A polémica em torno de uma estátua de Michelangelo numa escola na Flórida

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A directora de uma escola na Flórida demitiu-se após receber queixas de pais que consideram que o estudo da estátua de David é equivalente a expor as crianças a pornografia.

A estátua de David de Michelangelo está no centro de uma polémica numa escola em Tallahassee, na Flórida.

Em causa está a queixa de pais que alegam que os alunos do sexto ano estavam a ser expostos a pornografia quando estudavam a estátua da figura bíblica David, que mata o gigante Golias, esculpida pelo famoso artista italiano e uma das obras de arte mais influentes do movimento renascentista.

Um dos pais queixou-se que a nudez da estátua pode ser considerada material pornográfico e outros dois exigiram ser informados previamente sobre o conteúdo das disciplinas. O currículo também incluiu imagens das pinturas “A Criação de Adão” e “Nascimento de Vénus”.

A reclamação acabou por levar a que a directora da escola, que está afiliada a uma faculdade cristão conservadora, se demitisse. Hope Carrasquilla afirma que recebeu um ultimato e que teria de se demitir ou ser despedida, escreve a BBC.

Não foi explicado o motivo para o seu afastamento, mas a imprensa local especula que a causa tenha sido o estudo da estátua. Em entrevista ao Slate, Barney Bishop III, o presidente da direcção da escola, explica a decisão afirmando que o anterior director tinha enviado uma nota aos pais a avisá-los de que a estátua de David seria abordada nas aulas.

Hope Carrasquilla, que estava no cargo há menos de um ano, não fez o mesmo, o que foi um “erro enorme”. “Os pais têm o direito de saber sempre que os seus filhos são expostos a temas e imagens controversas”, afirma Barney Bishop III, que diz ainda que a demissão da directora foi precipitada por “outros problemas”, tendo esta situação sido apenas a gota de água final.

Em declarações à NPR, Hope Carrasquilla explica que tinha escrito um email a notificar os pais sobre o estudo da estátua, mas a administração esqueceu-se de o enviar.

“Assumi que a carta tinha sido enviada e não verifiquei novamente. É responsabilidade minha ter a certeza que estas coisas acontecem, mas honestamente não tínhamos de enviar uma carta sobre arte renascentista”, explica.

A professora lamenta também a sua saída. “Tenho saudades dos professores, dos estudantes. Sentia que era suposto eu estar lá, tinha um propósito”, relata.

A escola reagiu ainda à situação com uma publicação no Facebook, explicitando que 97% dos pais inquiridos permitem o estudo da estátua, mas frisando que os 3% que recusam estão no seu direito.

“Sempre partilhamos David com os nossos alunos e continuaremos a fazê-lo. Seguiremos a nossa política e notificaremos os nossos pais com antecedência para que possam tomar a sua própria decisão se for a idade apropriada para seus filhos”, refere a escola.

“Confundir arte com pornografia é ridículo”

As notícias sobre o caso na escola chegaram aos ouvidos de Dario Nardella, o presidente da Câmara de Florença, cidade italiana onde está exposta a famosa estátua de Michelangelo na Galleria dell’Accademia.

No Twitter, o político italiano escreveu que “confundir arte com pornografia é ridículo” e convidou pessoalmente a ex-directora da escola a visitar Florença e ser reconhecida pela cidade. “Arte é civilização e quem a ensina merece respeito”, considera.

Esta polémica surge num contexto de “guerra” nas escolas na Flórida, devido às sucessivas leis que o Governador Ron DeSantis tem aprovado que proibem a educação sexual nas escolas e ainda a abordagem de temas como a desigualdade de género ou o racismo estrutural.

A situação tem levado a que manuais escolas sejam banidos e que os professores tenham de esconder livros dos alunos, havendo docentes a relatar sentir medo de ser detidos ou multados por alguma coisa que digam durante as aulas que possa violar as leis.

Adriana Peixoto, ZAP //

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2 Comments

  1. Mais um sinal da mentalidade medieval (e falsamente púdica) de muitos americanos. Nestas últimas décadas, nos EUA, tem-se assistido a um retrocesso civilizacional, que infelizmente pode facilmente alastrar ao resto do mundo. Esta gente, geralmente, mostra-se muito púdico e moralista, mas na sua privacidade fazem tanta ou mais porcaria como o resto.

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