Depois do Poupas e os M&Ms, a XBOX é a nova arma da esquerda “woke” para “recrutar crianças”

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jbouie / Flickr

Ted Cruz, senador republicano do Texas

Uma nova definição da XBOX vai permitir aos utilizadores poupar energia e reduzir a sua pegada ecológica. A mudança está a suscitar muitas críticas entre os Republicanos.

Depois do Poupas da Rua Sésamo, o Super-Homem, os M&Ms ou brinquedo do Senhor Cabeça-de-Batata, é agora a vez da XBOX ser o alvo dos Republicanos que acreditam que a consola de videojogos se tornou “woke”.

As novas consolas vão incentivar os jogadores a optar por uma definição recentemente adicionada que permite reduzir o consumo energético e pegada ecológica, deixando os utilizadores fazer actualizações no modo de suspensão em alturas do dia que geram menos emissões de carbono.

A XBOX alega que este novo modo de poupança de energia pode ter um “impacto significativo” se for usado colectivamente. “Por cada duas consolas que mudam para o Shutdown durante o ano, vamos reduzir uma quantidade de carbono equivalente àquela removida por uma árvore plantada há uma década”, defende a empresa.

A nova característica integra o objectivo da Microsoft de ter emissões de carbono negativas e produzir zero resíduos até 2030.

Vários rostos da direita norte-americana acreditam que esta mudança sinaliza que a consola está a agora a ceder à pressão do politicamente correcto. A pivô da FOX News Ainsley Earhardt e o radialista Jimmy Faila trouxeram o tema a discussão na terça-feira.

“É louco o que estão a fazer, mas nós percebemos o que é. Eles não vão mesmo compensar as emissões. O nível de redução é infinitésimo. Mas estão a tentar recrutar os seus filhos para as políticas do clima numa idade mais jovem. Deixá-los conscientes do clima já”, afirmou Faila, ao que Earhardt concordou prontamente: “Tem razão, eles estão a ir atrás das crianças”.

Os factos contrariam a tese de que a mudança serve para “recrutar crianças”. A maioria dos entusiastas por videojogos nos Estados Unidos são adultos entre os 18 e 35 anos e os jogadores menores são apenas 24% do público, relata a VICE.

“Qual é o propósito dos videojogos? É deixar as crianças ser crianças. Mas agora eles sentam-se, pegam no comando e recebem mensagens tipo ‘já agora, o mundo está a arder’. Sabem o que quero dizer? Eles só querem jogar o jogo!”, reforça Faila.

Esta afirmação, novamente, não é sustentada. A opção para se mudar o consumo energético só pode ser acedida nas definições da consola, não aparecendo nenhuma mensagem invasiva aos outros utilizadores.

Ted Cruz, Senador Republicano do Texas, juntou-se logo ao coro de críticas no Twitter. “Primeiro os fogões a gás, depois o café, agora estão a ir atrás da sua XBOX”, escreveu.

Guerras culturais adensam-se

Este caso é apenas mais um numa longa lista de exemplos recentes das guerras culturais e da “cultura do cancelamento” nos Estados Unidos.

Em 2021, por exemplo, a Hasbro foi amplamente criticada por retirar o “Senhor” antes do nome do famoso brinquedo “Senhor Cabeça-de-Batata”, que foi até uma das personagens do filme Toy Story.

A empresa justificou a mudança dizendo querer “promover a igualdade de género e a inclusão”. Greg Gutfeld, comentador da Fox News, criticou a decisão e acusou a Hasbro de “castrar” o brinquedo em forma de batata e o jornalista britânico Piers Morgan afirmou que “estes imbecis woke estão a destruir o mundo”.

O famoso pássaro Poupas de Rua Sésamo foi outro alvo. Em Novembro de 2021, a personagem foi usada numa campanha de incentivo à vacinação das crianças contra a covid-19, o que desencadeou a fúria Republicana.

“Recebi a vacina contra a covid-19 hoje! A minha asa está um pouco dorida, mas vai dar ao meu corpo uma ajuda na protecção que me mantém a mim e aos outros saudáveis”, disse o pássaro.

Ted Cruz foi novamente uma as vozes mais audíveis no coro de críticas contra esta “propaganda do Governo… para a sua criança de cinco anos!”. Lisa Boothe, apresentadora da Fox News, concordou, considerando que é “perverso fazer uma lavagem cerebral às crianças que não estão em risco devido à covid”.

Já em 2020, uma outra personagem da série infantil esteve envolvida numa polémica semelhante — no pico dos protestos do movimento Black Lives Matter, Elmo foi convidado pela CNN para discutir a igualdade racial.

O Super-Homem foi outro alvo da ira conservadora. Em Outubro de 2021, a DC anunciou que na sua nova BD o novo Super-Homem, filho de Clark Kent e Lois Lane, o super-herói seria bissexual. A série acabou por ser cancelada em Janeiro de 2022 após apenas 18 volumes devido às vendas abaixo do esperado.

A mudança de imagem dos M&Ms foi um dos exemplos mais caricatos. Há cerca de um ano, estes chocolates de amendoim provocaram a fúria dos Republicanos por se terem tornado menos sexy, com algumas das personagens a trocar as suas botas de cano alto por sapatos com um salto mais baixo, por exemplo.

“Os M&Ms não vão ficar totalmente satisfeitos até que todas as personagens de cartoons sejam profundamente desagradáveis e totalmente andrógenas. Até ao momento em que não lhe apetece beber um copo com nenhuma delas. É esse o objectivo. Quando já não nos conseguirmos excitar, chegámos à igualdade“, declarou o apresentador da Fox News Tucker Carlson.

A empresa anunciou esta semana o fim da campanha dos “doces porta-voz”, que representava os M&Ms como símbolos de inclusão e luta pelos direitos das mulheres.

Já em janeiro deste ano, os fogões a gás também estiveram no centro de uma polémica. Após a Casa Branca ter anunciado que está a ponderar regular ou até banir o uso de fogões a gás após um relatório ter elencado os riscos que estes têm para a saúde, a resposta fez-se logo ouvir.

Tom Cotten, Senador do Arkansas, escreveu uma coluna na Fox News criticando o “exército woke de Biden“. “Os Democratas estão a ir atrás dos vossos instrumentos de cozinha. O desejo deles de controlar todos os aspectos da sua vida não tem limites, incluindo como faz o seu pequeno-almoço”, considerou.

Terão de arrancar o meu fogão a gás das minhas mãos frias e mortas!“, ripostou também o comentador de direita Matt Walsh. A Fox News teve ainda um segmento onde criticava a administração devido a uma fotografia da primeira-dama, Jill Biden, a usar um fogão a gás no ano passado. Biden já anunciou entretanto que não vai banir os fogões a gás.

Adriana Peixoto, ZAP //

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