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Pressões políticas originam demissão de toda a redacção do Jornal de Barcelos

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Reprodução / Jornal de Barcelos

O jornal mais antigo de Barcelos poderá nunca mais aparecer nas bancas. Em causa a pressão de um condenado vice-presidente da Câmara Municipal.

A redacção do Jornal de Barcelos – o mais antigo no concelho – demitiu-se em bloco nesta semana. Ninguém trabalha no jornal, agora.

Há dois meses, Domingos Pereira, vice-presidente da Câmara Municipal de Barcelos foi condenado a 34 meses de prisão. É acusado de corrupção: terá recebido 10 mil euros para garantir um emprego a um jovem. Recorreu e está à espera de nova decisão. E o mesmo autarca é suspeito de gestão danosa em fundos comunitários.

O que une estes dois casos? Muita coisa.

Nesta quinta-feira o director do jornal anunciou que a edição mais recente não chegou às bancas. Porque “calaram o Jornal de Barcelos!”, lê-se na publicação no Facebook.

Em declarações ao jornal Público, o director Paulo Vila acrescentou que todas as pessoas da redacção também se demitiram: “Foram quatro jornalistas, sendo que um deles está em regime de prestação de serviços. Neste momento a redacção não tem ninguém”.

E explicou porquê: o processo de fundos comunitários que envolve o vice-presidente da Câmara originou pressões políticas sobre o jornal.

“O autoritarismo tomou conta de Domingos Pereira. Não é de agora, é certo, como também não são de agora as pressões incessantes exercidas pelo vice-presidente da Câmara para que o Jornal de Barcelos não denunciasse o escândalo com a gestão de fundos comunitários em que se envolveram a ACIB e o seu presidente, João Albuquerque, entre outros pretensos defensores da moral e dos bons costumes, já depostos”, escreveu.

“As mais recentes tentativas de ingerência de Domingos Pereira nas opções editoriais do Jornal de Barcelos são intoleráveis, antidemocráticas, violam grosseiramente os princípios constitucionais da liberdade de imprensa, liberdade de expressão e comunicação, desobedecem à Lei de Imprensa e ao Estatuto do Jornalista e, por último, consubstanciam uma atitude desonrosa e inapropriada com as funções públicas que exerce”, continuou.

“A verdade é, muita vezes, incómoda e tem um preço. E é tanto mais incómoda e combatida quanto maior forem os interesses ocultos e as (falsas) aparências que se querem conservar, sejam eles padres ou políticos”, criticou o agora ex-director.

No Público, Paulo Vila acrescentou que o jornal “tomou uma posição, dizendo que a permanência de uma pessoa condenada por corrupção (no caso do emprego garantido) tem de ter consequências políticas”.

Paulo Vila que não há motivos financeiros para esta saída em bloco, mas a cooperativa que detém e financia o jornal indicou que a publicação falhou nas metas financeiras e “não há dinheiro para pagar a impressão” do jornal.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

8 Comments

  1. Se não era um jornal independente, não faz falta nenhuma, outros mais não confiáveis andam por aí, até quando!?

  2. Caro Zap

    Talvez fosse interessante identificar o partido político a que pertence o visado na notícia. Pelo menos eu gostaria de saber.
    Obrigado.

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