Sim, através de um fenómeno conhecido como lente gravitacional poderá ser possível usar o Sol como um telescópio gigantesco para perscrutar o espaço.
Os telescópios atuais são já verdadeiras maravilhas da engenharia, oferecendo-nos vistas impressionantes do cosmos e dos primórdios do universo.
O famoso Telescópio Espacial James Webb (JWST), – com o seu espelho de 6,5 metros de diâmetro – consegue uma resolução 600 vezes melhor do que o olho humano.
O (outro famoso) Telescópio Event Horizon, por seu turno, ao combinar vários instrumentos espalhados pelo globo, conseguiu uma resolução de 20 microarcossegundos, captando incríveis imagens como, por exemplo, a de uma laranja na superfície da Lua.
Mas já pensou na possibilidade de termos acesso a um telescópio ainda mais poderoso, já existente e sem a necessidade de construção de uma superlente?
A proposta arrojada apresentada pela Space.com é a de um telescópio já existente: usar o próprio Sol como lente gravitacional.
Nem seria necessário um telescópio de maiores dimensões, com antenas gigantescas ou de redes de antenas a voar através do sistema solar. Basta o sol.
A lente gravitacional solar – baseada na teoria da relatividade geral de Einstein – poderia fornecer uma resolução incomparavelmente maior, utilizando a curvatura do espaço-tempo provocada pela massa do Sol.
Como explica a Space.com, embora o Sol possa não se parecer com uma lente ou espelho tradicional, tem muita massa. E na teoria da relatividade geral de Einstein, os objetos maciços dobram o espaço-tempo à sua volta. Ou seja, qualquer luz que roce a superfície do Sol é desviada e, em vez de continuar em linha reta, dirige-se para um ponto focal, juntamente com todas as outras luzes que roçam o Sol ao mesmo tempo.
Os astrónomos já usam a lente gravitacional para estudar as galáxias mais distantes do Universo. Quando a luz dessas galáxias passa perto de um aglomerad gigante de galáxias, a massa desse aglomerado amplifica a imagem de fundo, permitindo-nos ver muito mais longe do que normalmente poderíamos.
A “lente gravitacional solar” conduz a uma resolução quase inacreditavelmente elevada. É como se tivéssemos um espelho de telescópio com a largura de todo o Sol. Esta lente permitiria observar o Universo com uma precisão cerca de um milhão de vezes mais poderosa do que o Telescópio Event Horizon.
Se bem-sucedida, esta tecnologia permitiria observar exoplanetas próximos com uma resolução de um quilómetro, revelando detalhes inimagináveis.
No entanto, há desafios significativos. O ponto focal da lente gravitacional solar está localizado a 542 unidades astronómicas (UA) do Sol. Enviar uma nave espacial para essa distância exigiria avanços sem precedentes em tecnologia de propulsão e autonomia.
Além disso, como explica a Space.com, as imagens capturadas estariam dispersas por uma vasta área, exigindo a construção de mosaicos detalhados.
“Embora possa parecer estranho, o conceito não está muito longe da realidade (…) Dizer que seria melhor do que qualquer telescópio conhecido é um eufemismo. Seria melhor do que qualquer telescópio que pudéssemos construir em qualquer futuro possível durante as próximas centenas de anos. O telescópio já existe – só temos de colocar uma câmara na posição correta”, conclui o especialista e autor do artigo original Paul Sutter.