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Primeira exposição subaquática em Portugal é de Vhils (e vai gerar um novo recife artificial)

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Vhils criou arte a partir de peças de antigas centrais termoelétricas a carvão e fuel. Algumas peças só serão reveladas daqui a alguns anos, por ação da natureza. A intenção é mesmo que o mar “tome conta” das peças.

Cerca de uma dezena de peças compõem a primeira exposição subaquática da costa portuguesa, ao largo de Albufeira, no Algarve, no âmbito de um projeto inaugurado esta terça-feira que reuniu o artista Vhils e a EDP.

Nos últimos seis meses, as obras foram submersas a cerca de duas milhas da costa de Albufeira, numa área de 150 metros, embora algumas delas só venham a ser reveladas daqui a alguns anos, após a ação da natureza, contou o artista aos jornalistas.

“No total foram [submersas] à volta de nove, 10 peças, porque algumas são parte recife e inteiramente pensadas para agregar vida, mas que depois se vão desenrolar em peças também”, referiu Alexandre Farto, conhecido como Vhils, na inauguração do projeto, junto à praia de Santa Eulália, em Albufeira.

Segundo Vhils, a intervenção artística EDP Art Reef é um percurso ao longo das várias peças instaladas naquele espaço, que conta uma história que se vai desenrolando com vários elementos e profundidades, havendo até peças com as quais se pode interagir, revelou.

“Tentei encontrar várias histórias da nossa relação enquanto humanos com o mar, uma história feita de subsistência, de confronto, de tensões, mas também tentar procurar vários pontos em que a nossa história se encontrou com o mar”, explicou.

O artista não tem dúvidas em assumir que este foi o seu trabalho mais complexo e desafiante, não só por ter envolvido uma equipa de muitas pessoas, mas também por ter sido no fundo do mar, um sítio em constante movimento e em que a presença humana não é natural.

Questionado pelos jornalistas sobre quão rápido espera que a ação natural modifique as peças que ali foram submersas, Vhils diz que quase todo seu trabalho é efémero, mas sublinha que, no caso deste projeto, a intenção é mesmo que o mar “tome conta” das peças.

“Aqui em particular as peças estão pensadas mesmo para o mar tomar conta delas. Isso já acontece em algumas e as peças estão feitas também para evoluírem”, prossegue, reiterando que parte delas só vão ser reveladas mais tarde.

Antes de serem submersas a 12 metros de profundidade, as obras que Vhils criou a partir de peças de antigas centrais termoelétricas a carvão e fuel, entretanto desativadas, estiveram expostas na sede da EDP, em Lisboa.

As obras foram concebidas tendo em conta a promoção de um ecossistema favorável ao crescimento de recifes de coral e ao aparecimento de formas de fauna e flora marítimas, pensadas de forma a gerar um novo recife artificial.

Presente na inauguração do projeto, a diretora de mercados da EDP, Catarina Barradas, contou que o desafio era pegar nas peças das centrais desativadas e dar-lhes um olhar diferente, missão que foi entregue a Vhils.

“Trabalhámos com uma série de instituições científicas para garantir que o que estávamos a fazer era o melhor para aquele ecossistema”, assegurou a responsável, notando que o projeto vai contribuir de forma positiva para o seu desenvolvimento.

As peças, que são apenas visitáveis através da prática de mergulho qualificado, foram pensadas de forma a permitir a passagem da fauna local, tendo sido implantados corais vivos resgatados e conservados em cativeiro na sua base.

O local da exposição será monitorizado ao longo dos próximos anos, estando disponível para o estudo científico e ambiental, além das suas vertentes culturais e de consciencialização.

ZAP // Lusa

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