PSP tem de voltar a entrar nos bairros e “fazer as pazes”

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Miguel A. Lopes / Lusa

Autocarro queimado em desacatos no bairro do Zambujal na Amadora.

Autocarro queimado em desacatos no bairro do Zambujal, na Amadora.

A situação “ainda está muito quente”, mas PSP tem de “fazer as pazes” com os bairros e assim vai voltar a ser bem recebida, considera subintendente da PSP. E lembra: alguns agentes foram “formatados para uma polícia repressiva”.

A subintendente Aurora Dantier avisou este domingo que a PSP tem de “fazer as pazes” com os bairros da periferia de Lisboa, face aos desacatos desencadeados pela morte de Odair Moniz por um agente na Cova da Moura, na Amadora.

A subintendente que coordena as equipas de policiamento de proximidade de 11 divisões no Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) manifestou a sua convicção de que a PSP vai voltar a ser bem recebida no Bairro do Zambujal ou na Cova da Moura, mas admitiu que vai levar tempo.

“Temos de apaziguar. Temos de fazer as pazes e criar condições e estratégias. Não podemos catalogar que as pessoas que vivem no bairro são todas criminosas. Existe um grupo que faz com que o bairro tenha má fama, mas a maior parte das pessoas sai de manhã para trabalhar”, afirmou, reconhecendo que a situação “ainda está muito quente” e que é preciso “voltar aos níveis anteriores” no relacionamento entre a polícia e a comunidade local.

Para Aurora Dantier, dos desacatos que aconteceram nos dias seguintes no Bairro do Zambujal, onde o cidadão cabo-verdiano morava, ao ambiente de tensão na Cova da Moura, onde Odair Moniz viria a morrer baleado por um policia, a resposta da PSP deve passar por “voltar a entrar” nos bairros e falar com a população que também precisa da ajuda da polícia.

“Tem de se falar com as pessoas do bairro e temos de as escutar. Houve um incidente grave? Houve, mas as instituições estão a trabalhar. Então e o resto? As outras pessoas não têm necessidade da polícia? Não têm necessidade de proteção? Têm. Vamos abandoná-las? Não pode ser. Temos de acompanhar aquelas pessoas, que precisam da intervenção da polícia”, frisou, avisando que, se tal não for feito, vai continuar a tensão entre agentes e comunidade.

Sublinhando que o incêndio de carros e de mobiliário urbano que se verificou ao longo da última semana em algumas zonas de Lisboa, como Benfica, “já não é um problema social” relacionado com o Bairro do Zambujal ou a Cova da Moura, a subintendente da PSP referiu que os responsáveis são “puros criminosos” e garantiu que a força de segurança continua no terreno e atenta a aproveitamentos “deste clima para poder fazer vandalismo”.

“Muitos aproveitaram-se do palco e a PSP é que apaga o fogo”

Aurora Dantier, de 59 anos, não quis comentar posições políticas em torno deste caso, mas salientou que “as pessoas deviam ser mais ponderadas naquilo que dizem”, ao notar que nas últimas duas semanas “houve muita gente que aproveitou o palco da comunicação social e depois acabou por incendiar certas questões”. “Isso foi muito mau. A PSP é que tem de apagar o fogo”, disse.

A subintendente assumiu ainda que há resistência na PSP ao policiamento de proximidade junto destas comunidades, “porque nem todos compreendem este papel de estar próximo das pessoas de forma diferente”, sobretudo entre os agentes mais velhos, que foram “formatados para uma polícia repressiva”, mas deixou um alerta: “Se a polícia não entra, não participa ou não está na comunidade, há outros grupos e outros fenómenos que ocupam o espaço”.

“A polícia não é elástica”

Questionada sobre as razões que limitam a expansão das ações de policiamento de proximidade da PSP, a subintendente apontou à escassez de meios humanos e ao maior número de valências a cargo dos agentes, que redundam numa intervenção mais reativa do que preventiva face aos problemas.

“Temos de cumprir tudo e vai-se reduzindo de um lado e do outro. [A polícia] não é elástica. Ou entram mais pessoas ou vamos ter de fazer uma avaliação do que temos e, provavelmente, teremos de cessar algumas tarefas”, concluiu.

Versão da PSP investigada. Já há cerca de 20 detidos

Odair Moniz, cidadão cabo-verdiano de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado mortalmente por um agente da PSP na madrugada de 21 de outubro, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho.

Segundo a PSP, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial e despistou-se na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.

A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria e isenta” para apurar responsabilidades, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias.

A Inspeção-Geral da Administração Interna e a PSP abriram inquéritos, e o agente que baleou o homem foi constituído arguido.

Nessa semana registaram-se tumultos no Zambujal e noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados e vandalizados autocarros, automóveis e caixotes do lixo, somando-se cerca de duas dezenas de detidos e outros tantos suspeitos identificados.

Sete pessoas ficaram feridas, uma das quais com gravidade. O motorista do autocarro que foi incendiado com cocktails molotov durante os tumultos vai ficar com lesões para toda a vida. Uma campanha online já angariou mais de 30 mil euros para a sua recuperação.

ZAP // Lusa

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7 Comments

  1. Ao ponto em que isto chegou !! A policia tem de “fazer as pazes” ou seja rebaixar-se para poder ser recebida nos bairros, e porque não fechar os olhos ou mesmo dar uma ajuda no banditismo, tráfego de droga etc………. Vamos passar a ter as regiões autónomas e os bairros autónomos. Estas chefias de ideologia woke querem transformar a sociedade numa anarquia em que os bandidos mandam e as autoridades obedecem. Temo que com estas chefias e políticos a curto prazo não teremos ninguém que se queira sujeitar a isto levando a uma escassez de agentes da pseudoautoridade.
    Este modelo woke já foi implementado pelo PS na educação retirando a autoridade aos professores, hoje os resultados já são bem visíveis e ainda vai piorar.

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  2. Os polícias têm de ir lá pedir desculpa e baixar as calças. E nada de levar armas, brancas ou pretas, porque armas de toda a espécie já os moradores têm. E se eles querem mais subsídios e apoios, como tinham na terra deles, é só pedirem. Foram tão mal tratados e escravizados e já têm a independência, não sei o que vêm para cá fazer. Bem podiam ir para a Rússia, porque a URSS é que fomentou todas as independências com rublos e armas das mais modernas. Tenho dito.

  3. A Policia tem que entrar nos “Bairros” , para garantir a segurança de quem lá Vive , nada mais , não tem que “fazer as Pazes” com energúmenos arruaceiros mas sim detê-los !

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