Porque é que as pessoas gostam de comida picante?

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Nem todas as pessoas toleram comida picante e as questões que se impõem é porque é que alguns alimentos são picantes e porque é que algumas pessoas gostam deles.

Em primeiro lugar, é preciso ter em atenção que as substâncias químicas que tornam os alimentos picantes não têm como alvo os recetores gustativos, mas sim os recetores de temperatura na língua.

Segundo o Live Science, o picante está relacionado com a sensação de temperatura e por essa razão é que não está incluído na categoria de sabores clássicos, tais como azedo, amargo, doce e salgado.

Para além dos recetores gustativos, a língua tem diferentes recetores de temperatura, alguns dos quais são ativados por alimentos picantes para criar uma sensação de ardor.

“O químico “picante” que reage com a nossa língua é o capsaicina, que vem das pimentas, que desenvolveram o químico como um metabolito secundário para se protegerem dos predadores”, explica John Hayes, diretor do Centro de Avaliação Sensorial da Penn State.

A capsaicina interage num recetor de temperatura na língua chamado TRPV1. Normalmente, o TRPV1 é ativado por temperaturas iguais ou superiores a 104 graus Fahrenheit (40 graus Celsius).

A capsaicina engana o recetor, levando-o a enviar sinais de ardor para o cérebro a apenas 33ºC. Assim, a boca parece estar a arder, apesar de estar à temperatura normal — cerca de 35ºC.

“O que se passa é que os seres humanos são os únicos animais que realmente apreciam esta sensação [de ardor]”, disse Hayes. A maioria dos animais sente-se repelida pela experiência.

Existem várias teorias que explicam por que razão os seres humanos gostam de alimentos picantes, apesar da experiência por vezes dolorosa.

A teoria mais robusta tem tudo a ver com risco e recompensa, disse Hayes.

Um estudo de 2016 publicado na revista Appetite mostrou que o comportamento de risco de uma pessoa era um bom indicador da sua preferência por comida picante.

Por exemplo, se a pessoa gostar de andar de montanha-russa ou de conduzir a alta velocidade, tende a gostar de comida picante.

Tudo se resume ao facto de se obter algum tipo de recompensa ou adrenalina da dor ou do risco, disse Alissa Nolden, cientista alimentar e especialista sensorial da Universidade de Massachusetts.

O consumo de alimentos picantes também pode ser um traço de personalidade que é reforçado em alguns grupos sociais ou culturas.

Um estudo de 2015 publicado na revista Food Quality and Preference revelou que os homens da Pensilvânia eram mais suscetíveis a motivações externas ou sociais para comer comida picante do que as mulheres.

Portanto, pode haver alguma ligação entre o gosto por comida picante e a perceção de masculinidade.

Alguns dos primeiros estudos sobre a preferência por comida picante levantaram a hipótese de que o consumo de comida picante estava relacionado com a ideia de machismo.

No entanto, não encontraram uma diferença na preferência por comida picante entre homens e mulheres na amostra mexicana.

Outra teoria é que a comida picante pode ter oferecido um benefício evolutivo em ambientes quentes, disse Nolden.

Alguns especialistas levantaram a hipótese de que a comida picante era valiosa nessas áreas porque causava transpiração e, portanto, tinha um efeito refrescante.

“Há também um componente genético que ainda não foi totalmente explorado”. É sabido que à medida que as pessoas comem alimentos mais picantes, se tornam insensíveis à capsaicina.

Mas algumas pessoas também nascem com recetores de capsaicina diferentes ou menos funcionais, o que lhes dá uma maior tolerância ao picante desde o início, de acordo com um estudo de 2012 publicado na revista Physiology and Behavior.

Para as pessoas que perderam o paladar, os alimentos picantes podem ser uma porta de entrada para desfrutar de uma refeição.

Por exemplo, a quimioterapia administrada a doentes com cancro pode alterar as células recetoras do paladar, o que significa que os alimentos podem ter um sabor amargo ou diferente do anterior.

Uma vez que os alimentos picantes são detetados pelos recetores de temperatura e não pelos recetores de sabor, as suas sensações de calor podem ser sentidas na mesma.

De facto, alguns estudos sugerem que os doentes com cancro procuram os alimentos picantes para aumentar a sua experiência sensorial durante ou após a quimioterapia.

Assim, a preferência por alimentos picantes provavelmente não é explicada por apenas uma destas teorias. “É provavelmente uma integração de todas”, conclui Nolden.

Teresa Campos, ZAP //

2 Comments

  1. “A maioria dos animais sente-se repelida pela experiência”. Que animais? Na minha varanda existia um vaso com malaguetas, das bem piquantes e no seu período de maior pujança. Um melro que por ali andava, comeu-as todinhas. Dias depois continuou a passear por ali, provavelmente na expectativa de que existissem mais….

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