“Os resultados deixaram-me em choque. Vi uma versão minha em forma de boneca de papel, construída a partir de cliques”.
O Instagram está mesmo no topo das redes sociais em Portugal. Já tinha assumido o lugar de rede social mais utilizada no país, em Setembro.
Agora, e igualmente segundo um estudo da Marktest, o Instagram passou a ser a plataforma preferida pelos portugueses para ver vídeos.
Os números partilhados pelo ECO mostram uma diferença muito mínima: 66,2% dos inquiridos vêem vídeos no Instagram, 66,1% preferem o YouTube.
Estes novos dados confirmam a importância do Instagram no dia-a-dia de muitos portugueses.
Mas a mesma rede social (tal como outras) tem levando a questão: prejudica a saúde mental? Os padrões de beleza e estilos de vida, o medo de ficar de fora, a ansiedade ou os ciúmes – entre outros – podem ser perigosos numa rede “viciante”, reforça o Aiberry.
“Fiquei em choque”
Por ser um vício, Anastasia Micich apagou a sua conta no Instagram quando ainda era uma adolescente. Tinha 18 anos, era viciada no telemóvel, não se conseguia focar e tinha problemas de auto-estima.
Mal confirmou o cancelamento da conta, a sensação foi imediata: “Fiquei logo aliviada de algumas das pressões que sentia desde que tinha a aplicação – instalei aos 13 anos”, relata no Pirg.
E aí começou uma reflexão mais profunda: “Comecei a perguntar-me porque é que o meu feed do Instagram era tão viciante, que não conseguia guardar o telemóvel. Perguntei-me como é que o Instagram sabia exactamente que conteúdo eu continuaria a ver”.
Para tentar perceber isso, e antes de ter decidido apagar a conta, Anastasia tinha pedido ao Instagram para ver que dados é que a plataforma tinha sobre ela. “E os resultados deixaram-me em choque“.
No meio do enorme ficheiro html, estava lá tudo. Tudo que tinha consultado, publicado, espreitado, reagido. Tudo, desde o dia em que fez o download até apagar a conta. Com lista específica para cada tópico. Quando é que viu, a lista dos seguidores, de quem seguia, quando é que passou a seguir.
“O que mais me impressionou foi a longa lista de todos os anúncios que apareceram no meu feed; vi 222 anúncios apenas nos últimos 7 dias antes de eliminar a minha conta”, continua o relato.
Ou seja, cinco anos da vida dela estavam ali. “Ao ver como o Instagram me viu, vi a versão de mim mesma que o Instagram viu. Este ficheiro gigante que o Instagram me enviou era, na sua essência, uma versão minha em forma de boneca de papel, construída a partir de cliques”.
E depois entra outra perspectiva: “O Instagram pegou na minha personalidade e transformou-a num perfil. A minha vida foi reduzida a oportunidades comerciais, com empresas a chamar do outro lado por uma oportunidade de desempenhar um papel na minha vida”.
Voltando à saúde mental, e aos (outros) motivos que originaram a sua saída da rede, Anastasia Micich avisa que o algoritmo do Instagram é mais focado no corpo, em estilo de vida. Mais utilizadores adolescentes sentem-se “pouco atraentes” – e muitos admitem que começaram a sentir isso por causa da aplicação.
Os responsáveis do Instagram sabem isso. Mas a rotina continua.