A libertação da paquistanesa cristã Asia Bibi, absolvida oito anos depois de ter sido condenada à morte por blasfémia, foi adiada esta sexta-feira depois de fracassadas as negociações entre o Governo e os grupos que exigem a sua execução.
A absolvição de Asia Bibi, na quarta-feira, foi aplaudida em todo o mundo por organizações de direitos humanos, que há muito exigiam a sua libertação, mas gerou protestos um pouco por todo o país, sobretudo no seio do partido Tehreek-e-Labbaik Pakistan (TLP) e dos seus apoiantes.
O pregador islâmico Khadim Hussain Rizvi, do TLP e principal rosto dos protestos, convocou, esta manhã, os seus seguidores a participarem numa “greve geral” com a qual pretende paralisar o país, “após o fracasso das negociações”.
Desde a decisão, milhares de manifestantes têm bloqueado as estradas e exigido o enforcamento de Asia Bibi.
Na quarta-feira, o Supremo Tribunal paquistanês absolveu Asia Bibi sob o argumento de que, na sentença de morte, ditada em primeira instância, houve “graves contradições” e registaram-se “mentiras” em testemunhos.
O primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, num discurso na televisão local argumentou, no mesmo dia, que a “decisão do Supremo Tribunal está conforme a Constituição” e pediu aos manifestantes, que contestaram a absolvição, que não enfrentem o Estado.
Asia Bibi, mãe de cinco filhos, foi acusada de blasfémia em 2009, após ter alegadamente insultado o profeta Maomé durante uma discussão com um grupo de mulheres com quem trabalhava.
Em novembro de 2010, um tribunal paquistanês decretou a pena capital, mas a sentença só foi confirmada quatro anos depois pelo Supremo Tribunal de Lahore, capital da província de Punjab, onde ocorreu o incidente.
Em 2011, o ex-governador de Punjab Salman Taseer, que defendia publicamente a causa de Asia Bibi, foi morto a tiro por um dos guarda-costas, Mumtaz Qadri, executado anos depois.
O caso de Asia Bibi teve impacto internacional e chegou a atrair a atenção dos papas Bento XVI e Francisco.
A dura lei anti blasfémia paquistanesa foi estabelecida durante a época colonial britânica para evitar lutas religiosas, mas na década de 80 do século XX várias reformas do então ditador Mohamed Zia-ul-Haq favoreceram abusos.
Desde essa altura, foram registadas mais de mil acusações por blasfémia, um crime que pode levar à morte por apedrejamento, embora essa pena nunca tenha sido aplicada.
// Lusa