Presidente moçambicano garante que não há “chupa-sangues” na Zambézia

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Populares garantem que um grupo de indivíduos, durante a noite, retira sangue às pessoas, em Gilé, na Zambézia

Perante a multiplicação nos últimos meses de incidentes marcados por mortes e destruição de bens públicos no centro e norte do país, devido a boatos da existência de “chupa-sangues”, o Presidente da República moçambicano posicionou-se publicamente desmentindo formalmente essa crença.

Rumores acerca da existência de indivíduos “chupa-sangue” – pessoas que durante a noite tiram o sangue a outras, enquanto dormem – voltaram a semear um clima de insegurança em Moçambique, forçando as autoridades a desdobrarem-se em campanhas para “corrigir a desinformação”.

O fenómeno, que remonta ao tempo colonial, surge esporadicamente em alguns distritos do país, tendo no passado motivado homicídios, destruição de propriedades e detenções.

Segundo os rumores que circulam pelos bairros locais, o sangue retirado pelos chupa-sangues e enviado para hospitais, acusação que as autoridades de saúde refutam.

O fenómeno já se alastrou a várias regiões da província da Zambézia. Lúcia Mário, residente em Mocuba, afirma ter sido vítima de um “chupa-sangue”. “Foi num domingo, por volta das 00h00, quando eu estava a dormir. Vi a manta a mexer-se. Pela manhã, a manta estava cheia de sangue. Na sexta-feira voltaram”, conta à DW a alegada vítima.

Tomás Mário Xavier também diz que foi atacado durante a noite: “Eram 21h00. Já dormia. Quando acordei, doente, vi o meu braço direito cheio de sangue. A gente aqui não dorme, estamos com muito medo“.

Uma nova forma de guerra

Falando esta sábado num comício em Nampula, no norte do país, o presidente moçambicano Filipe Nyusi qualificou de falsos os rumores sobre a existência de “chupa-sangues” na província da Zambézia, no centro de Moçambique.

Defendendo que “até agora ninguém se apresentou a uma unidade de saúde como vítima do fenómeno”, o chefe de Estado considerou que “esta acção é concertada e visa fomentar uma nova forma de guerra e semear a discórdia no seio da população“.

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O presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, considera o boato “uma outra forma de guerra”

 

Filipe Nyusi apelou aos líderes comunitários que tenham uma maior intervenção no sentido de esclarecer estes casos. Desde o início do ano, cinco pessoas foram detidas no distrito de Gile, acusadas de espalharem boatos nos bairros.

Campanha de desinformação

“Estamos cientes desta desinformação. Temos acompanhado em algumas comunidades este assunto. Dizem que há um espírito que chupa o sangue durante a noite. Já estamos a trabalhar com os líderes comunitários, porque isso não existe”, assegura o director provincial de Saúde, Hidayat Kassim.

A semana passada, uma pessoa morreu e outras três ficaram feridas em Muralelo, na província de Nampula, quando populares invadiram uma esquadra policial para exigir a libertação de pessoas detidas sob a acusação de ter espalhado boatos sobre a existência de “chupa-sangues”.

Outros incidentes ocorreram nas últimas semanas, a maior parte dos quais na Zambézia, particularmente na localidade de Gilé, onde duas pessoas morreram em confrontos provocados pelo boato de que as autoridades estariam a proteger os “chupa-sangues”.

Entretanto, os médicos afectos ao serviço nacional da saúde na Zambézia também negaram a existência de vítimas do fenómeno “chupa-sangue” e teceram duras críticas aos promotores deste boato, que, para além de vítimas mortais, tem estado a levar as populações a abandonar as suas residências.

ZAP // RFI / VoA / Deutsche Welle

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