Polícia moçambicana invade casa de líder da oposição na cidade da Beira

André Catueira / Lusa

Movimentações à porta da casa de Afonso Dhlakama, líder do Renamo, no momento da sua detenção

Movimentações à porta da casa de Afonso Dhlakama, líder do Renamo, no momento da sua detenção

Forças especiais da polícia moçambicana invadiram esta sexta-feira de manhã a casa de Afonso Dhlakama, presidente da Renamo – Resistência Nacional Moçambicana, o maior partido de oposição -, na cidade da Beira, centro de Moçambique, e prendeu guardas do partido de oposição.

Um dia depois de ter reaparecido na serra da Gorongosa, ao fim de quase duas semanas em lugar desconhecido, era esperada uma conferência de imprensa do líder da oposição às 9h (8h de Lisboa) na sua casa no bairro das Palmeiras, na Beira.

Àquela hora, forças da Unidade de Intervenção Rápida (UIR e Grupo Operativo Especial (GOE) da polícia moçambicana vedavam o acesso dos jornalistas ao perímetro da residência de Dhlakama, que permanecia no seu interior, e evacuavam residências vizinhas.

Ao início da tarde, além da polícia, encontravam-se reunidos com Afonso Dhlakama a governadora da província de Sofala, Helena Taipo, o arcebispo da Beira, Claudio Zuanna, e mediadores do processo de diálogo entre Governo e Renamo, alguns dos quais também líderes religiosos.

A Delegação da União Europeia (UE) em Moçambique manifestou apreensão com os acontecimentos. “Enquanto parceiro de longa data do povo moçambicano, a União Europeia segue com apreensão os desenvolvimentos na Beira”, declara um comunicado da missão diplomática, feito em acordo com todas as representações do bloco europeu acreditadas em Maputo.

O comunicado avisa que “os esforços empreendidos nos últimos dias com vista a inverter a escalada das tensões militares e a criar um clima de confiança entre as partes arriscam-se a ser postos em causa”.

A Delegação da UE em Moçambique pede “uma solução pacífica e negociada” para a atual crise política, com base num “compromisso permanente com a via do diálogo e da não-violência”.

Contactado pela Lusa, o Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique em Sofala disse ser “inoportuno” pronunciar-se sobre os acontecimentos da manhã de hoje.

Crise política

A invasão da casa de Afonso Dhlakama na Beira acontece um dia depois de ter reaparecido na serra da Gorongosa, ao fim de quase duas semanas em lugar desconhecido, após ter desaparecido no dia 25 de setembro em Gondola, província de Manica, durante confrontos entre os homens armados da oposição e as forças de defesa e segurança.

Antes dos acontecimentos de hoje na Beira, registaram-se três incidentes em três semanas com a Renamo, dois dos quais envolvendo a comitiva do presidente do partido.

A 12 de setembro, a caravana de Dhlakama foi emboscada perto do Chimoio, província de Manica, num episódio testemunhado por jornalistas e que permanece por esclarecer.

A 25 do mesmo mês, em Gondola, também na província de Manica, a guarda da Renamo e forças de defesa e segurança protagonizaram uma troca de tiros, que levou à partida do líder da oposição para lugar desconhecido.

A Renamo disse que foi emboscada, enquanto a polícia acusou Dhlakama e os seus homens de terem iniciado o incidente ao abrirem fogo sobre uma viatura civil, matando o motorista, e disse que terão de responder criminalmente por homicídio.

Uma semana mais tarde, forças de defesa e segurança e Renamo confrontaram-se novamente em Gondola, com as duas partes a responsabilizarem-se mutuamente pelo começo do tiroteio.

Moçambique vive novos momentos de incerteza política, provocada pela recusa da Renamo em reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de outubro do ano passado e pela sua proposta de governar nas seis províncias onde reclama vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.

/Lusa

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