Não, a NASA não descobriu um universo paralelo com o tempo a andar para trás. É mais uma teoria da conspiração, e a culpa é da ANITA.
Se tem percorrido as redes sociais recentemente, pode ter deparado com alegações sensacionalistas sobre a descoberta pela NASA de um universo paralelo na Antártida.
De acordo com as alegações, este universo paralelo teria sido formado ao lado do nosso durante o Big Bang e estaria a funcionar ao contrário da nossa perspetiva — com o tempo a andar para trás.
Mas será que estas afirmações são verdadeiras? Será que a NASA encontrou realmente um universo gémeo onde o tempo corre ao contrário?
Não, a NASA não encontrou qualquer universo paralelo. As afirmações que circulam nas redes sociais não se baseiam em novas descobertas científicas, mas sim numa interpretação distorcida de estudos antigos.
As origens desta controvérsia remontam a 2020, quando investigadores que trabalhavam com a experiência Antarctic Impulsive Transient Antenna (ANITA) detetaram um comportamento invulgar nos neutrinos — partículas minúsculas, quase sem massa, que raramente interagem com a matéria.
As descobertas da ANITA foram de facto desconcertantes e levaram os cientistas a teorizar potenciais explicações. Uma dessas hipóteses, publicada num artigo em resposta às descobertas, sugeria a possibilidade de um “universo simétrico CPT“, onde o tempo poderia fluir na direção oposta à nossa.
“Neste cenário, o universo antes do Big Bang e o universo depois do Big Bang são reinterpretados como um par universo/anti-universo que é criado a partir do nada”, escreveram os autores do artigo.
As descobertas foram originalmente abordadas pela New Scientist num artigo intitulado “We may have spotted a parallel universe going backwards in time”.
A partir daí, foi o caos na Internet. Artigos publicados em diversos meios de comunicação, incluindo o ZAP, começaram a afirmar, com uma certeza alarmante, que se tratava de provas de um universo paralelo.
No entanto, estes artigos ignoravam o facto crucial: os resultados do ANITA exigiam uma investigação mais aprofundada e não forneciam provas conclusivas da existência de tal universo.
Na altura, Alex Pizzuto, investigador envolvido na análise das deteções do ANITA, recorreu às redes sociais para desmentir as afirmações, recorda a Newsweek.
“O ANITA, um detetor que voa na Antárctida, detectou alguns sinais estranhos. Estes sinais são difíceis (mas não impossíveis) de explicar com os nossos modelos atuais de física”, escreveu Pizzuto no antigo Twitter.
“Os cientistas tentam encontrar formas de modificar a nossa compreensão da física para tornar estas deteções mais plausíveis”, explicou o investigador.
“ALGUMAS destas formas requerem ideias bizarras para além do modelo padrão, como a que está na notícia. No entanto, há também algumas explicações COMPLETAMENTE não exóticas“, salientou Pizzuto na altura.
Então, que fique claro: a ANITA foi à Antártida mas não encontrou um universo paralelo.