O português Ruben Saraiva está detido numa prisão da Albânia como suspeito da morte de Ardian Nikulaj, um empresário e político controverso que foi abatido com sete tiros. O crime terá sido encomendado pela máfia albanesa.
Ruben Saraiva chegou à Albânia em Fevereiro de 2023, como um turista qualquer, sem levantar suspeitas. Só que não era exactamente um turista como tantos outros, procurando vivenciar as paisagens e a cultura albanesa.
Estamos a falar, antes, de um “turismo criminoso”, como diz a imprensa do país, notando que o português foi “contratado para cometer um assassinato de alto perfil“.
Este mercenário de 28 anos terá passado cerca de três meses a planear o assassinato de Ardian Nikulaj, em conluio com quatro cidadãos britânicos. E fugiu para Marrocos, depois de alegadamente ter cometido o crime, onde foi detido em Maio passado.
Entretanto, já foi extraditado para a Albânia, onde será julgado. Ouvido por um juiz albanês, negou a autoria do assassinato, alegando que estava apenas de férias naquele país, de acordo com a imprensa albanesa.
O momento da chegada de Ruben Saraiva à Albânia, após a extradição, foi partilhado no Facebook pelo ministro do Interior da Albânia, Taulant Balla.
“Graças ao forte apoio da Interpol” e “à cooperação com as autoridades marroquinas, a extradição do cidadão Ruben Ribeiro Saraiva, procurado pela justiça albanesa, acaba de ser concluída”, sublinha Balla.
A “concretização desta extradição” dá “confiança” para continuar os “esforços para acabar com a impunidade contra pessoas escondidas noutros países”, acrescenta o ministro.
“Pelotão de fuzilamento” para abater político “intocável”
Ruben Saraiva é suspeito de ter actuado em conluio com três cidadãos britânicos para executar Ardian Nikulaj, de 51 anos, num “serviço” encomendado pela máfia albanesa.
O empresário e político foi abatido com sete tiros num bar de que é proprietário em Shengjin, cidade albanesa, a 19 de Abril de 2023.
O mercenário português terá sido pago por Edmond Haxhia, um homem com ligações à máfia albanesa e dupla nacionalidade britânico-albanesa. O crime terá surgido no âmbito de uma “guerra” de quase 30 anos entre a família Nikulaj e a família Lekstakaj a que Haxhia pertence.
As duas famílias mantém uma disputa de sangue desde 1997 devido a uma alegada dívida motivada pelo não pagamento do abastecimento numa bomba de gasolina de um dos clãs. Vários elementos das duas famílias foram assassinados nos últimos anos.
Em Dezembro de 2023, meses depois da morte de Ardian Nikulaj, foi também assassinado o seu primo Eno, de 40 anos, enquanto conduzia, num tiroteio durante uma perseguição na estrada.
Ardian Nikulaj era uma figura controversa e muito influente na região de Lezha no norte da Albânia.
Foi candidato às eleições locais albanesas pelo Partido Democrático, em 2021, e seria um dos candidatos à Assembleia Municipal nas eleições marcadas para 14 de Maio próximo. E já tinha estado detido por posse de armas sem autorização, contrabando e falsificação.
O empresário era um alvo difícil para os grupos criminosos albaneses por ser uma figura muito influente que se movimentava entre os mundos da política, dos negócios e do crime. Era considerado um “intocável” e várias pessoas terão recusado muito dinheiro para o matar, segundo a imprensa albanesa.
O conhecido jornalista de investigação albanês Artan Hoxha refere numa publicação no Facebook, que a solução foi contratar “um pelotão de fuzilamento” no Reino Unido junto da “estrutura criminosa mais perigosa” deste país e com o financiamento de albaneses.
“Ainda não está claro, exactamente, quanto é o montante pago, mas trata-se de uma grande quantia de dinheiro, que pôs em acção uma equipa de assassinos desde a Grã-Bretanha até à Albânia”, salienta ainda o jornalista.
Namorada tramou Haxhia e Rúben Saraiva
Ruben Saraiva terá sido o autor dos sete disparos que mataram Ardian Nikulaj enquanto os seus alegados cúmplices britânicos terão sido meros “observadores”. Entre estes está uma jovem mãe inglesa de 28 anos.
Terá sido Haxhia a orientar os restantes suspeitos pela Albânia, nomeadamente tratando da arma do crime, do disfarce usado pelo português e da moto em que se deslocou, uma Scooter Honda 750.
Haxhia terá comprado a mota numa plataforma online como um presente para a namorada – e foi esta que acabou por revelar à polícia detalhes sobre o seu envolvimento no crime, e sobre a ligação a Ruben Saraiva, ainda de acordo com os media albaneses.
Os outros três cidadãos britânicos envolvidos eram informantes que ficaram hospedados no resort do político assassinado, observando todos os seus movimentos, bem como os passos dos seus colaboradores mais próximos, para os reportarem a Ruben Saraiva.
As câmaras de videovigilância do bar onde Ardian Nikulaj foi assassinado registaram o momento do crime e o vídeo foi divulgado nas redes sociais.
O político aparece sentado numa mesa, a beber café, quando surge um homem com um capacete de mota na cabeça, uma máscara cirúrgica a esconder a cara e um colete reflector vestido. Este homem seria Ruben Saraiva.
Após disparar sete tiros, fugiu de mota e passou a fronteira terrestre da Albânia para a Grécia no sudeste do país, seguindo depois para Malta e, finalmente, para Marrocos, onde acabou por ser detido.
Está, agora, em prisão preventiva na Albânia e vai responder pelos crimes de homicídio e posse não autorizada de armas e munições militares.
Os seus cúmplices fugiram para o Reino Unido, incluindo Haxhia, onde já foram detidos, aguardando a extradição para a Albânia.
O álibi “amoroso” inventado
O mercenário português ficou alojado numa pequena aldeia, preferindo-a a cidades albanesas mais movimentadas, para não chamar a atenção da polícia – até porque seria difícil passar despercebido com a sua aparência física africana.
Ruben Saraiva terá “inventado” um alegado interesse amoroso numa jovem albanesa cuja família não o aceitava por ser negro, para despistar a atenção da polícia. O facto de querer ficar perto da jovem justificava o alojamento na aldeia, segundo o jornal albanês Politiko.
O cidadão português também estava a ser alvo de um pedido de extradição da Grã-Bretanha para cumprir pena por tráfico de droga. Mas o pedido da Albânia prevaleceu pelo facto de o homicídio ser um crime mais grave.