“Não falo espanhol, nem portunhol”. Bolsonaro atira-se a jornalista português após debate tenso com Lula

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Jason Szenes / EPA

Jair Bolsonaro discursa

Jair Bolsonaro e Lula da Silva realizaram o último debate antes da segunda volta das eleições presidenciais do Brasil. Após um debate “quentinho”, foi em clima de tensão que Bolsonaro falou aos jornalistas, reagindo a uma pergunta de um português com um “não falo espanhol, nem portunhol”.

Foi na conferência de imprensa depois do debate que Bolsonaro reagiu com desagrado a uma pergunta do jornalista da RTP1, Pedro Sá Guerra, que queria obter uma reacção do actual presidente do Brasil à imagem que passa do país no estrangeiro, nomeadamente quanto à preocupação de vários líderes mundiais com os resultados das eleições.

Bolsonaro começou por dizer que não tinha entendido a pergunta e foi quando o jornalista se prontificou a repeti-la que disse que não valia a pena porque continuaria a não entender. “Não falo espanhol nem portunhol”, atirou.

Apesar de alegadamente não ter percebido a pergunta, Bolsonaro acabou por notar que tinha tido conversas recentes com Biden e Putin e também com “o mundo árabe“.

A conferência de imprensa após o debate com Lula começou com Bolsonaro a dizer-se disponível para cumprir mais um mandato como deputado federal, o que corrigiu logo de seguida.

Depois, o actual Presidente do Brasil não gostou do tom das perguntas e chegou a bater no púlpito com o punho depois de um jornalista da Folha de São Paulo o ter confrontado com o que tem dito sobre a visita de Lula a um Complexo do Alemão, num acto de campanha eleitoral.

O jornalista questionava a veracidade das alegações de Bolsonaro que tem dito que essa visita foi combinada com traficantes. “Você tem moral para me chamar de mentiroso?”, perguntou um zangado Bolsonaro.

Lula e Bolsonaro em debate tenso que ninguém quis perder

Antes desta conferência de imprensa, Bolsonaro e Lula esgrimiram argumentos e acusações mútuas no último debate antes das eleições presidenciais de domingo, 30 de Outubro.

Em quase duas horas e meia de debate foram vários os temas abordados pelos dois candidatos: economia, covid-19, meio ambiente, saúde, criação de empregos, relações com um ex-deputado que na semana passada disparou sobre polícias, aborto, combate à pobreza, constituição e até Viagra.

Mas, quando um candidato questionava o outro raramente obtinha resposta sobre o tema específico. Tanto Lula como Bolsonaro preferiram discursar apenas sobre as suas agendas.

Lula começou por acusar Bolsonaro de não ter aumentado o salário mínimo durante o seu mandato e relembrou as subidas constantes durante o seu Governo (2003-2010).

“Esse homem, durante quatro anos, não deu um centavo de aumento do salário mínimo”, acusou Lula.

Bolsonaro garantiu, então, um novo salário mínimo de 1.400 reais (265 euros) para o próximo ano, um aumento de cerca de 35 euros face ao actual.

Depois, cada um foi acusando o outro de ser mentiroso.

Trocas de acusações de corrupção

Chegaram também as acusações de corrupção com Bolsonaro a chamar Lula de “descondenado” e de “bandido”. Por outro lado, Lula falou dos alegados casos de corrupção na compra de 51 imóveis com dinheiro vivo por parte da família Bolsonaro.

“Você só está aqui porque tem um amigo no Supremo Tribunal”, disse ainda Bolsonaro acrescentando: “Aqui não tem o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] para te proteger”.

“Porque você não completou as obras e levou água para o Nordeste? Levou foi grana para o seu bolso“, disse Bolsonaro, num apelo aos votos na região nordeste, um ‘bastião’ do Partido dos Trabalhadores.

“Fui julgado por um juiz mentiroso, ganhei 26 processos na Justiça Federal, ganhei dois na ONU e ganhei na Suprema Corte. Eu sou um cidadão idóneo. Agora você que tem 35 processos, que um procurador qualquer dia vai procurar e já tem seis criminais. Se prepare. O povo sabe quem é mentiroso, o povo sabe quem é que roubou”, respondeu Lula.

Num momento caricato do debate, podemos ouvir Bolsonaro a pedir, em tom jocoso, a Lula “fica aqui rapaz”, quando se encontravam lado a lado. “Não quero ficar perto de você”, respondeu Lula enquanto se ia afastando.

“Lula, tu é abortista”

Jair Bolsonaro passou depois a criticar o TSE, sugerindo que os juízes estariam a beneficiar Lula durante o processo eleitoral.

Bolsonaro e a sua campanha alegam que dezenas de rádios deixaram de transmitir a sua propaganda gratuita, à qual todos os candidatos têm direito, uma conclusão assegurada através da contratação de duas auditorias que investigaram o caso.

“Vive todo santo dia a atacar ministros do Supremo Tribunal Federal, todo dia ofende ministros do STF. De vez em quando, vem algum militar do seu Governo dizer para você parar com os ataques”, atacou depois Lula.

Bolsonaro voltou depois aos temas conservadores, falando sobre aborto, drogas e ideologia de género, procurando ligar Lula a esses temas.

Lula, tu és abortista, favorável à liberalização das drogas, ideologia de género”, acusou.

Na resposta, Lula leu uma frase alegadamente proferida por Bolsonaro na qual falava em pílulas abortivas. Bolsonaro respondeu: “Isso foi há 30 anos (…). Eu posso ter mudado. Mas você disse há alguns dias que é a favor do aborto. Assuma que você é abortista, Lula”.

Viagra no debate

O ex-chefe de Estado brasileiro trouxe para o debate a compra excessiva de Viagra por parte do Exército brasileiro. Bolsonaro respondeu que o Viagra não era só para disfunção erétil e que era para “tratamento de próstata”. De seguida provocou Lula: “Você usa?”

O tema da pandemia também foi utilizado por Lula para atacar Bolsonaro dizendo que um dia teria de pagar pelos milhares de mortes pelas quais foi responsável pela sua política negacionista.

“Muitos perderam a vida por causa do comportamento irresponsável do Presidente da República”, disse.

Entre muitos pedidos de resposta quase sempre negados por ambos os candidatos, o mais peculiar foi mesmo um pedido de resposta por parte do jornalista que mediou o debate, William Bonner.

Tudo para esclarecer, após ter sido visado por Bolsonaro, o que quis dizer quando afirmou, numa entrevista, que “o candidato Lula não deve nada à Justiça”. “Como jornalista, eu não digo coisas da minha cabeça. Eu disse isso baseado em decisões fundamentadas do Supremo Tribunal Federal”, notou Bonner, frisando que “algumas dessas decisões são bem recentes”.

Lula da Silva venceu a primeira volta das eleições com 48,4% dos votos e Jair Bolsonaro, que procura a reeleição, recebeu 43,2%. Logo se verá neste domingo, 30 de Outubro, quem será, afinal, eleito Presidente do Brasil.

ZAP // Lusa

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7 Comments

  1. O Lula é contra as armas na população civil. Se ganhar as eleições vamos ver as estatísticas de assassinatos no Brasil daqui a um ano. Estou curioso.

  2. Este Bolsonaro envergonha qualquer um, como é possível um bacoco ignorante como este, ser presidente de alguma coisa, aqui em Portugal nem para presidente de uma associação de reformados servia.

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