Documentos encontrados por historiador norte-americano mostram que a primeira revolução bem-sucedida de escravos não foi no Haiti, mas sim no Panamá — mais de dois séculos antes.
A História diz-nos que a primeira rebelião bem-sucedida de escravos aconteceu no Haiti, no dia 22 de agosto de 1791.
Conhecida como Revolução Haitiana, esta foi a insurreição de escravos contra o domínio colonial francês em Saint-Domingue. A revolução só terminou em 1804, com a independência da ex-colónia.
Esqueça tudo o que acabou de ler. A descoberta de um historiador põe tudo em questão e sugere que a primeira rebelião de escravos aconteceu no Panamá.
Assim, o primeiro movimento de autolibertação de escravos não só terá acontecido a quase 1.500 quilómetros do que anteriormente se pensava, mas também mais de 200 anos antes.
Robert Schwaller, historiador da Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, descobriu novos detalhes sobre a chamada a rebelião panamenha no Arquivo Geral das Índias, um repositório no coração de Sevilha, dedicado ao Império Espanhol nas Américas e na Ásia.
Os documentos, escreve a Smithsonian Magazine, revelaram detalhes sobre vários grupos de africanos escravizados dentro e à volta do que hoje é a província panamenha de Colón.
O explorador espanhol Vasco Núñez de Balboa transportou, pela primeira vez, africanos capturados para o Panamá em 1513. Cerca de uma década depois, os escravos começaram a fugir. Começaram por fazê-lo individualmente, mas aos poucos foram crescendo em quantidade.
Os fugitivos, conhecidos como cimarrónes, travaram uma guerra de guerrilha durante décadas contra os espanhóis.
Em 1579, o Supremo Tribunal do Panamá concedeu liberdade permanente ao líder da resistência à sua comunidade de cimarrónes em todos os territórios de Espanha nas Américas. O episódio está relatado no livro “African Maroons in Sixteenth-Century Panama: A History in Documents”, de Robert Schwaller.
O decreto do tribunal, anteriormente ignorado pelos historiadores, marca o sucesso da rebelião dos escravos africanos no Panamá. O evento antecede mais de dois séculos os feitos de Toussaint Louverture na liderança da Revolução Haitiana.
Os cimarrónes firmaram assentamentos à volta da fortaleza espanhola de Portobelo. “O incrível de Portobelo é que as pessoas que vivem lá hoje têm uma ligação direta com as pessoas que vieram do Congo e de Angola, muitos dos quais eram cimarrónes”, escreve Schwaller. “Eles conhecem a sua história, embora poucos estrangeiros a conheçam”.