Madrid é uma cidade de refúgio de muitos luso-venezuelanos, principalmente jovens da segunda e terceira geração de emigrantes portugueses, que falam melhor castelhano e que tiveram de sair da Venezuela.
“Viemos para Madrid devido à situação política. A economia está muito má. Estamos a tentar encontrar um futuro melhor”, disse Manuel de Castro, um jovem luso-venezuelano que chegou a Madrid há seis meses e já conseguiu arranjar emprego.
Num português hesitante, Manuel de Castro explicou à agência Lusa que ajuda na medida das suas possibilidades a família que deixou na Venezuela: Aqui “já tenho trabalho, já tenho casa, tenho tudo, mas não tenho a família“.
No consulado de Portugal em Madrid, as inscrições de luso-venezuelanos têm vindo a crescer nos últimos anos de forma significativa: de 95 inscritos em 2013, o número passou para 122 em 2014, 240 em 2015, 409 em 2016 e, finalmente, 728 no ano passado.
“Parece-nos evidente, os números demonstram que, com o agravamento das condições sociais, económicas e mesmo políticas na Venezuela, há um aumento correspondente e um aumento do número de chegadas aqui em Espanha”, explicou o embaixador de Portugal na capital espanhola, Francisco Ribeiro de Menezes.
Embora em menor número, o crescimento de inscritos segue o mesmo padrão nos consulados de Barcelona, Sevilha e Vigo.
“Agora estamo-nos a instalar aqui e por mais que goste da Venezuela, porque sou venezuelana e adoro o meu país, acho que não é um bom momento para lá estar”, confidenciou Yelitza Mendes Simões, que chegou a Madrid há dois anos para fazer o mestrado e decidiu ficar a trabalhar.
Os irmãos também já vivem em Espanha e estão todos muito agradecidos por terem a nacionalidade dos pais.
“Cheguei aqui como portuguesa, estou aqui como portuguesa, estou a trabalhar numa empresa portuguesa e acho que a nacionalidade portuguesa foi o melhor presente que me deram os meus pais”, realçou Yelitza.
Centenas de milhares de migrantes tentam todos os anos chegar à Europa, que na maior parte dos casos tem a porta de entrada fechada, e apenas aqueles que têm a nacionalidade de um dos Estados-membros da União Europeia conseguem entrar sem qualquer dificuldade.
“Estamos a falar de um grupo de pessoas e de familiares que têm nacionalidade venezuelana, mas que conservou a sua relação com Portugal e a sua relação de nacionalidade com Portugal”, explicou o embaixador de Portugal em Madrid.
O caso do jovem Ames da Silva é idêntico aos anteriores: se não tivesse o passaporte português, apesar de ter estudos superiores, estaria a trabalhar na padaria do pai que neste momento atravessa uma grave crise.
“Não há farinha no país. Por isso decidimos que eu devia vir para aqui trabalhar. Procurar outra vida”, disse Ames da Silva que chegou há quatro meses à capital espanhola e que agora aguarda que toda a família venha também, “este ano ou no próximo”.
O português acabou o curso universitário na Venezuela e tentou encontrar trabalho nesse país, mas a economia já “estava muito mal” e o salário que lhe ofereceram “não dava para nada”, tendo ainda estado durante um ano na padaria do pai antes de dar “o salto”.
Os luso-descendentes que chegam a Espanha são “pessoas que têm o espanhol mais como primeira língua e seguramente como língua de trabalho do que o português. São pessoas formadas e educadas”, explicou Francisco Ribeiro de Menezes.
“Temos sempre a esperança que o país melhore, que venha outro Governo com outras pessoas, mas os que lá estão não vão sair tão cedo. O melhor é virmos todos para aqui”, afirmou Ames da Silva resignado com a situação.
A Venezuela é um país do continente sul-americano com cerca de 30 milhões de habitantes e uma das maiores reservas de petróleo do mundo, que está a sofrer uma grande recessão económica desde há três anos, quando o preço do crude baixou nos mercados internacionais.
// Lusa