Polícia invadiu Assembleia Municipal de Lisboa após acusação de racismo a deputado do Chega

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jad99 / Wikimedia

Edifício da Câmara Municipal de Lisboa

Dois agentes da PSP entraram em plena reunião da Assembleia Municipal de Lisboa (AML) no Fórum Lisboa, após terem sido chamados pelo deputado do Chega, Bruno Mascarenhas, que apresentou queixa contra o independente eleito pela coligação PS/Livre Miguel Graça, após ter sido acusado de racismo.

O incidente ocorreu por volta das 16:45 horas desta terça-feira e apanhou os deputados municipais de surpresa, sem saberem o que se estava a passar. A presidente da AML, Rosário Farmhouse (PS), interrompeu os trabalhos para esclarecer a situação.

Foi já minutos depois disso que Bruno Mascarenhas revelou à Lusa ter chamado a PSP para apresentar “uma denúncia” contra o deputado Miguel Graça, que o acusou de fazer uma intervenção racista e xenófoba.

Mesquita no Martim Moniz foi o motivo da discórdia

Tudo começou com o deputado do Chega a saudar as notícias de que a construção de uma mesquita no Martim Moniz vai ser repensada.

“A câmara entendeu que, realmente, era um perigo para a cidade que haja ali a questão do Islão radical”, afirmou, frisando que “uma coisa é acolher bem quem cá vem, outra coisa é defender a política de guetos“.

“A multiculturalidade não é mais do que defender a política de guetos”, reforçou Bruno Mascarenhas.

Miguel Graça reagiu a esta posição, considerando que foi “uma declaração racista e xenófoba”. “O racismo é crime em Portugal”, alertou também, pedindo que o excerto da acta com a intervenção de Bruno Mascarenhas seja enviado à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR).

Os recados de Moedas

O presidente da Câmara de Lisboa (CML), Carlos Moedas (PSD), também se dirigiu ao deputado do Chega para notar que é importante “olhar para os erros da história” e lembrando que a Segunda Guerra Mundial “começou numa guerra de um partido nazi contra o que era multicultural”.

“Essa luta contra aquilo que é multicultural é sempre a origem da guerra, e o ser multicultural é a base de tudo numa sociedade”, inclusive da inovação e do desenvolvimento, sublinhou o autarca.

“Temos de ter muito, muito, muito cuidado, senhor deputado, com este tipo de lógica, porque a multiculturalidade é exactamente o contrário dos guetos, o ser multicultural é podermos realmente avançar num mundo melhor e mais tolerante”, acrescentou Moedas.

Invasão da PSP “não podia ter acontecido”

Após o retomar da reunião da AML, a presidente Rosário Farmhouse esclareceu os deputados que foi Bruno Mascarenhas quem chamou a PSP para apresentar uma queixa.

“Inadvertidamente, a polícia entrou dentro da Assembleia Municipal e interrompeu os trabalhos”, lamentou, sustentando que alertou os dois agentes da PSP de que “isso não pode acontecer, não podia ter acontecido“.

Os polícias entraram “acompanhados por um adjunto do Chega”, disse ainda Rosário Farmhouse que, enquanto presidente da AML, é a única que tem competência para chamar a PSP.

Nesse seguimento, os grupos municipais de PSD, PS, Bloco de Esquerda, Livre, PCP, Aliança, Iniciativa Liberal, MPT, CDS-PP e PAN protestaram contra a atitude do deputado do Chega. Foi “inadmissível” e representa “uma violação dos princípios da democracia“, alertaram.

“Aquilo que aconteceu hoje aqui não pode voltar a repetir-se. Os lisboetas votaram em nós, porque acreditam que somos capazes de mudar Lisboa para melhor e não para fazermos estas figuras tristes que fizemos, todos, cada um na sua medida, todos nós, fruto de um acontecimento que não devia ter acontecido”, constatou a presidente da AML, pedindo desculpas aos lisboetas por um momento que “envergonha”.

Rosário Farmhouse adiantou ainda que será averiguado o que se passou, através dos serviços jurídicos da AML.

PSP está a investigar actuação dos agentes

A PSP já instaurou um inquérito a estes incidentes, confirmando, em comunicado, ter sido chamada pelo deputado do Chega na sequência da queixa contra Miguel Graça.

A força de autoridade fala de uma “situação de injúrias e distúrbios entre deputados municipais” e nota que quando chegaram ao local, os dois agentes da PSP entraram no auditório onde decorria a reunião municipal “a pedido de um suposto interveniente que se encontrava no exterior”.

Após terem “sustido as diligências no interior do auditório”, os agentes da PSP “finalizaram no exterior a recolha da informação relativa à ocorrência e da identificação do alegado ofendido“, acrescenta o comunicado da PSP.

Além da queixa em si, a PSP está também a averiguar as “circunstâncias da actuação” dos agentes “durante o decurso da sessão da Assembleia Municipal”.

ZAP // Lusa

7 Comments

  1. Não é de surpreender que agentes da Polícia se tenham prestado a este serviço. Pelos vistos, o Chega é o partido favorito naquela instituição. Esta demonstraçao abusiva de força esclarece as pessoas sobre o que sucederá no País se o Chega alcançar o poder. O PSD que aprenda com a Iniciativa Liberal, outro partido da ala direita, a não pactuar com os extremistas.

  2. Os indícios estão todos aí. Não percebo como existem acéfalos que continuam a votar nesta verdadeira chaga da nossa democracia, chamada chega (letra pequena é propositada).

    A ser possível (eu sei que não é…), era ter um país à parte para os apoiantes desse partido, com o Sr. Ventura como Rei (com os tiques que tem no seio do partido, suspeito que só o titulo de Rei o satisfaça).

  3. Nada de surpreendente , este grupo Politico , mostra bem aquilo que é , alérgico a Democracia e com un fedor a Ditadura ! …… considerou-se ofendido ? ……… na casa da Democracia , pode pedir defesa da honra , e expor un contraditório ! .. quanto aos Militares que se sujeitaram a tal cena , espero que sejam penalizados severamente ! Não estamos no Brasil nem nos USA !

  4. Só digo uma coisa. Sou português e branco. Fui alvo de séctarismo e racismo por uma pessoa negra numa grande loja de alimentação. Fiz uma reclamação á ASAE e o que se passa?. NADA. Se fosse um branco que tivesse feito isso, então este já teria sido julgado e condenado por racismo. Isso tem que acabar, “white lives matter too”.

  5. O problema dos partidos ditos centrais que tem Governado o Pais ,sao corruptos ,tem muitos lobbies ,escandalos de milhoes a toda hora e estao a empurrar a Populaçao para votar nos extremistas

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