Miranda Sarmento acusa os deputados do PSD de serem cobardes por o criticarem anonimamente na imprensa e descreve como “reles e indigna” a suspeita de um conflito de interesses por causa da sua mulher.
Falou-se que Joaquim Miranda Sarmento estava a planear uma saída “limpa” e “elegante” da liderança da bancada parlamentar no seguimento de várias divergências que tem tido com alguns deputados e com a direcção do partido.
Mas parece que esta saída não será assim tão tranquila como se antecipava. Esta sexta-feira, o Observador avançou com uma notícia que dava conta do bloqueio de Miranda Sarmento à audição de um dos superiores da sua mulher, o que foi contestado dentro do partido.
A polémica começou a 20 de Junho, quando o coordenador da área da Saúde no grupo parlamentar do PSD pediu para ouvir Diogo Ayres de Campos, o diretor exonerado do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução do Centro Hospitalar de Lisboa Norte (CHLN). Mas apenas algumas horas depois, Miranda Sarmento travou o pedido, afirmando que o deputado tinha de avisar previamente a direcção.
No entanto, os deputados do PSD descobriram depois que a esposa do líder da bancada trabalha no departamento liderado por Ayres de Campos e acusam Miranda Sarmento de ter um conflito de interesses.
“Se queria manifestar autoridade, devia tê-lo feito com outro caso qualquer. À mulher de César, ou ao marido de Cleópatra, não basta ser sério…”, afirma um dos deputados do PSD. “Este travão foi estranhíssimo desde o início. Se ele não sabia que ele dirigia o departamento da mulher, devia saber”, revela outro crítico.
Em resposta ao Observador, Miranda Sarmento garante que a sua interferência se deveu “apenas a questões processuais” e frisa que “todo e qualquer requerimento, apresentado em nome do Grupo Parlamentar do PSD, obedece a procedimentos internos conhecidos e aceites por todos os deputados”.
“O que aconteceu a este requerimento aconteceria a qualquer outro, pelo que não tem qualquer relevância o local onde a minha mulher exerce a sua profissão há mais de 20 anos. Considero mesmo ser ignóbil e revelador de uma enorme falta de caráter fazer tal ligação”, atira.
Uma mensagem enviada aos deputados a que o Público teve acesso passa um raspanete no mesmo tom, com o líder da bancada considerar como de “profunda cobardia” usar os jornais a “coberto do anonimato” para o criticar.
“Que haja deputados que entendem que eu não sou um bom líder parlamentar, que não tenho perfil político e que outros seriam melhores líderes, é algo que posso aceitar, sem qualquer problema, quando as críticas são directas e frontais. Que o façam nos jornais, a coberto do anonimato, parece-me de uma profunda cobardia”, escreve o líder parlamentar.
Sobre o caso com a sua mulher, considera que é “reles e indigno“. “Que para me atacarem, usem a minha família, e ataquem a minha mulher, que nunca teve nada a ver com a política e que é médica em Santa Maria há mais de 20 anos, é algo tão baixo, reles e indigno que quem o fez só me merece absoluto desprezo”, dispara.
Este não é primeiro conflito entre Miranda Sarmento, que foi escolhido pela direcção de Rui Rio, e os deputados sociais-democratas. Um exemplo destas divergências terá sido a sua decisão de votar a favor das propostas do Chega e da Iniciativa Liberal para a constituição de uma comissão de inquérito ao SIS, algo que surpreendeu a própria direcção de Montenegro.
Miranda Sarmento também esteve sob fogo numa reunião da bancada depois de ter trazido a Operação Tutti-Frutti — referente a supostos acordos entre o PS e PSD para as escolhas dos candidatos autárquicos em Lisboa — ao debate parlamentar com António Costa, arrastando para a conversa o deputado do PSD Carlos Eduardo Reis, que também está envolvido no processo.
Nessa reunião, Carlos Eduardo Reis recusou ser arrastado para esta discussão, lembrando que nunca foi acusado de nada e rejeitando ser o “idiota útil” para precipitar a demissão de Fernando Medina e eleições antecipadas.
Estes casos levaram a que se criasse a expectativa de que Miranda Sarmento sairá da liderança da bancada parlamentar no final do Verão, mas Luís Montenengro já veio pôr fim a esta especulação na sexta-feira.
Em declarações ao Expresso, o líder do partido garante ter “confiança máxima” no líder parlamentar e descreveu como “completamente disparatada, infantil mesmo” a conversa sobre a sua eventual saída, realçando que não se deixa “impressionar e muito menos condicionar por manobras de bastidores inúteis e irresponsáveis”.
É tudo compadres.
Pois. São todos filhos da mesma casta.