Poderíamos transformar Marte numa outra Terra? Eis o que seria necessário

Os cientistas procuram soluções para terraformar Marte, de modo a que tenha vida como a Terra. Será isso possível? O que é necessário fazer?

Sven Bilén, professor e engenheiro, desenvolve tecnologias para estender a presença humana para além da Terra.

Atualmente, está a trabalhar em sistemas de propulsão avançados para levar as naves espaciais para além da órbita da Terra e está a ajudar a desenvolver tecnologias de construção lunar para apoiar o objetivo da NASA de uma presença humana a longo prazo na Lua e fez ainda parte de uma equipa que demonstrou como imprimir habitats em 3D em Marte.

Segundo o Singularity Hub, para que as pessoas possam sobreviver para além da Terra, os engenheiros e os cientistas já começaram a enfrentar muitos desafios. E existem quatro fatores importantes: comida, água, abrigo e ar.

Depois da Lua, o próximo local lógico para os Humanos viverem, para além da Terra, é Marte.

Mas será possível terraformar Marte? Ou seja, transformá-lo de modo a assemelhar-se à Terra e a suportar a vida? Ou serão estas apenas reflexões de ficção científica?

O engenheiro explica que para viver em Marte, os humanos precisam de água líquida, comida, abrigo e uma atmosfera com oxigénio suficiente para respirar e que seja suficientemente espessa para reter o calor e proteger da radiação solar.

Mas a atmosfera marciana é quase toda constituída por dióxido de carbono, praticamente sem oxigénio. E é muito fina — apenas cerca de 1% tão densa como a da Terra.

Quanto menos densa for uma atmosfera, menos calor consegue reter. A atmosfera da Terra é suficientemente densa para reter o calor necessário à manutenção da vida, através do chamado efeito de estufa.

Mas em Marte, a atmosfera é tão ténue que a temperatura noturna desce rotineiramente para -150 graus Fahrenheit (-101 graus Celsius).

Então, qual é a melhor maneira de dar uma atmosfera a Marte?

Embora Marte não tenha atualmente vulcões ativos — pelo menos tanto quanto se sabe — os cientistas poderiam desencadear erupções vulcânicas através de explosões nucleares. Os gases aprisionados nas profundezas do vulcão seriam libertados e depois arrastados para a atmosfera.

Mas este esquema é um “pouco absurdo” porque as explosões também introduziriam material radioativo mortal no ar.

Uma ideia melhor, segundo Bilén, seria redirecionar cometas e asteroides ricos em água para colidirem com Marte. Isso também libertaria gases da superfície do planeta para a atmosfera, ao mesmo tempo que libertaria a água encontrada nos cometas.

A NASA já demonstrou que é possível redirecionar asteroides, mas são necessários asteroides relativamente grandes e em grande quantidade, para fazer a diferença.

Também seria necessário tornar Marte mais acolhedor. Existem inúmeras formas de aquecer o Planeta. Por exemplo, espelhos gigantescos, construídos no espaço e colocados em órbita à volta de Marte, poderiam refletir a luz solar para a superfície e aquecê-la.

Um estudo recente propôs que os colonos de Marte espalhassem aerogel, um material sólido ultra-leve, no solo. O aerogel atuaria como isolamento e reteria o calor. Isto poderia ser feito em todo o planeta Marte, incluindo nas calotes polares, onde o aerogel poderia derreter o gelo existente para produzir água líquida.

Para cultivar alimentos, é necessário solo. Na Terra, o solo é composto por cinco ingredientes: minerais, matéria orgânica, organismos vivos, gases e água.

Mas Marte está coberto por um manto de material solto, semelhante a poeira, chamado regolito —”areia marciana” — que contém poucos nutrientes e alberga alguns químicos desagradáveis chamados percloratos.

Limpar o regolito e transformá-lo em algo viável não seria fácil. O que o solo alienígena precisa é de algum fertilizante marciano, talvez feito através da adição de extremófilos — micróbios resistentes importados da Terra que podem sobreviver mesmo nas condições mais adversas. Os organismos geneticamente modificados também são uma possibilidade.

Através da fotossíntese, estes organismos começariam a converter o dióxido de carbono em oxigénio. Eventualmente, à medida que Marte se tornasse mais amigável para organismos semelhantes aos da Terra, os colonos poderiam introduzir plantas mais complexas e até animais.

Fornecer oxigénio, água e alimentos nas proporções certas é extraordinariamente complexo. Na Terra, os cientistas tentaram simular esta situação na Biosfera 2, um ecossistema fechado que inclui habitats oceânicos, tropicais e desérticos.

Embora todos os ambientes da Biosfera 2 sejam controlados, mesmo aí os cientistas lutam para conseguir o equilíbrio correto.

Os edifícios poderiam ser impressos em 3D; inicialmente, teriam de ser pressurizados e protegidos até Marte adquirir temperaturas e ar semelhantes aos da Terra. O programa Moon-to-Mars Planetary Autonomous Construction Technologies da NASA está a investigar como fazer exatamente isto.

Há muitos mais desafios. Por exemplo, ao contrário da Terra, Marte não tem magnetosfera, que protege o Planeta do vento solar e da radiação cósmica. Sem um campo magnético, passa demasiada radiação para que os seres vivos se mantenham saudáveis. Há formas de criar um campo magnético, mas até agora a ciência é altamente especulativa.

Embora o dispositivo Genesis do Star Trek III pudesse terraformar um planeta numa questão de minutos, a terraformação de Marte levaria séculos ou mesmo milénios.

E há muitas questões éticas a resolver antes de se começar a transformar Marte numa outra Terra. Será correto fazer alterações tão drásticas e permanentes noutro planeta?

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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