Professora que estuda a honestidade acusada de falsificar os dados dos estudos

Francesca Gino / LinkedIn

Francesca Gino, investigadora e professora da Harvard University Business School

Numa revelação surpreendente, uma conceituada professora da Harvard University Business School, conhecida pelos seus estudos sobre honestidade, foi acusada de falsificar os dados da sua pesquisa.

A cientista comportamental Francesca Gino, conceituada professora da Harvard University Business School, está a ser acusada de falsificar os dados dos seus estudos sobre… honestidade.

Desde que iniciou funções na Universidade de Harvard, a prestigiada cientista e o seu trabalho, que se foca nos comportamentos de desonestidade, mentira e fraude, foram por diversas vezes alvo da atenção dos media.

As acusações surgiram depois de a universidade ter informado o co-autor de um dos seus estudos de que os dados que o suportavam tinham sido manipulados.

Na sequência destas acusações, a professora encontra-se suspensa das suas funções na universidade, enquanto decorrem investigações ao caso.

Segundo o The New York Times, as acusações centram-se num estudo de 2012 no qual Gino analisou os efeitos de compromissos de honestidade no início e no fim de um inquérito.

A cientista concluiu que colocar “compromissos de honestidade” no início de um inquérito resultava em respostas mais honestas na autoavaliação dos participantes.

No entanto, a exatidão dos dados que sustentam esta conclusão estão a ser alvo de algum cepticismo, particularmente depois de um dos co-autores do estudo, Max Bazerman, ter sido informado por Harvard que os números pareciam ter sido manipulados.

Mas as alegações de falsificação de resultados estão a ameaçar estender-se a outros estudos de Gino. Maurice Schweitzer, antigo colaborador da cientista, está agora a rever outros oito estudos em que trabalharam juntos, por suspeitas de potencial fraude.

Segundo Schweitzer, as acusações criaram uma onda de choque na comunidade científica, devido à considerável reputação de Gino como investigadora, que tem numerosas colaborações e é co-autora de dezenas de artigos científicos.

O caso ganhou ainda contornos mais graves depois de outros três investigadores, Uri Simonsohn, Joseph Simmons e Leif Nelson, terem alegado que não só os dados do estudo foram adulterados, mas que Gino tinha conhecimento disso — e que mesmo assim decidiu publicar o artigo.

Os três investigadores, que no dia 17 publicaram no blog Data Colada uma detalhada análise do caso, afirmam ter evidências de que os metadados das folhas de cálculo utilizadas foram manipulados para suportar as conclusões do estudo.

Em agosto do ano passado, os mesmos investigadores tinham já denunciado no Data Colada o que consideravam ser “evidências de fraude num importante estudo de campo sobre desonestidade”. As acusações visavam Dan Ariely, autor de um outro estudo citado no artigo de Gino.

“É mesmo verdade, dois cientistas diferentes falsificaram dados em dois estudos independentes apresentados num artigo sobre desonestidade”, dizem os investigadores no post.

Em declarações ao The Guardian, os investigadores dizem que estas preocupações foram levadas ao conhecimento da Universidade de Harvard em 2021, mas não despoletaram quaisquer ações punitivas até agora.

O controverso estudo de Gino foi apresentado num artigo, baseado em três estudos independentes e publicado em 2012 na conceituada revista Proceedings of the National Academy of Sciences — que o retirou nove anos mais tarde, em setembro de 2021, na sequência das denúncias dos três investigadores.

As acusações de desonestidade contra a mais influente cientista que estuda a honestidade estão a abalar a comunidade científica, e colocam em causa a veracidade das conclusões de todos os estudos científicos até agora publicados por Francesca Gino.

São também um rude golpe para as Ciências do Comportamento, campo da Psicologia cuja reputação já viu melhores dias.

Num estudo publicado em 2015 na revista Science, uma equipa de investigadores tentou replicar os resultados de 100 estudos publicados em proeminentes revistas na área da Psicologia.

Em mais de metade dos casos, não o conseguiram fazer — e os resultados dos estudos comportamentais eram particularmente difíceis de replicar.

Armando Batista, ZAP //

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