Os preços mundiais da alimentação aumentaram no primeiro trimestre deste ano pela primeira vez desde o máximo histórico, atingido em Agosto de 2012, devido ao aumento da procura na China, às secas nos EUA e à crise na Ucrânia.
De acordo com o Banco Mundial (BM), os preços dos bens alimentares transacionados aumentaram 4%. O agravamento foi mais acentuado no trigo (18%) e milho (12%), respectivamente.
Em resultado, os preços internacionais em abril estiveram abaixo dos de há um ano em apenas 2%, situando-se 16% abaixo do máximo atingido em agosto de 2012, pormenorizou o BM, no seu boletim trimestral sobre preços de produtos alimentares.
“Crescentes preocupações com o clima e a procura de importações – e, em menor extensão, a incerteza associada à situação na Ucrânia – explicam muito do aumento dos preços”, explica o relatório.
Os economistas do BM disseram que o aumento de preços ocorreu apesar de colheitas abundantes em 2013 e projeções repetidas de colheitas recordes e stocks elevados para 2014.
As persistentes condições de seca nos EUA e uma forte procura global, particularmente da China, explicam em parte esta subida de preços.
Mas a Ucrânia, o celeiro da Europa oriental, também contribuiu para a subida dos preços, ao apresentar o maior aumento de preços doméstico para o trigo e o milho.
A Ucrânia, o sexto maior exportador mundial de trigo, viu os preços domésticos do trigo subirem 37%, o que é explicado em parte pela desvalorização da moeda.
No total, os preços internacionais do trigo subiram 18%. “Um aumento de preços tão acentuado não ocorria desde os meses que levaram ao máximo histórico no verão de 2012”, adiantou-se no documento.
Alimentos mais caros potenciam revoltas
Os analistas estão preocupados com a possibilidade de a subida dos preços atingir os mais vulneráveis e poder fomentar tumultos, em resultado da fome, e outros fenómenos de instabilidade social.
“Ao longo dos próximos meses, temos de observar estes preços cuidadosamente, para garantir que qualquer futuro aumento não coloque pressão adicional sobre os mais vulneráveis no mundo”, afirmou a dirigente sénior do BM, Ana Revenga.
Em 2007 e 2008, a subida de preços de produtos alimentares desencadeou dezenas de motins em todo o mundo, incluindo Haiti, Camarões ou Índia.
Seguindo a instituição, registaram-se 51 revoltas por causas alimentares em 37 países desde 2007, muitos dos quais associados a subidas de preços e dirigidos contra as autoridades locais.
Foram os casos das crises na Tunísia em 2011, que desencadeou a designada Primavera Árabe, e na África do Sul, em 2012.
“Os choques decorrentes da subida de preços da alimentação podem desencadear e exacerbar conflitos e instabilidade política, pelo que é vital promover políticas que mitiguem estes efeitos”, aconselhou-se ainda no texto.
/Lusa