Alzheimer: Portugal “não está preparado” para medicamento “da esperança”

Medicamento experimental atrasou declínio cognitivo em doentes com Alzheimer. Mas também pode originar efeitos secundários graves.

Esta terça-feira foi um dia promissor, que trouxe esperança, na luta contra Alzheimer.

Foram apresentados os dados sobre um medicamento experimental contra a doença, que conseguiu atrasar o declínio cognitivo.

Este estudo prolongou-se ao longo de um ano e meio contou com a participação de 1.800 doentes com Alzheimer em fase inicial: metade recebeu o medicamento, outra metade um placebo, como é habitual.

A inovação, da responsabilidade das farmacêuticas Eisai e Biogen, chama-se lecanemab. É um anticorpo que remove os depósitos pegajosos de uma proteína chamada beta-amilóide. E as vantagens aumentam quando é tomado na fase inicial da doença.

Terá dado esperança a milhões de pessoas porque reduziu o declínio cognitivo em 27% dos casos.

É promissor mas pode originar efeitos secundários graves: hemorragias cerebrais. O risco de hemorragia cerebral aumenta sempre quando a pessoa toma um medicamento que reduz a beta-amilóide.

Foram mesmo registadas duas mortes devido a hemorragias cerebrais, num estudo de seguimento, mas os dois casos não estarão directamente ligados ao medicamento.

13% dos doentes que ingeriram o medicamento tiveram um edema cerebral potencialmente perigoso.

Apesar destes sintomas, é um dia sobretudo de “esperança”, reagiu João Massano, neurologista no Hospital São João, no Porto.

Porque é o primeiro ensaio clínico que mostra que o medicamento em causa reduz o declínio cognitivo e funcional causado por Alzheimer – apesar de ter sido aplicado em doentes em fase inicial.

Na rádio Observador, avisou no entanto que Portugal “não está preparado” para este medicamento promissor contra Alzheimer.

Porque não tem orçamento para dezenas de milhares de euros por ano, por pessoa (o medicamento deve custar entre 11 mil e 34 mil euros). E, além disso, porque “o sistema em Portugal não está preparado para diagnosticar a tempo e preparar o tratamento como deveria ser executado”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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