho negro que se pode ver numa das imagens divulgadas resultou de uma cirurgia estética efectuada pela ex-esposa.

Vídeo revela flirt com uma jornalista

Entretanto, começam a surgir outros dados embaraçosos sobre o ex-chefe de Estado, nomeadamente um vídeo que o próprio terá gravado, onde aparece num aparente flirt com a jornalista Tamara Pettinato na residência oficial da Presidência da Argentina, a Casa Rosada.

A conversa decorrerá no escritório presidencial, com Fernández e Tamara Pettinato a beberem cerveja e a conversarem em tom descontraído, confessando que estão “enamorados”.

“És uma grande pessoa e quero-te muito. E sempre vou querer-te. E nunca mais vou votar em ti”, diz a dado momento a jornalista num tom que pode revelar que
estaria sob o efeito de álcool.

Este vídeo poderá ter despoletado o fim da relação de Fernández e Fabiola Yañez e terá sido a ex-primeira-dama a divulgá-lo. Ela terá tido acesso ao vídeo no telemóvel do próprio Presidente e tê-lo-á gravado para o divulgar aos media.

Entretanto, Tamara Pettinato explica que o vídeo foi registado no âmbito de um almoço com o ex-Presidente depois de lhe fazer uma entrevista para “um trabalho documental para a televisão chinesa sobre as relações desse país com a Argentina, em Janeiro de 2022”.

A jornalista também diz que a estão a “usar” para esconder a denúncia por violência doméstica.

Ex-mulher terá visto mais vídeos comprometedores

Fabiola Yáñez já disse que este vídeo e outros que apareceram “são pouca coisa ao lado das coisas que fez”.

“Esta pessoa esteve durante dois meses – e há muitas pessoas que o sabem – a ameaçar-me que se eu fizesse isto, ou aquilo, que se ia suicidar“, revelou também numa entrevista.

“Atirou-se para cima da jornalista e beijou-a”

O jornalista e analista político Eduardo Feinnmann também revelou o alegado assédio de Fernández a uma jornalista “muito bonita” em plena Casa Rosada, depois de uma entrevista para a televisão.

Tudo terá acontecido no elevador e terá sido gravado pelo operador de câmara que registou a entrevista.

“O presidente atirou-se para cima da jornalista e beijou-a”, contou Feinnmann num podcast, sublinhando que a mulher “empurrou-o” e perguntou-lhe “quem é que achas que és?” e “Como me vais fazer isto?”.

Fernández terá pedido desculpas e para que as imagens fossem apagadas. Feinnmann disse que não sabe se o foram ou não, ou se essas imagens ainda existem.

O que é certo é que “o incidente não foi conhecido”, concluiu o jornalista, garantindo que “situações como esta há muitas”.

Outro jornalista, Roland Graña, também revelou num programa de televisão que, durante as noites, “havia um dado momento” em que “tiravam o telemóvel” a Fernández “porque não conseguia parar de escrever a miúdas“.

Afastado do próprio partido

A queda em desgraça levou a que Fernández saísse do próprio partido, o Partido Justicialista, ou peronista, como é conhecido. Foi forçado a renunciar e abandonado até por alguns amigos e próximos.

A ex-Presidente da Argentina Cristina Kirchner que foi vice-presidente de Fernández entre 2019 e 2023, já tratou de se distanciar dele, referindo as imagens de Fabiola Yáñez com hematomas e as mensagens divulgadas como estando entre “os aspectos mais sórdidos e obscuros da condição humana”.

“Não foi um bom presidente”, atirou ainda Cristina Kirchner que já foi condenada por corrupção devido ao desvio de fundos públicos.

Entretanto, há apelos para que lhe seja retirada a pensão vitalícia a que tem direito como ex-Presidente da Argentina.

Susana Valente, ZAP //

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