Alegada interferência russa nas eleições levou o caos a Bucareste e a denúncias de golpe de Estado. Presidente cessante lamenta que a situação tenha chegado a este ponto, afirmando “nunca ter violado a Constituição”.
O Presidente romeno, Klaus Iohannis, anunciou esta segunda-feira a sua demissão, reconhecendo as críticas por se manter no cargo após o cancelamento da eleição presidencial de dezembro passado.
“Para poupar a Roménia e os cidadãos romenos de uma crise, abandonarei o meu cargo” na quarta-feira, disse Iohannis, num discurso em Bucareste, quando se iniciou um processo de destituição contra si. AS palavras que podem soar algo contraditórias, tendo em conta o que o chefe de Estado disse de seguida.
“Dentro de alguns dias, o Parlamento romeno votará a minha suspensão e a Roménia entrará em crise”, escreveu ainda Ihoannis, no poder desde 2014.
O mandato de Iohannis deveria ter terminado apenas no final de 2024, mas a primeira volta da eleição presidencial, em 24 de novembro, deu uma vitória surpresa a um candidato de extrema-direita, Călin Georgescu, mas foi depois cancelada devido a suspeitas de interferência russa, uma ocorrência extremamente rara na União Europeia.
O candidato independente conseguiu 22,94% dos votos, num desfecho que deixou a Roménia em choque, segundo a agência Reuters.
As autoridades romenas acusam Georgescu de ter beneficiado de uma campanha de apoio ilícita na plataforma TikTok e a Comissão Europeia anunciou a abertura de um inquérito a este assunto.
Perante esta situação, o chefe de Estado romeno — uma figura liberal e pró-europeia, de 65 anos — decidiu permanecer no cargo até à eleição do seu sucessor, agora marcada para maio.
Desde então, dezenas de milhares de romenos saíram à rua para denunciar um “golpe de Estado” e, após várias tentativas da oposição, o Parlamento decidiu reunir-se esta semana em sessão plenária antes de um possível referendo.
A crise que em breve chegará ao país, segundo o agora ex-chefe de Estado, terá “repercussões no país e, infelizmente, também fora das nossas fronteiras”, explicou Iohannis para justificar a decisão. No poder desde 2014, o Presidente cessante lamentou que a situação política tenha chegado a este ponto, afirmando “nunca ter violado a Constituição”.
O presidente do Senado e líder dos liberais, Ilie Bolojan, deverá, em princípio, garantir o cargo interino até às novas eleições.
As forças de extrema-direita romenas saudaram o anúncio desta demissão. “Esta é a vossa vitória!”, disse o líder do partido AUR, George Simion, na rede social Facebook, referindo-se aos protestos recentes. O surpreendente vencedor da primeira ronda, Calin Georgescu, ainda não reagiu ao anúncio presidencial.
ZAP // Lusa