Há portugueses a atravessar a fronteira para fazerem compras em Espanha, onde foi eliminado o IVA dos alimentos básicos e onde a inflação é quase metade da nossa.
Pouco antes do fim do ano, o Governo espanhol anunciou a eliminação do IVA de alimentos básicos, como o pão, o leite, o queijo, os ovos, a fruta, os legumes e leguminosas, as batatas e os cereais. Estes produtos tinham um IVA de 4%. Além disso, reduziu de 10% para 5% o IVA do azeite e das massas.
Embora os portugueses vejam com bons olhos a adoção de uma medida semelhante em Portugal, segundo a SIC Notícias, a realidade é que os espanhóis falam numa poupança de “poucos cêntimos”. A medida também tem apenas a duração de seis meses.
Esta foi apenas uma das medidas apresentadas pelo Governo de Pedro Sánchez para combater a subida galopante da inflação. O pacote de apoios ajuda ainda famílias com rendimentos anuais até 27.000 euros, oferecendo um apoio de 200 euros.
Os portugueses que vivem perto da fronteira conseguem beneficiar de combustível mais barato e agora também aproveitam para fazerem as compras em território espanhol.
A taxa de variação homóloga da inflação, em dezembro, foi de 9,6% em Portugal e de apenas 5,8% em Espanha. O ritmo de subida dos preços em Espanha foi, no último mês de 2022, 40% inferior à nossa.
Em Espanha, a inflação teve o pico em julho, nos 10,8%, desacelerando a partir de setembro. Por sua vez, em Portugal, o pico foi registado em outubro, nos 10,1%, sem grande alívio desde então.
Mas, afinal, porque é que a inflação portuguesa é quase o dobro da espanhola? O jornal ECO explica que uma parte da razão está na forma como o instituto de estatística do país vizinho leva em conta a evolução dos preços da eletricidade.
De acordo com o jornal, o INE espanhol inclui no cálculo do índice de preços (IPC) apenas os consumidores que têm contratos do mercado regulado, cerca de 40% do total, cujas tarifas dependem da evolução diária do mercado grossista de eletricidade, reagindo por isso rapidamente à evolução das cotações.
Ao contrário de Portugal, onde é no mercado regulado que os preços da energia são mais estáveis, no outro lado da fronteira isso acontece no mercado livre. Isto faz com que em Espanha a chamada taxa de inflação subjacente, que exclui a evolução dos preços da energia e dos produtos alimentares não transformados, esteja agora acima do IPC.