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Na guerra dos sentidos, tato e visão disputam o pódio

HckySo / Flickr

Visão, tato, olfato, paladar ou audição: qual dos cinco sentidos leva a melhor? O debate foi lançado no Twitter e atiçou a comunidade científica.

O debate foi lançado no Twitter: qual o melhor sentido e porquê? Invariavelmente, a questão acabou por confundir muitos internautas, que se interrogaram sobre o motivo pelo qual um sentido era mais importante do que o outro. A questão acabou também por ser colocada à comunidade científica e respondida.

Apesar de a maioria das pessoas assumir que a visão é a vencedora óbvia, a somatossensibilização – a que normalmente nos referimos como tato, mas incorpora tecnicamente todas as sensações do nosso corpo – levou a melhor no debate instaurado na rede social. Mas este resultado quase empatado mantém-se quando olhamos mais atentamente para as evidências científicas? Talvez.

Perder o tato é perder o nosso corpo

A verdade é que precisamos da somatossensibilização para nos movermos com sucesso – e, aparentemente, mais do que a própria visão. Apesar de esta ser uma afirmação que, à partida, pode ser polémica, é apoiada pelos vários casos médicos em que as pessoas sofrem pela perda deste sentido.

Pessoas que perderam a maioria ou a totalidade da sensação do toque, assim como a capacidade de sentir a posição (propriocepção) e os movimentos dos seus membros (cinestesia), são chamados de pacientes “desaferentados”. Esta condição ocorre porque o corpo ataca os seus próprios nervos somatossensoriais na reação auto-imune pós-infeção, embora a causa não seja clara na maioria dos casos.

Apesar de não haver uma disfunção direta nos sistemas motores, a maioria dos pacientes não consegue completar nem mesmo os movimentos mais básicos. Ainda assim, e com todas estas barreiras, um paciente, apelidado de “IW”, chocou os médicos ao conseguir recuperar a sua capacidade de andar.

O “IW” planeou meticulosamente quais os músculos que tinha de contrair, e em que ordem, antes de se mover. Esta estratégia, altamente exigente em termos cognitivos, foi um autêntico sucesso neste caso médico em particular.

Mas se quisermos ter uma outra noção acerca da importância da somatossensibilização, podemos centrar as nossas atenções num outro paciente. Aqueles que tentam comer após uma anestesia dentária, sofrem na pele os riscos e as dificuldades do ato de comer sem somatossensibilização – um desafio descrito no estudo pelo paciente “GL”, que sofre desta condição.

O sistema vestibular (que é fundamental para nos mantermos equilibrados de pé) e a perceção da dor ou da temperatura são outros subcomponentes da somatossensibilização. Todos estes exemplos provam que o tato – ou o toque – é parte central da nossa humanidade.

No entanto, se encararmos este assunto numa perspetiva neurocientífica, é fácil perceber por que motivo pode a visão ganhar este duelo. Na verdade, a área primária do cérebro para processar os estímulos visuais – o córtex visual – ocupa a maior área de qualquer sentido individual e a visão é o sentido mais aguçado do nosso corpo.

Kevin Wright, professor de neurociência na Oregon Health and Science University, afirma que as pessoas podem encarar a perda de visão como sendo um problema mais sério porque estamos muito mais conscientes da nossa visão do que da nossa função somatossensorial.

Ainda assim, para a investigadora Harriet Dempsey-Jones, da University College London, no final do dia, é a somatossensibilidade que leva a taça, já que “é ela que me mantém em pé, em movimento e viva – muito mais do que os outros sentidos”.

Olhando para o futuro, no entanto, “estou animada em ver como a tecnologia de substituição sensorial pode melhorar as nossas avaliações sobre o que é mais ou menos importante”, concluiu, citada pelo Inverse.

A verdade é que, na guerra dos cinco sentidos, seja qual for o vencedor, todos ocupam um lugar de destaque no nosso quotidiano. E, sem eles, não seriamos certamente os mesmos.

ZAP //

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