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O povo português é triste? Quem disse?

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Bastonário da Ordem dos Psicólogos confirma que já lá vai o tempo em que ir a um psicólogo ou a um psiquiatra era “dar parte de maluco”.

O fado, a saudade, a nostalgia… Tudo isto parece constante e fica a sensação de que o povo português é triste por natureza.

Mas quem disse isso?

Não há nenhum dado científico que nos possa afirmar isso como um dado concreto. Somos um povo com tristezas e alegrias como qualquer outro“.

A resposta foi dada por Francisco Miranda Rodrigues, bastonário da Ordem dos Psicólogos.

Nesta entrevista ao jornal i, Francisco confirmou já lá vai o tempo em que ir a um psicólogo ou a um psiquiatra em Portugal (e não só) era “dar parte de maluco”.

Mudança e trabalho

Mais portugueses passaram a encarar uma ida ao psicólogo como normal: “É um objectivo que tem sido acompanhado de perto pelo Centro Nacional de Saúde. Há que implantar soluções de acompanhamento para as pessoas que precisam disso”.

“É um pressuposto de mudança sobre como os portugueses estão a encarar a sua saúde intelectual e sentimental que são básicas para que possam ter sucesso em outros campos ou, pelo menos, que se sintam bem com as suas situações profissionais e familiares, por exemplo”.

As empresas também têm mostrado “abertura grande” sobre os problemas psicológicos dos seus trabalhadores.

Precisamente no trabalho, há comportamentos comuns: “As pessoas irritam-se, desistem, persistem. Há muitas que entram em confusão e deixam de comparecer no trabalho como se o trabalho fosse, por si só, a razão da sua debilidade”.

“Depois, temos as pessoas que reagem de formas diferentes para com os outros: zangam-se, ressentem-se, culpam-se e arrependem-se”, descreveu.

Pandemia

O bastonário da Ordem dos Psicólogos repetiu a ideia de que a pandemia prejudicou muita gente: “Obrigou a novos hábitos, distanciou as pessoas, deixou muitas sem se poderem deslocar e estar com os mais próximos, provocou muitas situações preocupantes de solidão, sobretudo na faixa etária mais velha, quebrou rotinas, trouxe sentimentos fortes e com os quais é preciso lidar…”.

Com diversos estudos a mostrar que o número de casos de depressão e de ansiedade aumentaram muito, nos últimos três anos, e porque “a tristeza é uma sensação que pode agravar-se e permanecer como um fator de diminuição das capacidades de um indivíduo”, agora “entramos naquilo que chamamos situação depressiva”, que preocupa o responsável.

Francisco Miranda Rodrigues salienta que, sobretudo em casos que pessoas que não admitem que podem ter uma depressão, é “muito importante que o ciclo de amigos, de familiares, de pessoas mais próximas, esteja atento aos sintomas da pessoa em causa e o convençam a procurar ajuda“.

“É perfeitamente compreensível que alguém que está a entrar em depressão recuse essa realidade, que tenha propensão para não lhe dar importância. E isso é o pior que pode fazer porque acabará por se distanciar, entrar em momentos de tristeza ou frustração, passar a ter atitudes anti-sociais. É preciso ter em conta os sinais de alerta e agir em conformidade”, repetiu.

Até porque agora há mais material de consulta do que antes da pandemia: “Estamos numa fase de explicar às pessoas os transtornos em que se viram envolvidas e elas percebem melhor as dificuldades que tiveram de atravessar, principalmente as dificuldades económicas que advieram do desemprego”.

Dependência dos químicos

Francisco abordou os químicos (medicamentos), que continuam a ter um “papel importante na estabilização do humor. Mas essa intervenção deve ser acompanhada pelo que chamamos de psicoterapia. É preciso encontrar um equilíbrio entre as duas componentes”, indicou.

Para deixar uma depressão sem recursos a químicos ou fármacos, é preciso que a pessoa afectada “tenha um conhecimento absoluto não apenas sobre os seus sintomas como também sobre o que provocou essa situação. Além de exigir uma fortíssima vontade mental e um juízo muito claro do seu envolvimento com os outros”.

E, em Portugal, essa saída “limpa” até seria útil: “Devemos preocupar-nos e muito com a dependência dos químicos. Nós e os espanhóis estamos no topo da lista dos maiores consumidores de anti-depressivos da Europa“.

“Os químicos são úteis mas não podem ser a resposta para quem se sente angustiado ou ansioso. Antes de entrar pelo caminho dos fármacos deve escolher um psicólogo que o ajude a perceber de onde vem essa angústia ou ansiedade e tentar perceber como combatê-la de forma a não seguir pela solução do vício. Que neste caso até pode ir ao exagero dos que se tornam adictos”, reforçou.

Como sei que estou com doença mental?

O bastonário da Ordem dos Psicólogos explica: “Há uma série de sinais aos quais temos de estar sempre atentos. Eles avisam-nos sobre o que está a acontecer dentro do nosso cérebro. Diria que é fundamental não negar! E falar sobre aquilo que o preocupa, que o angustia”.

“Não procurar o isolamento nem atirar as preocupações para trás das costas. Ter abertura para conversar com alguém de confiança e procurar ajuda médica sem receio de preconceitos. Se se sentir ansioso, angustiado, com pensamentos negativos constantes, é para isso que nós, os psicólogos, servimos. Para dar acompanhamento e ajudar a debelar a doença. Negá-la é a pior coisa que pode fazer.

No geral, Francisco Miranda Rodrigues considera que a Psicologia pode ser ainda “um campo desconhecido ou pouco explorado mas vai infiltrando as suas raízes em áreas nas quais servirá, daqui para a frente, como rede de segurança para as pessoas que estão em fase de fragilidade”.

ZAP //

2 Comments

  1. Os portugueses são pessoas boas na maioria, mas há exceções de alguns muito inflamados por qualquer motivo. Pessoas boas, porém, pavio curto. Outro porém, falam muitas asneiras, e na maioria são pessimistas, no primeiro tempo já desistem e desconfiados, principalmente com brasileiros.

  2. O povo português não é triste, não há evidência científica de facto, mas é muito deprimido e muito dependente de anti-depressivos. O que esta notícia não explica é que, para além de sugerir é que é muito difícil a pessoa sair de uma dificuldade sem recurso a drogas é muito difícil, e é ainda mais difícil depois de tomar drogas, de enfrentar novos problemas na vida. Ou seja, há uma dependência que se mantém para o resto da vida do paciente (ainda que pelo meio faça algumas pausas) e ele retorna sempre à solução química. Isto é muito vivenciado por todos nós, familiares, conhecidos, muito comum dentro das empresas sobretudo as que exigem competitividade entre colegas, etc. As vezes mais vale fazer uma avaliação da situação pessoal, procurar a razão do incómodo e mudar essa circunstância andes de ser mudar irreversivelmente a si próprio.

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