Presidente da República argentino cancela viagens para impedir que vice assuma Governo

Presidencia de la Nación Argentina / Wikimedia

Cristina Kirchner, Presidente da Argentina, durante um discurso na Plaza de Mayo.

Cristina Kirchner é parceira maioritária na coligação de Governo e exige, entre outras mudanças, a substituição de ários ministros, secretários e presidentes de organismos públicos. Recentemente, tem mostrado em público o seu descontentamento face à política económica seguida por Fernández.

O Presidente argentino, Alberto Fernández, decidiu cancelar as viagens ao exterior para evitar que a vice-Presidente, Cristina Kirchner, assuma durante a sua ausência e tome decisões que agravem a crise institucional provoca

da pelas renúncias ordenadas pela vice. “O Presidente suspendeu as suas viagens ao exterior”, confirmaram fontes oficiais, reproduzidas pela imprensa argentina.

O Presidente argentino, Alberto Fernández, planeava viajar no começo da tarde de hoje ao México, onde passaria o fim de semana e, de lá, rumaria a Nova Iorque para participar, na terça-feira, de forma presencial, na Assembleia das Nações Unidas. As duas viagens foram canceladas devido à crise institucional que está a pôr o Presidente em xeque.

A viagem ao México destinava-se a participar na Cimeira dos Estados da América Latina e das Caraíbas (CELAC). Já o discurso durante a Assembleia da ONU será virtual.

Cristina Kirchner exige uma reforma ministerial que altere o rumo do Governo e quer também que o ministro da Economia tenha uma política económica expansionista para aumentar o gasto público até as eleições legislativas de 14 de novembro, fundamentais para os planos políticos do Governo de controlar o Parlamento. Alberto Fernández preferia adiar mudanças nos ministérios para depois das eleições, mas, face à crise, vê-se obrigado agora a reformular a sua equipa.

Parceira maioritária na coligação de Governo e detentora do verdadeiro poder, Cristina Kirchner ordenou a demissão de vários ministros, secretários e presidentes de organismos públicos — com as 11 renúncias a provocarem um vazio de poder.

“As renúncias provocam um grave dano no Governo e a carta que Cristina Kirchner publicou revela uma vice-Presidente que ordena ao Presidente que se submeta a ela. O Presidente está em xeque. A situação política é dramática“, aponta à Lusa o analista político Nelson Castro.

“Não sou eu quem põe o Presidente em xeque, mas o resultado eleitoral“, alegou Cristina Kirchner numa carta aberta, publicada nas últimas horas na qual a vice-Presidente se refere à contundente derrota nas eleições primárias de domingo passado.

A magnitude da derrota deita por terra o objetivo de controlar o Parlamento e traduz-se numa reprovação da gestão do Presidente Alberto Fernández, que está a meio do mandato. As eleições primárias tendem antecipar o resultado das eleições legislativas, que se realizam daqui a menos de dois meses.

Na extensa carta, Cristina Kirchner culpa Alberto Fernández pela “derrota eleitoral sem precedentes para o peronismo” e ordena-lhe o que deve ser feito. “Sempre expus ao Presidente o que, para mim, constituía uma delicada situação social. Avisei-o que conduzia uma política de ajuste fiscal errada que teria, invariavelmente, consequências eleitorais”, acusa. “Cansei-me de dizer o mesmo e a resposta foi sempre que eu estava errada“, critica.

Para pressionar, Cristina Kirchner resolveu fazer uma reforma ministerial. “Acreditam realmente que não é necessário, depois de tamanha derrota, apresentar publicamente renúncias?”, questiona. “O Presidente deve relançar o seu Governo e sentar-se com o seu ministro da Economia para rever números“, alegou.

Antes da divulgação da carta de Kirchner, Alberto Fernández publicou nas redes sociais uma declaração na qual referia considerar “não ser tempo para expor disputas“. “A gestão do Governo continuará do modo que eu considerar conveniente. Para isso, fui eleito”, avisou com um destinatário implícito: a sua vice-Presidente.

Porém, perante as renúncias dos ministros, Alberto Fernández prepara-se para uma reforma ministerial e para anunciar um pacote de medidas destinadas a aumentar o poder de compra da classe baixa e média-baixa numa tentativa de reverter o resultado das urnas, exatamente como a sua vice quer.

LUSA //

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