249 salvamentos em três dias. As praias devem ser vigiadas fora da época balnear?

E quatro desaparecidos. Nadadores salvadores exigem atribuição de responsabilidade às autarquias e avisam: época balnear “não se pode restringir somente ao verão”. Faltam equipamentos (e educação).

A Autoridade Marítima Nacional (AMN) fez um total de 249 salvamentos nas praias sob sua jurisdição entre sexta-feira e domingo, período em que se registou também o desaparecimento de três pessoas em contexto balnear.

Na última sexta-feira, um marroquino de 16 anos desapareceu em Vila Nova de Gaia; outro jovem, de 22 anos, está desaparecido desde sábado, depois de ter entrado no mar, na praia da Vieira, em Leiria; no domingo, aconteceu a um jovem de 19 anos, na praia da Costa Nova, em Aveiro, locais onde as autoridades marítimas estão hoje envolvidas em diversas buscas por água e/ou terra.

É também referido em comunicado que neste período de subida das temperaturas e sol, ocorreu um quarto desaparecimento, fora de áreas balneares. O caso é relativo ao jovem de nacionalidade cabo-verdiana e nascido em 1998 que caiu à água na zona do Cais do Sodré, em Lisboa. Um amigo lançou-se à agua para salvá-lo, mas acabou por ter de ser ajudado por uma terceira pessoa.

As muitas ocorrências levantam cada vez mais o debate: será que a época balnear deve ser alargada para lá do verão?

Tem de ser todo o ano”, avisam nadadores salvadores

O presidente da Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores (FEPONS) defendeu esta segunda-feira que a época balnear “não se pode restringir somente ao verão” e preconizou um aumento da educação para a segurança aquática.

Alexandre Tadeia reagiu desta forma às várias situações de afogamento registadas este fim de semana em praias portuguesas.

“A primeira medida que se deve tomar é que a época balnear não se pode restringir apenas ao verão, tem que ser muito mais dinâmica tal como é a época de incêndios. Tem de ser todo o ano porque nós temos a utilização das praias durante todo o ano”, disse o responsável em declarações à Lusa.

Alexandre Tadeia percebeu há muito tempo que, “com as alterações climáticas, se iria passar a ter períodos de calor fora do que é normal” e lembrou que, em 2020, através de um estudo, a FEPONS conseguiu “correlacionar a subida da temperatura com a morte por afogamento“.

“Isto quer dizer que, quando a temperatura sobe, aumentam as mortes pelo caminho também. Ora, quando nós vimos as previsões de ondas de calor, é óbvio que vimos com ceticismo, porque obviamente as praias não têm vigilância e essa é talvez a primeira medida que se deve tomar”, afirmou.

Tadeia sublinhou não estar a falar de uma vigilância como aquela que acontece durante o verão, mas um dispositivo diferente, dando o exemplo do que já acontece em algumas praias com viaturas que fazem essa vigilância todo o ano, como na Nazaré, na Póvoa de Varzim e na Fonte da Telha.

“São bons exemplos daquilo que se faz a nível nacional e essa é a primeira grande medida: alargar cabalmente [a vigilância]”, frisou.

Faltam equipamentos (e educação)

De acordo com o presidente da FEPONS, é igualmente necessário “responsabilizar as autarquias pela assistência a banhistas, porque neste momento continuam a empurrar para os concessionários [de praia] uma responsabilidade que já é sua desde 2018”.

“Se não forem as autarquias, obviamente não é possível implementar este sistema o ano inteiro, nem é possível ter equipamentos que, de facto, protejam o nadador-salvador e que com os quais possamos fazer prevenção”, salientou, enumerando equipamentos como motas de água, torres [de vigilância] e moto-quatro.

Além desses equipamentos, que “são fundamentais” para a vigilância, o responsável sublinhou também a importância de se aumentar a “educação para a segurança aquática nas escolas portuguesas”.

“Sem dúvida que, mesmo que nós tenhamos as praias vigiadas durante todo o ano, todas as praias portuguesas, tem que haver uma questão de cultura, de educação, que neste momento não existe. Apenas temos duas páginas do manual da terceira classe, que abordam a segurança aquática e isso é muito pobre, tendo em conta os 12 anos de escolaridade”, reconheceu.

Alexandra Tadeia considerou que “os portugueses não conhecem os perigos das praias e dos rios” e, aqueles que conhecem, “não os valorizam”. “Portanto, tudo isto, de facto, faz com que nós tenhamos neste momento, e sempre que existe um pico de calor fora daquilo que nós chamamos a época balnear, temos sempre esta horrível questão”, identificou.

Oeiras já prepara uma antecipação da vigilância para 2025, de acordo com o Jornal de Notícias. Viana do Castelo, Gaia, Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Almada, Albufeira, Sintra, Cascais, Costa de Caparica, Nazaré e Matosinhos também já o fazem, com as quatro últimas a socorrerem todo o ano.

Cuidados a ter perante “um mar de inverno”

A AMN recomenda à população uma série de cuidados devido à continuação de bom tempo, lembrando que nesta época do ano ainda há “um mar de inverno” e “um risco elevado devido aos efeitos da agitação marítima”.

Entre as recomendações, a AMN apela que se vigie permanentemente as crianças, não permitindo que se afastem e que se mantenham sempre próximas de um adulto. Não se deve também virar as costas ao mar, oferecendo sempre uma distância de segurança em relação à linha de água, para evitar ser surpreendido por uma onda.

A AMN apela ainda que, caso se testemunhe uma situação de perigo dentro de água, se peça ajuda através do 112 e que não se entre na água.

ZAP // Lusa

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