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Por que cantam os humanos? 75 cientistas gravaram-se a cantar (e ficaram surpreendidos)

Patrick Savage / University of Auckland

O macedónio Aleksandar Arabadjiev, coautor do estudo, tocou kaval para a pesquisa

Num estudo global, 75 cientistas de 46 países gravaram-se a cantar e a tocar música das suas culturas para examinar a evolução da canção.

A voz humana é talvez o instrumento musical mais antigo e diversificado que conhecemos, capaz tanto de falar como de cantar.

Mas a questão de saber porque é que as pessoas fazem música tem intrigado e confundido os cientistas durante séculos.

Será esta forma de arte simplesmente uma invenção, tal como a escrita, produzida para nos podermos expressar melhor? Será que a acústica surgiu para podermos atrair parceiros? Ou para afastar o perigo?

Haverá algo de profundamente evolutivo na música, inerente a cada um de nós?

Num novo estudo global, publicado a semana passada na Science Advances, 75 investigadores de 46 países decidiram que a melhor forma de tentar responder a esta questão era criar eles próprios melodias.

Gravaram-se a si próprios a cantar canções tradicionais das suas respetivas culturas, com 55 línguas – incluindo Hokkaido Ainu, Basco, Cherokee, Māori, Rikbaktsa, Ucraniano, Xhosa e Yoruba.

Depois, conta a Smithsonian Mag, os investigadores gravaram-se a si próprios simplesmente a recitar as letras das suas canções, sem melodia.

Num terceiro conjunto de gravações, tocaram versões sem palavras das canções em instrumentos, incluindo o tar do Azerbaijão, a flauta de bambu e palmas. Também descreveram as canções com palavras faladas.

“Descarreguei todos os seus cânticos e falas para o meu telemóvel”, diz à Forbes o autor principal do estudo, Patrick Savage, musicólogo comparativo da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia. “E, por vezes, ponho em modo aleatório enquanto ando por aí. Adoro ouvir as canções deles”.

Savage e outros analisaram as várias gravações com duas questões-chave em mente: Há alguma caraterística acústica que seja diferente de forma fiável entre a canção e a fala nas várias culturas? E há alguma caraterística acústica que seja partilhada de forma fiável?

Decidiram testar estas duas questões medindo seis características em cada canção, que incluíam o tempo, bem como a altura e a estabilidade do tom.

Quando concluíram a análise, ficaram surpreendidos por encontrar um trio de consistências: Cantar tende a ser mais lento do que falar, as pessoas produzem tons mais estáveis enquanto cantam do que quando falam e o tom do canto é, em geral, mais alto do que o tom da fala.

“Há muitas formas de analisar as características acústicas do canto em relação à fala, mas encontrámos as mesmas três características significativas em todas as culturas que examinámos e que distinguem o canto da fala”, explica por seu turno Peter Pfordresher, psicólogo da Universidade de Buffalo e coautor do estudo, num comunicado da universidade.

O estudo não fornece uma resposta definitiva para a razão pela qual os humanos cantam, mas a principal hipótese dos investigadores é que a música promove a ligação social.

“As melodias mais lentas, mais regulares e mais previsíveis podem permitir-nos sincronizar e harmonizar e, através disso, unir-nos de uma forma que a linguagem não consegue”, explica Savage à Scientific American.

“Cantar em grandes grupos pode ter sido uma forma de encorajar a coesão social – para o envolvimento da comunidade ou para a preparação para um conflito – e pode ter evoluído separadamente da fala”, explica ao New York Times o primeiro autor do estudo, Yuto Ozaki, musicólogo da Universidade de Keio, no Japão.

“Há algo de distinto nas canções de todo o mundo, enquanto sinal acústico, a que talvez os nossos cérebros se tenham sintonizado ao longo do tempo evolutivo”, afirma Aniruddh Patel, psicólogo da Universidade de Tufts, que não participou no estudo, ao New York Times.

Alguns dos investigadores que participaram tinham formação vocal ou instrumental extensa ou distinções – incluindo a neurocientista Shantala Hegde, cantora de música clássica hindustani, Latyr Sy, um baterista senegalês; e Gakuto Chiba, um campeão nacional do instrumento Tsugaru-shamisen do Japão.

Assim, a pequena amostra analisada no estudo pode ser ligeiramente diferente da de uma amostra aleatória mais alargada.

No entanto, um outro estudo de música realizado de forma independente, pré-publicado a semana passada no bioRxiv, identificou padrões semelhantes em canções representativas de 21 sociedades de seis continentes.

“Isto mostra-nos que pode haver realmente algo que é universal a todos os seres humanos e que não pode ser simplesmente explicado pela cultura”, diz ao New York Times a neurocientista Daniela Sammler,  do Instituto Max Planck de Estética Empírica, que não esteve envolvida no estudo.

ZAP //

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